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Como Brasil pode ser beneficiado ou afetado pela queda do dólar? Especialistas explicam

A Sputnik Brasil conversou com duas especialistas para compreender os efeitos da queda do dólar na economia brasileira.
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Na segunda-feira (31), o dólar fechou em queda de 1,57%, cotado a R$ 5,3054, o menor valor desde 22 de setembro de 2021, quando fechou a R$ 5,3036.
Falando sobre os possíveis benefícios e prejuízos em que a queda do dólar frente ao real pode resultar, a professora de Economia na Coppead UFRJ e especialista em macroeconomia nacional e internacional Margarida Gutierrez destacou que a moeda brasileira está indo na contramão e se apreciando.
De acordo com a especialista, há um grande movimento de entrada de dólares na bolsa brasileira, que está muito barata, e tem também uma perspectiva de subida dos juros na economia americana, o que pode impactar as bolsas americanas.
Para Juliana Inhasz, coordenadora de Graduação em Economia no Insper e especialista em Conjuntura Econômica, o Brasil é uma economia que importa muitos produtos, e nesse cenário a queda da taxa de câmbio é muito bem-vinda, pois com isso há um barateamento dos produtos importados.
"Por outro lado, o Brasil é uma economia agroexportadora. Nós temos muita vantagem na exportação de produtos primários [...] e quando a taxa de câmbio cai recebemos menos pelos produtos cotados em dólar. Então, do ponto de vista da economia exportadora, nós estamos ganhando menos", destacou Juliana Inhasz.
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Queda do dólar vs. economia americana

De acordo com Juliana Inhasz, a queda do câmbio no Brasil simboliza uma desvalorização da moeda americana frente à moeda brasileira, e essa desvalorização já ocorre há algum tempo, causada principalmente devido às políticas realizadas, tanto no combate a pandemia quanto políticas econômicas no geral, na tentativa de aquecer a economia americana.
Para a economia americana, essa desvalorização começa a diminuir o valor do dólar, e dessa maneira, os produtos importados pelos EUA chegarão mais caros, fazendo com que a inflação no país continue subindo.
Por sua vez, Margarida Gutierrez afirma que o dólar tende a se valorizar, pois a economia norte-americana já anunciou que vai subir as taxas de juros, tornando essa economia mais atrativa aos fluxos de capitais internacionais.
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Como países emergentes podem se beneficiar da queda do dólar?

No caso do Brasil, assim como dos demais países emergentes, são economias que dependem muito de importações, e no primeiro momento esses países podem se beneficiar da taxa de câmbio mais "amigável" por conta de uma importação que chega mais atrativa e mais barata para estes países, apontou Juliana Inhasz.
"O primeiro efeito direto desta taxa de câmbio mais baixa é, de fato, ter uma importação mais barata [...]", observou.
Contudo, a especialista alerta que não se pode esquecer a existência de um outro elemento, que é a atratividade, que países emergentes como o Brasil passaram a ter, que gera dentro da economia americana um desajuste, ou seja, a economia americana vai tentar revidar de alguma forma para contornar este efeito, possivelmente através de uma política monetária mais restritiva, onde ela tenha taxas de juros mais elevadas que evitem a saída do capital, criando um efeito negativo sobre as economias emergentes.
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Dólar forte contra moedas de países desenvolvidos

Comparando o dólar com outras moedas de países desenvolvidos, Juliana Inhasz afirma que o dólar perdeu a atratividade e ficou mais fraco, inclusive frente às moedas dos países desenvolvidos.
"A moeda americana perdeu a competitividade ao longo do tempo com relação a praticamente todas as moedas do mundo", destaca a especialista.
Contudo, esta desvalorização é relativamente pequena, pois a economia americana praticou políticas muito parecidas com as outras economias dos países desenvolvidos.
De acordo com a especialista, a desvalorização da moeda americana em solo europeu, por exemplo, terá um resultado semelhante ao que ocorre nos países emergentes, tornando os produtos americanos mais baratos, elevando a demanda deles.
Contudo, uma eventual reação da economia americana, elevando as taxas de juros, pode provocar uma fuga de dólares da economia europeia para a americana.
"A queda de capital dentro das economias dos países emergentes e desenvolvidos é considerada preocupante. Então, provavelmente as economias europeias também devem pensar em políticas de contenção com juros maiores, provocando uma onda de ajustes monetários para conseguir conter este tipo de pressão", destacou.
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O que esperar nos próximos meses?

De acordo com as especialistas, é difícil prever o que vai acontecer com a moeda norte-americana nos próximos meses, pois existem variáveis que não estão mapeadas, como a questão do risco-Brasil, envolvendo o grande risco político e fiscal além das eleições de 2022.
Além disso, possivelmente esta desvalorização não deve ser persistente, já que a economia americana deve começar a fazer seus ajustes através de políticas monetárias restritivas, elevando as taxas de juros e freando a entrada de capital no Brasil, podendo inclusive reverter esta situação.
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