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Em busca de armar Ucrânia, indústria militar dos EUA expõe suas fendas, diz WP

O conflito ucraniano expôs problemas profundamente enraizados na indústria de defesa dos EUA e dos países ocidentais, que agora estão tentando os superar a fim de produzir as armas necessárias não só para ajudar seus aliados, mas também para autodefesa, escreve o jornal The Washington Post.
Sputnik

Problemas norte-americanos

De acordo com o artigo, apesar de ter o maior orçamento militar da história humana – mais de US$ 800 bilhões (R$ 4,116 trilhões) – os Estados Unidos lutam há muito tempo para estabelecer um sistema eficaz de desenvolvimento e produção de armas.
Mas não está claro quantos mais gastos militares, que já representam mais de 3% do PIB, os americanos vão suportar em uma era de inflação e tensão econômica.

"Mesmo quando o apoio público às enormes quantidades de ajuda fornecidas à Ucrânia está diminuindo e causa mais controvérsia, o conflito provocou uma conversa mais ampla sobre a necessidade de erradicar o que líderes militares chamam de 'fragilidade' da indústria de defesa dos EUA e desenvolver novos meios para aumentar rapidamente a produção de armas em tempos de crise", diz o artigo.

Pesquisas conduzidas pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS na sigla em inglês), citadas no artigo, mostram que a produção atual das fábricas estadunidenses pode ser insuficiente para evitar o esgotamento das armas que os Estados Unidos fornecem à Ucrânia.
"Mesmo com taxas de produção aceleradas, é provável que leve pelo menos vários anos para recuperar o inventário de mísseis Javelin antitanque, mísseis Stinger terra-ar e outros itens em demanda," afirma a edição.
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Entretanto, o reabastecimento de armas como mísseis guiados, aeronaves e drones de combate vai levar 15 anos em tempo de paz e mais de oito anos em tempo de guerra.
Observa-se que, desde o início da administração Biden, a ajuda militar norte-americana chegou a uns espantosos US$ 30 bilhões (R$ 154,4 bilhões), financiando tudo, desde óculos de visão noturna até tanques Abrams.
Grande parte do armamento foi retirada dos estoques do Pentágono. Outros sistemas devem ser produzidos nas fábricas dos EUA.
Segundo militares da Ucrânia, as forças ucranianas disparam uma média de 7,7 mil projéteis por dia, muito acima do nível de produção americana antes do conflito, de 14 mil projéteis de 155 mm por mês, enfatiza o artigo.
De acordo com a empresa de defesa Raytheon, nos primeiros oito meses desde o início do conflito, as tropas ucranianas utilizaram a produção de 13 anos de mísseis antiaéreos Stinger e de cinco anos de mísseis Javelin.

"O que o conflito na Ucrânia mostrou é que, na verdade, nossa base industrial de defesa não estava no nível que precisávamos para gerar munições", disse o subsecretário de Defesa dos EUA Colin Kahl na semana passada no Congresso.

Os autores afirmam também que vai levar de dez até 45 anos para substituir a frota de helicópteros, aviões e navios com novos tipos de tecnologia.
A própria análise do Pentágono sobre o setor de defesa dos EUA mostra que a indústria está mal equipada para corresponder à capacidade produtiva.
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A situação na Europa

Na Europa, os problemas são igualmente graves, ressalta o artigo.
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) Jens Stoltenberg advertiu em fevereiro que o tempo de espera para armas de grande calibre mais do que triplicou, o que significa que os itens encomendados agora não serão entregues por mais de dois anos.
Na Alemanha, em meio a planos para uma drástica expansão militar, se acredita que seu suprimento de munições seja suficiente para dois dias de combate.
As forças britânicas também estão sofrendo com a escassez de novos equipamentos, pessoal e produção de munições.
"Na Ucrânia, a escassez de munição é existencial. As tropas ucranianas, mergulhadas em batalhas brutais com os militares russos, dizem que têm que distribuir munições de artilharia porque recebem muito menos do que precisam".
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Planos de longo alcance

O Exército dos EUA planeja agora aumentar sua capacidade mensal de produção de projéteis de 155 mm de cerca de 14 mil agora para 30 mil nesta primavera no Hemisfério Norte, e posteriormente para 90 mil. Os militares também planejam duplicar a produção de Javelin para cerca de quatro mil por ano.
Além disso, eles assinaram recentemente um contrato de US$ 1,2 bilhão (R$ 6,18 bilhões) com a Raytheon para construir mais seis unidades de sistemas avançados de defesa antiaérea, que são utilizados no conflito na Ucrânia. Mas se enfatiza que eles só estarão prontos daqui a dois anos.

"O conflito ucraniano também nos deu algumas ideias para o que precisamos olhar quando se trata de Taiwan e da China, porque vimos a necessidade de aumentar [a capacidade de defesa]", disse Kea Matory, diretora de política legislativa da Associação Industrial de Defesa Nacional. "Portanto, esta é uma boa oportunidade de aprendizado para nós."

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