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Crescimento comercial Rússia–Brasil continuará em 2023: Putin se articulará com Lula, diz analista

Apesar da pressão dos EUA e da União Europeia (UE) para que o governo brasileiro se junte às sanções ocidentais de supressão à economia russa, ao fim deste ano a Rússia quase dobrou suas exportações para o Brasil. Em análise para a Sputnik Brasil, especialista projeta crescimento da relação e vantagens para o setor militar brasileiro.
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Embora enfrente um dos maiores pacotes de sanções da história, a Rússia registrou um aumento de 95% nas exportações para o Brasil entre janeiro e julho de 2022. A importação brasileira de produtos russos fez a Rússia saltar do 12º para o 5º principal exportador do Brasil.
Dados do governo da Rússia atestam que o faturamento comercial com o Brasil teve crescimento de 47% se comparado com o do mesmo período de 2021, totalizando US$ 6 bilhões (cerca de R$ 30 bilhões). As exportações e importações aumentaram em 68% e as importações originárias do Brasil cresceram 11%.
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Jair Bolsonaro (à esquerda), presidente do Brasil, e Vladimir Putin, presidente da Rússia, durante encontro oficial no Kremlin. Rússia, 16 de fevereiro de 2022

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Vladimir Putin e a então presidente do Brasil, Dilma Rousseff, durante reunião no âmbito da cúpula do BRICS em Ufa, na Rússia

Conforme explicou a pesquisadora Nathana Garcez Portugal, doutoranda em relações internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas, Moscou e Brasília estão debatendo há meses o estreitamento desses laços econômicos, "considerados estratégicos pelos dois países".
Segundo ela, o aumento do comércio entre os países deverá continuar em 2023, indicando uma tendência geopolítica que deve se fortalecer nas próximas décadas: a independência da política externa brasileira com relação aos EUA e uma aproximação das economias emergentes, como a Rússia, sobretudo com foco nos setores de defesa e de energia.
Em Santos, no estado brasileiro de São Paulo, homem observa cargueiro proveniente de Hong Kong sendo rebocado pelo canal do Porto de Santos, em 17 de setembro de 2021
Ela relembrou algumas declarações conjuntas assinadas pelos países e por empresários brasileiros e russos ao longo deste ano, com "bons projetos para estreitar essa cooperação". Como exemplo, ela citou acordos feitos nos setores de agricultura, meio ambiente, defesa, cultura e tecnologia e enfatizou os benefícios garantidos pelo governo do Brasil a partir da compra de fertilizantes russos.

"A perspectiva é buscar o estreitamento, o reforço da cooperação, mesmo a partir do governo [Luiz Inácio] Lula [da Silva, presidente eleito do Brasil], dado que [Vladimir] Putin [presidente da Rússia] sempre mostrou capacidade de se articular tanto com [Jair] Bolsonaro [atual presidente do Brasil] quanto com Lula", comentou.

Fertilizantes russos nas plantações brasileiras

A Rússia é um dos maiores fornecedores globais de adubos e fertilizantes, que são dois dos principais produtos importados pelo Brasil. Neste primeiro quadrimestre, adubos e fertilizantes russos corresponderam a 70% das operações brasileiras. Com isso, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimou que o maior nível de produção do país foi atingido durante o mês de julho, com a safra brasileira de 2022 atingindo recordes históricos.
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Enquanto isso, as exportações brasileiras para a Rússia tiveram alta de 81,3% apenas no primeiro quadrimestre do ano. Produtos agrícolas foram os principais destaques, sendo 32% equivalentes a soja, 20% a açúcares e melaços e 7,6% a café não torrado.
O próprio presidente brasileiro, em maio, fez uma série de publicações em suas redes para celebrar a continuidade do abastecimento de fertilizantes russos ao Brasil. Jair Bolsonaro chegou a dizer que o setor agrícola brasileiro "temia não conseguir fertilizantes suficientes por causa das sanções" contra Moscou, mas que, graças a sua ida à Rússia em fevereiro, o país recebeu quantidade do produto a tempo para a "próxima safra da soja".
Durante sua visita a Moscou, de 15 a 17 de fevereiro, Bolsonaro classificou a relação do Brasil com o Estado russo de um "casamento perfeito" e elogiou Vladimir Putin, dizendo que ele "busca a paz". Além disso, o mandatário brasileiro afirmou que a neutralidade do Brasil com relação à operação militar russa na Ucrânia garantiria o abastecimento de fertilizantes ao país.
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Nathana Garcez Portugal aponta que além de questões envolvendo a agricultura e o plantio, ambos os países "são grandes produtores energéticos e consumidores" e que o desenvolvimento de novos acordos no âmbito de energia devem ganhar força nos próximos anos.

