Panorama internacional

Posição da Turquia sobre Rússia irrita Biden apesar de acordo sobre grãos ucranianos, diz mídia

The New York Times (NYT) descreveu o líder turco Recep Tayyip Erdogan como uma "dor de cabeça" para Washington, mesmo com o envolvimento de Ancara na mediação de um acordo para o transporte dos grãos ucranianos.
Sputnik
A Turquia continua a ser "uma fonte de irritação substancial" para o governo do presidente dos EUA, Joe Biden, informou a mídia norte-americana. De acordo com o veículo, a posição de Ancara sobre a crise na Ucrânia faz parte de uma gama mais ampla de questões.
O envolvimento de Ancara no acordo mediado pela ONU há alguns dias entre Moscou e Kiev sobre as exportações de grãos ucranianos foi bem recebido por Washington, mas não significa que todos os problemas nas relações EUA-Turquia foram resolvidos, alertou a mídia em seu artigo de sábado (23). O presidente turco Recep Tayyip Erdogan foi descrito nele como uma "dor de cabeça" e "uma fonte de irritação substancial" para Washington.
O NYT citou o representante da Câmara dos Representantes dos EUA, Chris Pappas (Democrata-New Hampshire), que afirmou que "a Turquia jogou nos dois lados da cerca na Ucrânia. Eles não foram o aliado confiável com o qual deveríamos contar".
"Acho que o governo Biden precisa ter uma postura mais forte", insistiu Pappas.
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Ancara, membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), condenou a operação militar especial de Moscou na Ucrânia e forneceu às forças de Kiev seus drones Bayraktar, mas ao mesmo tempo se recusou a aderir às sanções internacionais contra a Rússia e continuou lidando com o país.
Na terça-feira (19), o presidente turco visitou Teerã para conversar com seus colegas iranianos e russos, Ebrahim Raisi e Vladimir Putin, mas, de acordo com o jornal, analistas apontam que "as imagens de dois dos principais rivais americanos com Erdogan, líder de um país da OTAN, colidiram com a narrativa ocidental de um Irã e uma Rússia profundamente isolados".
Outro ponto de discórdia entre os EUA e a Turquia é o aviso renovado de Ancara nesta semana de que vai bloquear a adesão da Finlândia e da Suécia ao bloco da OTAN liderado pelos EUA se as duas nações nórdicas não cumprirem sua promessa de extraditar membros de grupos curdos (do PKK) que a Turquia considera terroristas. Ao usar seu poder de veto, Erdogan "envergonharia profundamente a aliança e o governo Biden enquanto eles trabalham para combater a Rússia", alerta o artigo.
O líder turco pode estar especialmente inclinado a anular os pedidos de Helsinque e Estocolmo, porque parece improvável que o Congresso permita que Biden cumpra sua promessa de vender caças F-16 para Ancara, acrescentou.
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A Turquia está interessada nesses aviões depois que o governo anterior de Donald Trump impediu o país de obter caças F-35 em resposta à decisão do país de se armar com sistemas de mísseis antiaéreos S-400 Triumph, fabricados na Rússia.
Ancara tem outras queixas contra Washington sobre, entre outras coisas, a relutância dos EUA em entregar o clérigo exilado Fethullah Gulen, acusado de planejar um golpe militar fracassado na Turquia em 2016, e sobre o apoio norte-americano aos combatentes curdos na Síria. Os curdos ajudaram os EUA a combater o Daesh (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países), mas as autoridades turcas os veem como uma grande ameaça à segurança.
Os EUA estão seriamente preocupados com os planos da Turquia de invadir as áreas curdas no norte da Síria, já que o Daesh pode tirar proveito dessa medida, apontou o NYT, citando uma declaração da vice-secretária assistente de Defesa, Dana Stroul.
Erdogan está "em nossa equipe, mas então ele faz coisas que claramente não são boas para nossa equipe. E eu simplesmente não vejo isso mudando", disse a ex-funcionária do serviço estrangeiro Elizabeth Shackelford ao jornal.
Mas, de acordo com funcionários anônimos do governo Biden que conversaram com a mídia, seria "autodestrutivo" para Washington descartar completamente o líder turco, porque "a posição de sua nação na encruzilhada do Oriente e do Ocidente é estrategicamente importante e permite que ele seja um interlocutor com vizinhos ainda mais problemáticos".
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