Panorama internacional

Sem gás russo, UE vai se tornar dependente do gás de fratura hidráulica dos EUA, alerta estudo

Moscou advertiu repetidamente as nações europeias que a decisão de se desligar da energia russa significaria o colapso de setores inteiros da economia da União Europeia (UE). Na sexta-feira (30), o presidente Vladimir Putin acusou os autores dos ataques ao Nord Stream de embarcar "na destruição de toda a infraestrutura energética da Europa".
Sputnik
Sem o gás russo, a dependência da Europa em relação à América está praticamente garantida, indicou o observador de negócios da Welt, Daniel Wetzel.
Em seu recente artigo explorando a precária situação energética da UE, Wetzel destacou que a margem de manobra do bloco é extremamente limitada quando se trata de encontrar grandes quantidades de gás a preços razoáveis para substituir os tradicionalmente fornecidos pela Rússia.
O observador citou um estudo recentemente encomendado pela associação alemã da indústria de gás Zukunft Gas pelo Instituto de Economia de Energia da Universidade de Colônia, que modelou cenários para a demanda de gás da Europa e a capacidade de entrega de países fora da região.
O estudo descobriu que, a longo prazo, o aumento das importações de países como Noruega, Azerbaijão e Argélia só poderia absorver a demanda por um curto período, com apenas os Estados Unidos desfrutando da capacidade de fornecer à Europa a energia necessária com seu gás derivado de fratura hidráulica, por um preço considerável.
Em 2021, a Rússia entregou cerca de 150 bilhões de metros cúbicos de gás a clientes europeus por meio de dutos terrestres e submarinos e outros 18 bilhões de metros cúbicos na forma de gás natural liquefeito (GNL).
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Comparativamente, o gasoduto Baltic Pipe (Duto do Báltico) que transporta gás do setor norueguês do mar do Norte para a Polônia via Dinamarca tem capacidade para bombear apenas 10 bilhões de metros cúbicos por ano (m3/a), enquanto o gasoduto Transanatólio que vai do oeste do Azerbaijão através da Turquia pode enviar 16 bilhões de m3/a, com parte desse gás permanecendo na Turquia. O gasoduto TransMed que fornece gás argelino para a Europa pode bombear até 32 bilhões de m3/a via Itália, enquanto o gasoduto Medgaz pode transportar outros 8 bilhões m3/a.
O estudo da Zukunft Gas calcula que a substituição do gás russo por suprimentos baseados em gasodutos noruegueses, azerbaijano e argelinos seria capaz de saciar apenas 25% da demanda de gás natural da Europa, o que significa que apenas Washington poderia fornecer o restante dos suprimentos na forma de GNL. O relatório estima que as exportações dos EUA saltem até seis vezes, de 22 bilhões de m3/a em 2021 para 136 bilhões até o final da década. Tal salto resultaria em uma participação de 40% dos EUA no mercado de gás europeu, aproximadamente a mesma participação que a Rússia tinha até este ano.
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"Isso não é um bom presságio para a estratégia de diversificação da Comissão Europeia", sublinhou Wetzel lembrando que Bruxelas esperava "criar um grande número de relações alternativas de fornecimento para permitir que fosse mais flexível no futuro quando se tratasse de compras e preços negociações."
No entanto, com fontes norueguesas, argelinas e azerbaijano esgotadas, e a capacidade de exportação nigeriana, israelense, egípcia, trinitária e senegalesa por aumentar apenas marginalmente, Bruxelas não vai ter outra escolha a não ser aceitar o "caloroso abraço" de seus parceiros norte-americanos.
Além disso, a Europa não é a única entidade "sedenta" por energia no panorama internacional, com o vasto reservatório de gás do Campo Norte na costa do Catarquase inteiramente reservado em contratos de longo prazo por países asiáticos, embora a produção não deva começar até 2026.
Em última análise, o estudo da Zukunft Gas espera que os preços permaneçam 400% acima de seus níveis pré-crise até 2026, e que o bloco atinja os níveis de preços de 2018 apenas até 2030 – e mesmo assim, somente se as nações puderem reduzir seu consumo em 20% por meio de eficiência administrativa e fontes alternativas de energia.
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Alerta russo

Moscou alertou repetidamente as nações europeias sobre as consequências de seu esforço "suicida" para rejeitar o fornecimento de energia russo, apontando para o impacto que isso teria na competitividade das indústrias da UE em relação aos EUA e à China.
No mês passado, o presidente russo, Vladimir Putin, reiterou que a Rússia estava pronta para ativar o Nord Stream 1 e 2 (Corrente do Norte 1 e 2) e sua capacidade de 110 bilhões de m3/a a qualquer momento caso a Europa decidisse retirar suas sanções. "Basta simplesmente apertar um botão. Mas não fomos nós que impusemos sanções ao Nord Stream 2. [A Europa] o fez sob pressão dos EUA. E por que os [norte] americanos estão pressionando os europeus? Porque eles mesmos querem vender o último [metro cúbico de] gás por três vezes o preço", disse Putin.
Na sexta-feira, em um discurso durante a cerimônia que marcou a adesão do Donbass, Kherson e Zaporozhie à Federação da Rússia, Putin acusou os EUA e seus aliados de dar um passo além das sanções para minar a segurança energética da Europa ao sabotar o Nord Stream.
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