Panorama internacional

Era do petróleo caro veio para ficar, diz Bloomberg

Mesmo agora, quando os preços têm caído ao recorde de baixa de três meses, o mundo ainda está lutando para produzir todo o petróleo de que precisa, o que vai influenciar a economia mundial de forma significativa, diz a agência de notícias Bloomberg.
Sputnik
Em 6 de julho, o preço mundial do petróleo pela primeira vez desde abril ficou inferior a US$ 100 (R$ 544) por barril, o que alimentou as esperanças de políticos, empresários e motoristas por todo o mundo de que os dias de altos preços do combustível estavam chegando ao fim. Mesmo assim, "ainda não estamos nesta época", acredita a Bloomberg.

"De fato, a dinâmica de procura e oferta do petróleo, que temos testemunhado, indica um longo período da alta dos preços, ao prolongar meses, ou até anos. A procura de combustível ainda está aumentando, porque o mundo está voltando ao ponto em que parou antes dos bloqueios da COVID-19. Verifica-se uma escassez de refinarias que transformam o petróleo em combustível. Ao mesmo tempo, os principais produtores de petróleo do mundo estão enfrentando limites de produção."

Tudo isso está ocorrendo no contexto do conflito na Ucrânia e do consequente bloqueio das exportações da Rússia, diz o artigo.
"O mundo nunca antes atravessou uma crise energética tão grande do ponto de vista de sua profundidade e complexidade", cita a Bloomberg as palavras de Fatih Birol, diretor-executivo da Agência Internacional de Energia, expressas em um fórum em 12 de julho. "Talvez não tenhamos visto o lado pior [da crise] – isso vai influenciar o mundo inteiro", avisou.
A Bloomberg demonstra que a alta dos preços do combustível alarmante já causou caos em certas partes do mundo.
Panorama internacional
Ocidente liderado pelos EUA é responsável pela crise no Sri Lanka, diz mídia chinesa
"Está afetando profundamente a economia e política mundial. O aumento de 42% nos preços da gasolina já fez com que a inflação nos EUA alcançasse um nível máximo testemunhado pela última geração e o Partido Republicano se embarcasse na linha de voltar ao poder no Congresso nas eleições de meio de mandato deste ano. Os preços altos do petróleo provocaram protestos no mundo, do Peru ao Sri Lanka."
Salienta-se que a transição energética, da qual os líderes mundiais têm falado tanto ao longo dos últimos anos, corre o risco de ficar para trás nesse contexto energético mundial.
Colunista da Bloomberg, Will Kennedy lembra o cenário "apocalíptico" da JPMorgan Chase & Co., que é uma instituição norte-americana, líder mundial em serviços financeiros, que se apoia na escassez de milhões de barris do petróleo russo do mercado, com os preços subindo até US$ 380 por barril. Embora a Rússia já tenha encontrado compradores alternativos na China e Índia, nota-se que a produção geral da Rússia caiu mais de um milhão de barris por dia, devido às sanções econômicas contra Moscou.
Bombeamento de petróleo na região de Alimetievsk, república de Tatarstan, Rússia, foto publicada em 11 de março de 2022
Ao mesmo tempo, não é de esperar um aumento da produção do petróleo fora da Rússia, acredita a agência.

"As perspectivas de aumentar a produção [do petróleo] fora da Rússia são obscuras. A OPEP, que produz por volta de 40% do petróleo mundial, está enfrentando dificuldades de alcançar seus objetivos de produção. Uma infraestrutura obsoleta, anos de investimentos historicamente baixos e um trauma político, em conjunto, tornam o aumento da produção impossível. Em maio, a OPEP+ [Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados] produziu 2,7 milhões de barris por dia a menos do que sua meta coletiva", salienta-se na publicação.

Para superar a crise, surgem as esperanças de aumentar o fornecimento de petróleo com a ajuda de dois membros da OPEP com excesso de capacidade de produção – a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos. De acordo com Will Kennedy, o presidente Joe Biden forçou os dois a produzirem mais. Serve como confirmação das tentativas de Biden de baixar os preços do petróleo sua visita prevista à Arábia Saudita neste mês, em que o presidente norte-americano planeja se encontrar com o príncipe herdeiro Mohammad bin Salman. Destaca-se que se trata de uma pessoa, com quem antes Biden até se recusava de falar por telefone, parcialmente devido ao papel que o príncipe herdeiro alegadamente desempenhou no assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi.
Panorama internacional
Em visita, Biden vai enfrentar um Oriente Médio com outros olhos para EUA, diz NYT
"Mas ainda falta saber quanto petróleo a Arábia Saudita ou os Emirados Árabes Unidos conseguirão fornecer. A Aramco, empresa petrolífera gigantesca saudita, afirma que será capaz de produzir 12 milhões de barris por dia. Antes, conseguiu alcançar tal meta só uma vez", afirma o colunista.
Quanto aos Emirados Árabes Unidos, o presidente francês Emmanuel Macron afirmou na Cúpula do G7 que o líder saudita tinha lhe dito que a produção já estava no nível máximo.
Em tempos como hoje em dia, concluiu a Bloomberg, até mesmo os governos que antes eram os mais ativos manifestantes em prol das alterações climáticas, têm de ceder, ao concederem benefícios fiscais e ao gastarem bilhões de dólares para manter o acesso de combustíveis tradicionais. Segundo os dados da agência Bloomberg, mais de 20 países já introduziram subsídios para apoiar os que sofreram da alta dos preços. Ao ter em conta o fato de o petróleo caro levar à inflação e ao aumento de taxas de juro, as empresas tratadoras da energia renovável também estão enfrentando os preços mais altos de capital.
Comentar