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Resultados políticos e econômicos do Brasil em 2021 surpreenderam?

Os brasileiros sabiam que 2021 não seria um ano fácil, mas a expectativa pela chegada das vacinas contra a COVID-19 criou a esperança de uma retomada econômica e do retorno à normalidade. Agora, às vésperas do Natal e do Revéillon, parece que o sonho não passou de mera ilusão.
Sputnik
O país fecha o ano com um saldo mais negativo que positivo se comparado às previsões do dia 31 de dezembro de 2020 divulgadas pelo Boletim Focus do Banco Central.
Se a projeção para a inflação em 2021 era de 3,2%, a realidade atual já aponta para uma taxa de 10,42%. A expectativa para a taxa de câmbio, por sua vez, saltou de R$ 5,00 para R$ 5,60.
Já no caso do PIB (Produto Interno Bruto), a previsão, que era de crescimento de 3,40%, subiu para 4,58% no último dado calculado. Porém, além de a taxa vir caindo há dez semanas, o IBGE informou, no início do mês, que o país entrou em recessão técnica por registrar queda trimestral de 0,1%, entre julho e setembro, após recuar 0,4% nos três meses anteriores.
Para 2022, a projeção do PIB calculada pelo BC despencou de 2,5% para 0,5%.
Os números do desemprego também indicam que não houve retomada. Enquanto a taxa média de 2020 foi de 13,5%, no terceiro trimestre deste ano o valor cedeu para 12,6% depois de dois trimestres acima de 14%.
Em valores absolutos, de 13,4 milhões de desempregados em média em 2020, o Brasil passou a ter 13,5 milhões de pessoas buscando um trabalho entre julho e setembro de 2021.
Para o economista Fábio Sobral, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), a principal causa econômica para este cenário é o abandono de políticas públicas que incentivem o mercado interno.
"O consumo tem sido reduzido pela alta da inflação, por salários em queda e por políticas de corte de gastos públicos e investimentos internos. As consequências são a perda de empregos e a economia estagnada, enquanto ainda há crescimento populacional no país", apontou Sobral.
Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e o ministro Paulo Guedes, na coletiva de imprensa no Ministério da Economia, Brasília, 22 de outubro de 2021
Segundo o especialista, a recessão técnica não é surpresa. Ele afirma que a maior parte do PIB depende do consumo da população. E com a alta dos preços dos bens de consumo e a deterioração dos salários e das condições de emprego, era esperada a queda do consumo, em sua avaliação.
"O quadro é ótimo para grandes empresários, pois podem contratar por salários mais baixos, mas é péssimo para o mercado consumidor interno, porque as pessoas reduzem o consumo", alertou o professor.
Sobral afirma que o maior problema é que "a produção se internacionalizou de uma tal forma que não se resguarda mais o consumo interno". Para ele, o Brasil vive hoje um processo de desindustrialização acelerado da economia brasileira.

"Vemos a fuga de capitais externos, as montadoras indo embora, outras empresas saindo... É uma economia que involui, que retorna a patamares pré-industriais. É um projeto de uma economia tão dependente dos mercados externos que não atende aos interesses do povo brasileiro, é nocivo para a maioria", avaliou.

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Reviravoltas políticas em 2021

Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha? A "polêmica" pergunta pode servir também para antagonizar a política e a economia brasileira. Foram os maus resultados econômicos que causaram a perda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro ou o governo federal está colhendo o que plantou?
Nas pesquisas de avaliação do governo em dezembro de 2020, o país se mostrava dividido, com taxas próximas de aprovação e reprovação à condução política de Bolsonaro. Um ano depois, o cenário mudou.
Segundo levantamento do Datafolha divulgado na semana passada, na quinta-feira (16), 53% da população considera a atuação do governo ruim ou péssima, enquanto apenas 22% responderam ótimo ou bom.
Os números se refletem nas pesquisas eleitorais. Se no fim de 2020 Bolsonaro contava com o apoio de mais de um terço (33%) da população, agora o presidente tem entre 20% e 25% das intenções de voto.
A perda de espaço se deve muito a entrada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no tabuleiro eleitoral. O petista recuperou seus direitos políticos no dia 8 de março deste ano após decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que anulou todas suas condenações ao declarar a incompetência da Justiça Federal em Curitiba para julgar os processos.
A determinação de Fachin foi confirmada pelo plenário da corte uma semana depois, no dia 15, e Lula voltou de vez ao páreo.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante coletiva de imprensa realizada em Brasília, 8 de outubro de 2021
A última pesquisa do Datafolha sobre intenções de voto, divulgada na quinta-feira (16), apontou que Lula (PT) tem 48% das intenções de voto. Com o patamar, o petista venceria a disputa já no 1º turno, já que teria mais votos que a soma de todos os seus concorrentes.
Já Bolsonaro (PL) é o segundo colocado, com 22% da preferência. Na sequência, estão o ex-juiz Sergio Moro (Podemos), com 9%, Ciro Gomes (PDT), com 7%, e João Doria (PSDB), com 4%.
Combinada à chegada de Lula, diversos fatores contribuíram para a perda de popularidade de Bolsonaro, segundo a cientista política Ariane Roder, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A má gestão do governo durante a pandemia, as crises institucionais, com embates frequentes com o STF e o Congresso Nacional, além dos acordos e alianças com o centrão, são alguns dos elementos deste combo que causou insatisfação na população.

