Panorama internacional

China e Rússia aprofundam laços com Talibã visando reconstrução da 'ordem global', diz analista

Na quinta-feira (24), o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, visitou Cabul e se reuniu com a liderança do Talibã (organização sob sanções da ONU por atividade terrorista), no mesmo dia em que o representante especial da Rússia no Afeganistão, Zamir Kabulov, esteve com a liderança.
Sputnik
Países como China e Rússia estão aprofundando seus laços comerciais com o Talibã (organização sob sanções da ONU por atividade terrorista) apesar das persistentes reservas sobre as políticas do grupo islâmico defendidas pelos EUA e outros parceiros ocidentais, é o que afirma o analista de assuntos estratégicos indiano e ex-oficial do Exército Pravin Sawhney à Sputnik.
"Agora temos uma situação em que duas grandes potências estão do mesmo lado, e os países ocidentais liderados pelos EUA são um lote completamente diferente", diz ele.
Os EUA e seus aliados ocidentais sustentam que o estabelecimento de relações diplomáticas e comerciais normais com o Talibã depende da capacidade do grupo de cumprir seus compromissos, incluindo a formação de um gabinete inclusivo, respeitando as mulheres e os direitos humanos.
Rússia, China e Paquistão apoiaram pedidos de maior engajamento entre o Talibã e a comunidade global.
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Embora tanto a Rússia quanto a China estejam lutando por um envolvimento econômico mais profundo com Cabul, os dois governos ainda não reconheceram oficialmente a reivindicação do grupo à liderança do Afeganistão. O Talibã ainda não foi reconhecido por nenhum governo estrangeiro.
A recente recusa do Talibã em abrir escolas para meninas, apesar das promessas anteriores, foi apoiada pelo Paquistão, cujo primeiro-ministro, Imran Khan, defendeu "costumes tribais" e disse que "a ideia de direitos humanos e direitos das mulheres é diferente em cada sociedade".
Durante suas reuniões com líderes do Talibã na quinta-feira (24), até Wang garantiu ao grupo islâmico que Pequim não vai interferir nos "assuntos internos" do Afeganistão, uma das principais demandas do Talibã durante o Acordo de Doha. Wang disse ainda às autoridades do Talibã que respeitava os costumes e a religião do Afeganistão, contrastando completamente com a postura adotada pelos EUA e seus aliados ocidentais.
Enquanto isso, os EUA e outras nações ocidentais alertaram que a decisão "prejudicaria" a reputação e o progresso econômico do Afeganistão. Sahwney argumenta que a "ideia ocidental de democracia e direitos humanos" foi completamente rejeitada pelo Afeganistão, bem como pela Rússia e China, entre outros países da região.
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"Isso é algo que os EUA deveriam ter percebido depois de tentar espalhar a democracia liberal no Afeganistão e em outros países, como o Iraque, nos últimos 20 anos", destaca Sawhney.
Comentando os processos internacionais em andamento, Sawhney aponta que a operação especial militar russa na Ucrânia e as subsequentes sanções ocidentais contra Moscou têm implicações para a ordem global, incluindo o Afeganistão.
"A ordem global está sendo reconstruída. Nessa ordem, a Iniciativa do Cinturão e Rota [BRI, na sigla em inglês] é fundamental para a China", diz Sawhney.
O analista aponta ainda que estender o BRI, ou Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC, na sigla em inglês), ao norte do Afeganistão apenas reforçaria a "visão" de uma "arquitetura Ásia-Pacífico" liderada por Pequim.
Apoiado por Pequim, o BRI é um conjunto de projetos de conectividade e infraestrutura, existentes e propostos, destinados a reunir as economias da Ásia, África, Europa e outras regiões. Um estudo de 2019 afirmou que o BRI poderia impulsionar a economia global em US$ 7 trilhões (cerca de R$ 33,2 trilhões) por ano até 2040, com mais de 56 países se beneficiando.
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