Panorama internacional

Zelensky subserviente e tentativa ocidental de enfraquecer Rússia minaram negociações, diz analista

Naftali Bennett, ex-primeiro-ministro de Israel, revelou no último domingo (5) que intermediou um contato entre o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o da Ucrânia, Vladimir Zelensky, em que o mandatário russo garantiu que eliminar o líder do regime ucraniano não estava nos planos da operação especial lançada em fevereiro de 2022.
Sputnik
Segundo Bennett, tal promessa foi prontamente compartilhada com Zelensky, que então decidiu deixar um bunker onde estava escondido para voltar ao seu gabinete. Pouco depois do ocorrido, no entanto, as negociações entre Rússia e Ucrânia, que vinham avançando, foram interrompidas pelo Ocidente. Nesta segunda-feira (6), o Kremlin confirmou a conversa de Putin com Bennett.

"Todas as minhas ações foram coordenadas nos mínimos detalhes com os EUA, com a Alemanha e com a França. [...] Eles interromperam as negociações", afirmou Bennett.

Para Valdir Bezerra, pesquisador do Grupo de Estudos sobre os BRICS (GEBRICS) da Universidade de São Paulo (USP), há uma relação direta do aumento da participação — direta e indireta — do Ocidente no conflito com o enfraquecimento dos mecanismos de diálogo. O pesquisador aponta que o reforço da ajuda militar à Ucrânia fez a disposição de Zelensky em negociar com a Rússia diminuir.
O ex-líder israelense destacou que antes de o Ocidente interromper as negociações entre a Rússia e a Ucrânia, tinham sido elaborados pelo menos 17 rascunhos do acordo entre as partes.

"Naquele momento, ainda no começo do conflito, a ajuda ocidental à Ucrânia mostrava-se bastante comedida, o que tornava Zelensky mais propenso a uma negociação com a Rússia. Vale lembrar que Zelensky em algumas ocasiões mostrou-se de fato disposto a sentar-se com Vladimir Putin para entender melhor as demandas russas. Contudo, conforme o conflito foi se estendendo e conforme o Ocidente foi se encorajando a aumentar sua participação direta e indireta no campo de batalha, a disposição de Zelensky em negociar foi sendo paulatinamente minada, culminando, por exemplo, nas inúmeras acusações que o presidente ucraniano começou a direcionar contra Vladimir Putin."

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Para o especialista, o interesse geopolítico principal do Ocidente com o conflito é o de tentar "enfraquecer a posição da Rússia na região e ao mesmo tempo fortalecer a posição americana e europeia no espaço pós-soviético".
"A Rússia é uma potência terrestre com preocupações de segurança que envolvem justamente as suas fronteiras ocidentais (onde hoje se encontram Belarus e Ucrânia). Não por acaso, quando Putin chegou à presidência, ele sugeria uma arquitetura comum de segurança para todo o continente europeu, mas o que acabou acontecendo foi que o Ocidente seguiu por um outro caminho, baseado em sua interpretação unilateral de que a segurança europeia poderia ser alcançada sem levar necessariamente em conta as ansiedades da Rússia frente à expansão da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte]", explicou.

"A manutenção do conflito, em resumo, representa a intenção de fazer prevalecer essa versão hegemônica do Ocidente no Leste Europeu em detrimento das ansiedades russas."

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Questionado sobre as motivações de Zelensky para seguir a agenda ocidental e manter a Ucrânia em conflito com a Rússia mesmo diante das baixas que o país sofre, Bezerra acredita que Kiev tem esperanças de se beneficiar de um eventual apoio financeiro de reconstrução bancado pelo Ocidente nos moldes do Plano Marshall — que reestruturou a Europa no pós-guerra. Para o especialista, isso explica a subserviência ucraniana.

"A liderança ucraniana, representada por Zelensky, guarda esperanças de receber o apoio financeiro do Ocidente, aos moldes de um 'Plano Marshall 2.0', para reconstrução do país no futuro. Outro fator pode ter relação com sua intenção de posicionar a Ucrânia de maneira definitiva debaixo do 'guarda-chuva' de proteção dos Estados Unidos, o que implica naturalmente em uma política doméstica e externa mais subserviente e, portanto, mais propensa a seguir a agenda e os interesses dos americanos e europeus."

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