Panorama internacional

EUA querem substituir papel da Rússia na Transcaucásia, diz analista

A visita de dois grandes nomes da política externa dos EUA, Samantha Power e Yuri Kim, à Armênia demonstra o objetivo dos norte-americanos de aumentar sua influência na região, afirmou o analista Konstantin Tasits à Sputnik.
Sputnik
Na última segunda-feira (25), a chefe da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID), Samantha Power, e a secretária de Estado adjunto dos EUA para Assuntos Europeus e Eurasiáticos, Yuri Kim, desembarcaram em Yerevan para expressar a disponibilidade dos Estados Unidos na solução da crise de Nagorno-Karabakh.
A prontidão dos EUA foi formalizada através de uma carta entregue ao Gabinete de Ministros armênio.

"Os Estados Unidos continuarão a apoiar a Armênia nos seus esforços para fortalecer a democracia do país e estabelecer a estabilidade na sua região. Continuaremos também a reforçar a nossa cooperação na diversificação energética, na estabilidade e na segurança, como evidenciado pelos nossos recentes exercícios militares", disse o documento.

Para Konstantin Tasits, especialista na região da Transcaucásia, a visita e a carta apontam para uma tentativa dos EUA de substituir o papel da Rússia na região.
"Um dos principais objetivos da visita é apoiar Pashinyan [Nikol Pashinyan, primeiro-ministro da Armênia], porque parte da sociedade armênia o culpa pelo que aconteceu em Nagorno-Karabakh."
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Com mediação das forças de paz russas, é alcançado acordo de fim de hostilidades em Nagorno-Karabakh

Pashinyan enfrenta protestos por acordo de paz

O acordo de paz firmado pela Armênia e pelo Azerbaijão sobre a região de Nagorno-Karabakh foi alvo de críticas e protestos por cidadãos armênios nos últimos dias. Muitos pedem a renúncia do primeiro-ministro.
Nesse sentido, a visita dos diplomatas americanos vem como um reforço político a Pashinyan, aponta Tasits. "Outro objetivo é apresentar os Estados Unidos como uma espécie de fiador, um país que dá apoio à Armênia."
Semyon Bagdasarov, cientista político e diretor do Centro de Estudos do Oriente Médio e Ásia Central, também vê na aproximação americana um respaldo ao governo de Pashinyan.

"O fato de essas autoridades americanas terem trazido uma carta de [Joe] Biden para Pashinyan deliberadamente mostra o apoio dos EUA a este homem no contexto de comícios antigovernamentais em Yerevan."

EUA querem minar presença russa na Armênia

Mais do que apoiar o governo atual, Tasits destacou que o principal objetivo dos EUA é garantir a redução da presença russa na região da Transcaucásia.

"A posição dos Estados Unidos é garantir rapidamente o acordo de paz com o Azerbaijão. Desse modo não serão necessárias garantias externas de segurança adicionais. Isso significa, provavelmente, o fim da participação do país na OTSC [Organização do Tratado de Segurança Coletiva] e o fim das bases militares russas."

Bagdasarov vê na reaproximação dos EUA com a Armênia neste momento um reforço do ponto de vista americano de "sentir-se mestre" do país transcaucásio.

"Não é à toa que a embaixada dos EUA lá é a maior do mundo em termos de território e, em termos de número de pessoal, fica em segundo lugar no mundo. Eles há muito se sentem como mestres lá, e Pashinyan, quando veio ao poder em 2018, já era uma marionete."

Contudo, Bagdasarov percebe na presença americana uma tentativa de invalidar o acordo de paz e estimular ainda mais o conflito. "A administração do presidente Biden parece estar estimulando Pashinyan. Suspeito que haverá uma tentativa de denunciar o acordo de paz sobre a presença de forças de paz russas na base aérea de Erebuni", disse.
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'Império da desavença': EUA tentam atingir Moscou incentivando novo conflito em Nagorno-Karabakh
Nagorno-Karabakh é uma região na Transcaucásia. A esmagadora maioria da população é armênia.
Em 1923, a região recebeu o status de região autônoma dentro da República Socialista Soviética do Azerbaijão. Em 1988, começou em Nagorno-Karabakh um movimento de reunificação com a Armênia. Em 2 de setembro de 1991, o Azerbaijão proclamou a sua independência, e o nome da região autônoma mudou para República de Nagorno-Karabakh. De 1992 a 1994, o Azerbaijão tentou assumir o controle da autoproclamada república. Nessa ação militar de grande escala morreram cerca de 30 mil pessoas.
Em 1994, as partes concordaram em estabelecer um cessar-fogo, mas o status do território nunca foi determinado. No final de setembro de 2020, os combates recomeçaram em Nagorno-Karabakh. Na noite de 10 de novembro, o Azerbaijão e a Armênia, com o apoio de Moscou, chegaram a um acordo para cessar completamente as hostilidades, permanecendo nas posições ocupadas, trocar prisioneiros e os corpos dos mortos. Na região foram implantadas forças de paz russas, inclusive no corredor de Lachin.
No ano passado, Yerevan e Baku, com a mediação de Rússia, EUA e União Europeia, iniciaram discussões sobre um futuro acordo de paz. No final de maio deste ano, o premiê armênio, Nikol Pashinyan, disse que seu país estava pronto para reconhecer a soberania do Azerbaijão nas fronteiras soviéticas, ou seja, junto com Nagorno-Karabakh. Em setembro, o presidente russo, Vladimir Putin, chamou a atenção para o fato de que a liderança armênia, em essência, havia reconhecido a soberania do Azerbaijão sobre Nagorno-Karabakh. O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliev, disse que Baku e Yerevan podem assinar um acordo de paz antes do final do ano, a menos que a Armênia mude sua posição.
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