Notícias do Brasil

Analista brasileiro explica por que e-commerce é oportunidade mais proeminente do mercado varejista

Tendo se popularizado nos últimos anos, em grande medida em função da pandemia, o e-commerce é a modalidade de comércio que mais se destacou no Brasil comparativamente. Para entender o que esperar desse mercado e compreender suas nuances, a Sputnik Brasil conversou com o especialista Lucas Machado.
Sputnik
Com o aprimoramento das tecnologias da informação e comunicação, a modalidade de comércio eletrônico, conhecida como e-commerce, tem se popularizado cada vez mais ao redor do mundo.
A aceleração no consumo digital tornou-se evidente com a implementação das restrições de circulação de pessoas impostas pelas medidas sanitárias de combate à pandemia de COVID-19.
Segundo dados de uma recente pesquisa realizada pela EBIT | Nielsen em parceria com a Bexs, no Brasil, a modalidade contabilizou 13 milhões de novos consumidores em 2020, um crescimento de 29% em comparação com o ano anterior. A ampliação do mercado significou um ganho de 41% em relação ao faturamento dos lojistas do segmento para o mesmo período.
Segundo análises de especialistas, esta tendência não deve recuar pelos próximos anos. Para compreender melhor qual é o status desta modalidade de comércio no Brasil, a Sputnik Brasil conversou com o professor de e-commerce e marketplace do Prime MBA da ESPM Lucas Machado.
Panorama internacional
Reino Unido pós-Brexit vs. UE: quem tem condições de recuperar economia mais cedo no pós-pandemia?

E-commerce no Brasil

Desde a popularização dos "personal computers" (PC, ou computadores pessoais) da década de 1990, que especialistas do mundo inteiro falavam da necessidade de constante aprimoramento da força de trabalho para o "futuro computadorizado", e o que poderia parecer apenas ficção científica tornou-se realidade muito mais rápido que o previsto.
Conectados 100% do tempo através de smartphones, tablets, smartwatches, laptops e outros dispositivos portáteis, vivemos em uma era que nos demanda tempo e agilidade. Para lidar com esta demanda, o mercado tenta nos oferecer meios para otimizar as soluções, e agora, sem sair de casa.
O isolamento social, em função do confinamento dos últimos dois anos, não apenas impulsionou o crescimento do e-commerce no mundo, mas acelerou o processo de adaptação de diversos mercados para os meios digitais.
Para o especialista Lucas Machado, o foco na operação é exatamente o fator diferencial do e-commerce em nossas vidas.
"A gente consegue enxergar, tanto no Brasil quanto no mundo, que o comportamento do e-commerce tem foco na operação, ou seja, está na entrega mais rápida e mais eficiente como, por exemplo, no caso da Amazon, que tem como objetivo entregar para 90% de seus consumidores entre dez a 15 minutos depois do pedido", conta Lucas.
Para o especialista, pode ser que a forte tendência mundial diminua um pouco o ritmo de crescimento no Brasil, mas, definitivamente, é um movimento irreversível.
"A previsão para este ano [de 2022] está entre nove e 15%, menor que nos anos anteriores, o que é natural, já que todo este período provocou um aumento da inflação e dos custos de operação. Mas o comportamento de compra deve se manter ainda significativo, com uma margem de crescimento mais sustentável", explica Lucas.
De acordo com dados do Valor Econômico, o comércio eletrônico teve inflação na casa de 18,76%, acima de indicadores como o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), o que demonstra que, apesar do crescimento, os custos de transação foram repassados para os consumidores através da alta de preços.
Panorama internacional
Greve de caminhoneiros no Canadá: ação antivacina pode ter força suficiente para impactar economia?