"Isso tudo demonstra a falta de habilidade do presidente em lidar com a democracia e tem repercutido muito negativamente na sua imagem. Em paralelo, o presidente ainda tem somado discursos que vão no contrafluxo internacional, principalmente no que diz respeito a agenda ambiental, desgastando as relações diplomáticas relevantes que o Brasil construiu historicamente, o que acaba reverberando, consequentemente, no ambiente nacional", resumiu Roder.

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Outras razões para a perda de popularidade têm relação com as próprias pautas eleitorais de 2018, segundo a especialista. Ela destaca que "a agenda anticorrupção, além de não ter avançado, vem sofrendo retrocessos, principalmente envolvendo nomes da família Bolsonaro".
A cientista política lembra ainda que as reformas prometidas no período eleitoral, em direção a uma economia mais liberal, não vingaram na prática.
"O diálogo com o centrão e a construção de alianças têm reforçado os aspectos da política tradicional. Ou seja, bem distinto daquilo que ele tinha prometido na campanha, que era governar por meio de uma 'nova política'", ressaltou a especialista.
Em fevereiro de 2021, mais precisamente no dia 1º, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) foram eleitos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, respectivamente.
Devido à crise sanitária e, consequentemente, política, os presidentes das casas legislativas ganharam ainda mais relevância pelo seu poder de barganha frente ao governo federal.
Com o desastre da atuação federal na pandemia - são mais de 618 mil mortes no Brasil até esta quinta-feira (23) -, o avanço da CPI da Covid e a assinatura de diversos pedidos de impeachment, Bolsonaro costurou acordos com parlamentares para se sustentar no governo.
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O relatório final da CPI no Senado, em 20 de outubro, por exemplo, sugeriu o indiciamento do presidente, apontando nove tipos de crimes diferentes de Bolsonaro. Entre eles, foram indicados crimes contra a humanidade e charlatanismo.
Já ao presidente da Câmara, ao todo, chegaram 143 pedidos de impeachment de Bolsonaro, com mais de 1550 pessoas e mais de 550 organizações envolvidas nos documentos, de acordo com a Agência Pública.
O mais famoso deles foi aquele que ficou conhecido como "superpedido" de impeachment, protocolado no dia 30 de junho de 2021, em um ato com partidos de oposição e políticos dissidentes do bolsonarismo, além de movimentos e associações.
Enquanto isso, o governo se articulou nos bastidores para segurar a pressão do Congresso. A maior aposta do governo foi "orçamento secreto", com a criação das emendas de relator, que beneficiou parlamentares de olho nas eleições de 2022.
Para o ano que vem, serão distribuídos R$ 16,5 bilhões para deputados e senadores por meio desta categoria de emendas. O valor é praticamente o mesmo que a soma das emendas individuais impositivas (R$ 10,9 bilhões) com as de bancada impositivas (R$ 5,9 bilhões).
O texto que viabilizou a manobra foi aprovado junto ao Orçamento de 2022, na última terça-feira (21).
"O presidente da Câmara, Arthur Lira, tem se sentido, e de fato está, com muito poder, principalmente por estar sendo um ponto de veto para os diversos pedidos de impeachment contra o presidente", afirmou a cientista política Ariane Roder.
Segundo ela, Lira tem sido um aliado para Bolsonaro, cooperando com o presidente para manter sua sustentação na Casa.
A especialista lembra que, no sistema político brasileiro, o presidente precisa construir coalizões e alianças para poder governar. A realidade vai na contramão das promessas de campanha de Bolsonaro, que garantia que não faria acordos com o centrão.
"É uma promessa inviável de ser executada, porque se for executada, gera paralisia decisória. Não tendo maioria no Congresso, o governo não consegue aprovar pautas, nem governar. As alianças eram naturais para se ter o mínimo de governabilidade, mas isso não significa que as alianças devem estar pautadas em questões de natureza ilícita", avaliou.
Com a aproximação do Revéillon, alguns se preparam para jogar na Mega-Sena da virada. Outros começam a reciclar suas apostas políticas e econômicas para o próximo ano. Para quem não tem bola de cristal, é hora de analisar cada peça do tabuleiro político para projetar um 2022 com eleições presidenciais.
Para a população, o mais importante por ora é fazer contas para encarar um cenário econômico difícil, talvez com mais pés no chão do que no ano passado.
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