"É importante contextualizar que o Brasil importou cerca de 15% a mais de diesel da Rússia, e isso é um aumento expressivo, não só pelo valor, mas pelas condições impostas pelos russos, com valores de compra mais baratos, o que solidificou a relação entre os países", disse ela.

Com isso, no entendimento da pesquisadora, ocorreu a abertura de uma janela de oportunidade para Brasil e Rússia: o governo brasileiro "acaba aproveitando desse momento, de diversificação dos parceiros econômicos da Rússia, que também é importante para Moscou, para conseguir diesel a valores mais interessantes".

Tecnologia nuclear russa no Brasil

Enquanto a Rússia se tornou o quinto maior exportador do Brasil, assumindo protagonismo comercial na venda de fertilizantes e diesel, a Ucrânia ocupa apenas a posição 64 no ranking de importações brasileiras em 2021, e 76 dos destinos das exportações brasileiras. Com o início do conflito com a Rússia, o governo ucraniano viu o desmoronamento de suas trocas com a maior economia da América Latina.
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Nathana Garcez Portugal avalia que "o Brasil tem uma postura neutra, e é possível dizer que o estabelecimento de sanções mais rigorosas por parte da UE e dos EUA já passou, ainda que existam tentativas de emplacar um teto para o petróleo russo".
Por outro lado, para a analista, justamente pelo fato de o Itamaraty ter adotado uma postura mais neutra, também não deveria haver muitos entraves para o comércio com a Ucrânia, embora o cenário atual seja apenas de tratativas.
Nesse sentido, ela aponta que as relações econômicas bilaterais entre Moscou e Brasília são "sustentadas por uma cooperação bem-sucedida a partir do BRICS", que conta ainda com a possibilidade de nova guinada com a entrada de novos membros. Por essa razão, também estão ocorrendo diversas conversas entre os dois governos para fortalecer o setor energético.
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Ela explica que, ao longo do governo de Jair Bolsonaro, empresas brasileiras e russas assinaram uma série de tratados e memorandos de entendimento para alavancar a pesquisa nuclear no Brasil. Ela relembrou o memorando firmado entre a Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional S.A. (Enbpar, empresa dirigente da estatal Eletrobras Eletronuclear) e a Rosatom, a estatal nuclear russa, para facilitar ações de transferência tecnológica, como reparos e modernização de usinas nucleares e até mesmo hidrelétricas.

"Ela [essa parceria] acaba atingindo diversos setores do parque energético do Brasil, e isso foi um fator para promover essa aproximação comercial entre os dois países", comentou.

Além disso, disse ela, "é importante frisar que já existem parcerias nas áreas de tecnologia e conhecimento científico", principalmente "dentro do setor de defesa e tecnologia militar". Para Nathana Garcez, "são áreas correlatas, que podem ser desenvolvidas sem depender do Ocidente e nas quais a Rússia tem experiência".

"Cabe destacar que o Brasil enviou um nanossatélite brasileiro a partir de um foguete russo da Roscosmos [a agência espacial russa], que será fundamental para o conhecimento tecnológico do Brasil, em segmentos como geografia, engenharia e outras ciências espaciais", concluiu.

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