Cultura do e-commerce

Lucas explica que a maior diferença do fenômeno do e-commerce no Brasil para os países desenvolvidos – que já têm uma cultura de comércio eletrônico – é fundamentalmente a infraestrutura.
"Os países desenvolvidos têm infraestrutura muito forte, o que favorece menores custos de entrega, com entregas mais eficientes e de qualidade. Além disso, a 'bancarização' e o poder de compra dessas sociedades favorecem a comercialização."
Para ele, países desenvolvidos tendem a ter maior confiança em seu sistema bancário, por exemplo, onde os riscos de fraude são minimizados pela solidez do sistema, diferentemente do Brasil.
Lucas explica ainda que a cultura de transações eletrônicas não se limita ao uso da Internet, mas abrange a "compreensão do sistema bancário, do uso do cartão de crédito e da confiança nas garantias de transação".
Esses fatores impactam diretamente a participação do e-commerce nas transações comerciais, fazendo com que os consumidores tendam a optar por lojas físicas tradicionais, por exemplo. Países como EUA, Inglaterra, França e China possuem uma participação muito superior de comércio eletrônico em suas economias hoje.
Panorama internacional
Economia dos EUA perdeu até 240 bilhões de dólares em 2021 devido à escassez de microchips

Consumidores e mercado

Para Lucas, apesar de o crescimento ter sido impactado pela pandemia, ele deve continuar, porém em menor ritmo e, em grande medida, pela mudança no perfil do consumidor.
"Pelas projeções de importantes portais e organizações no Brasil, o crescimento deve ser de nove, 12 ou 15%, no máximo, mas o perfil do consumidor estar mudando indica a forte tendência de crescimento. A frequência de compra, no último ano, aumentou para 71% e 49% dos consumidores pretendem comprar ainda mais pela Internet em 2022."
O especialista explica que o consumidor brasileiro pode estar transitando por diversos canais de compra, desde lojas físicas a ambientes digitais on-line.
"Até 2030, 50% da população mundial será pertencente às gerações Z e Alfa, e 97% dos integrantes dessas gerações afirmam que suas principais fontes de inspiração [de consumo] estão nas mídias sociais. O 'social commerce', a 'gameficação' do e-commerce, vai obrigar os sites mais tradicionais a se adaptarem à nova realidade", afirmou Lucas.
Para ele, o dinamismo dessas novas maneiras de consumo vai trazer mudanças profundas para que o mercado possa atender às expectativas de consumo dos próximos anos, mas o fator limitante no Brasil continuará sendo o mesmo, a logística.
"Um dos maiores fatores que podem limitar o crescimento do comércio eletrônico brasileiro, com certeza. Custo de frete, prazo de entrega, tudo isso faz com que os consumidores muitas vezes escolham lojas físicas."
Panorama internacional
Comércio EUA-China: 'Construir muro' não vai resolver 'problemas' com Pequim, alerta Washington

O céu é o limite?

"Não acredito que existam setores proibidos dentro do e-commerce, mas talvez alguns produtos de limitação geral como, por exemplo, tabacaria, têm questões de regulamentação, como medicamentos também, mas não proibições", afirmou Lucas.
Para o professor, o Brasil precisa se preparar para essas transformações de mercado, e em diversos níveis, seja tecnologicamente, na transformação digital das companhias, ou na preparação de mão de obra.
Lucas explica que programadores, desenvolvedores e profissionais de gestão de relacionamento com o cliente (CRM, na sigla em inglês) vão ser muito demandados daqui para a frente, porque empresas tradicionais não querem perder a oportunidade de estar no mercado e precisam se adaptar.
Para além deste novo ambiente digital de comercialização, o uso de carteiras digitais e ferramentas de pagamento representam possibilidades deste setor.
"O cartão de crédito, de 2020 para 2021, já aumentou sua participação de 67% para quase 72%, diminuindo o 'share' [uso e participação] do boleto bancário, além do advento do pix no mercado brasileiro, que já chega a 11% de participação em transações, o que demonstra uma diversificação significativa de formas de pagamento."
Segundo Lucas, os grandes players que não apenas observam a evolução do mercado, mas identificam no Brasil um cenário promissor para investimentos, já buscam estar se adaptando.
"Amazon, D2W, Mercado Livre, grupo Alibaba já buscam uma plataforma que abarque o maior número de serviços e produtos dentro de uma marca, uma solução para seus consumidores. A Amazon, além da Prime, Music [...] vai ter sua primeira loja física de moda, além de lojas de autoatendimento", disse.
O especialista está convencido que a estratégia dessas grandes marcas é ter uma plataforma única com soluções diversas para que a frequência de consumo seja maior com uma única marca.
"Cada vez mais o maketplace se materializa em algo extremamente positivo, seja para o pequeno, médio ou grande varejista, aumentando o mix de produtos oferecidos a seus consumidores", concluiu.
Comentar