Panorama internacional

'Brasil acerta em querer presença de Putin na Cúpula do G20', avalia especialista

Em entrevista publicada nesta segunda-feira (18), o assessor especial da Presidência, o embaixador Celso Amorim, afirmou que o Brasil quer a presença de Vladimir Putin para a Cúpula do G20 e que a ausência da Rússia torna a conferência incompleta. Para especialista, a posição do emissário é correta.
Sputnik
"O Celso Amorim está falando a verdade. Qualquer reunião que envolva blocos internacionais sem a Rússia não tem exatamente muito sentido", afirmou Fred Leite Siqueira Campos, professor e pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Rússia (Prorus).
O Rio de Janeiro será a sede do próximo encontro dos líderes das 20 maiores economias do mundo, além da União Europeia (UE) e da União Africana. As reuniões ocorrerão em novembro de 2024 na capital fluminense. O Brasil assumiu a presidência do grupo em dezembro deste ano.
Amorim concedeu uma entrevista ao UOL ressaltando a importância da Rússia e considera que a ausência do país torna a conferência incompleta.

"Nós queremos que Putin venha. Uma conferência do G20 sem a Rússia é uma conferência incompleta. Se formos falar de temas como reforma da governança global, como ignorar a Rússia? A Rússia é um ator necessário. Sua ausência vai contra o interesse do G20", afirmou o diplomata.

A participação de Putin na Cúpula do G20, que será sediada no Brasil no segundo semestre de 2024, ainda não é certa.
Uma eventual presença de Putin na Cúpula do G20, além de sua genuína importância de representação para o Sul Global, conforme afirmou o professor, demonstrará ao mundo uma posição firme por parte do Brasil.
"Espero que o governo brasileiro tenha pulso o suficiente para fazer com que a sua vontade seja colocada na ordem do dia e em prática."
Por outro lado, Siqueira Campos admite que bancar a posição não será tarefa fácil. "Não podemos ser ingênuos o suficiente para não perceber que o assim chamado Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, vai pressionar de maneira violenta e certamente até vai fazer protestos e tudo mais, mas o mundo é assim mesmo."
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Qual a relação do Brasil com a Rússia?

Fred Leite Siqueira Campos nota que, ao longo da última meia década, talvez um pouco mais, a posição do Brasil é independente em relação ao posicionamento russo.
"Se você pegar os países do BRICS, o país menos alinhado às questões relacionadas à Rússia foi o Brasil", disse Siqueira Campos.
Isso acontece, segundo o pesquisador, porque entre todos os países que compõem o BRICS, o Brasil é o país mais dependente política e economicamente dos países do Ocidente.

"De certa forma, isso fragiliza muito o Brasil, digamos assim. Tentar ter uma política independente em relação ao Ocidente, por causa dessa dependência, que não é uma dependência também de hoje, mas uma dependência histórica. O Brasil se constituiu como nação já nascendo dependente do Ocidente."

A dependência citada pelo professor é um dos percalços para o Brasil se colocar de maneira mais independente no cenário internacional.
Para mitigar essa dificuldade, Siqueira Campos sugere uma "aproximação verdadeira" em termos econômicos, políticos, tecnológicos com os países do BRICS — inclusive contando com os países que vão compor o bloco expandido.

"O Brasil é o que mais tem a ganhar em termos de uma cooperação Sul-Sul. O Brasil tem muitas fragilidades nas quais China e Rússia, em especial, podem certamente ser parceiros importantes nesse processo de desenvolvimento da economia nacional, de desenvolvimento da soberania nacional brasileira", afirmou.

Já a postura neutra do Brasil em relação aos assuntos globais que interessam à Rússia é vista como um aspecto positivo pelo pesquisador. "A postura brasileira no cenário internacional é, historicamente, uma postura de ser mediador, de sempre buscar a paz, de não tomar, ao menos explicitamente, nenhum lado. Isso tem sido a tônica, entre aspas, desde sempre da política externa brasileira."
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Rússia na Cúpula do G20

Para Siqueira Campos, a presença russa, de uma maneira ou de outra, deve acontecer por conta da relevância do país.
Segundo ele, quaisquer discussões sem a presença da Rússia inviabilizariam avanços sobre o assunto nas relações internacionais.
Como a Rússia é um ator importante no cenário, o professor acredita que, caso Putin não venha, o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, ou outro representante do alto escalão do governo russo deverá comparecer à Cúpula.
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