Agentes dos EUA de volta no México: combate a drogas ou interferência na política interna?

Embora os governos do México e dos EUA afirmam ter adotado uma "nova abordagem" em suas relações desde o fim da "Iniciativa Mérida" - acordo de cooperação para a segurança entre os dois países - Washington parece ainda não ter abandonado sua política de interferência nos assuntos de seu vizinho do sul.
Sputnik
A administração democrata de Joe Biden insiste que elementos da Agência Antidrogas dos EUA (DEA, na sigla em inglês) deveriam estar envolvidos na política de segurança do Exército norte-americano. De igual modo, esse órgão também vem insistindo em garantias para operações no México. 
Contudo, a Casa Branca teve uma surpresa desagradável nesse campo, uma vez que durante meses, o governo de Andrés Manuel López Obrador, atual presidente do México, se recusou a conceder vistos a cerca de 20 agentes da DEA.
Esta questão foi abordada durante o Diálogo de Alto Nível sobre Segurança, na Cidade do México, no início de outubro deste ano, mas nenhum dos atores conseguiu chegar a um acordo.

Detenção ou dissuasão?

O posicionamento de agentes norte-americanos no México contrasta com a "nova abordagem" que ambos os governos enfatizaram quando assinaram o "Acordo Bicentenário". Nesse acordo, está estipulado que a relação bilateral de segurança entre os dois Estados não se concentraria mais na captura de líderes de cartéis de drogas, mas antes na abordagem das "causas fundamentais" da insegurança e da violência.
Neste contexto, Washington busca consolidar sua presença territorial no México, com o objetivo de "combater a produção, o transporte e o consumo de substâncias ilícitas". Assim, o papel dos agentes da DEA é realizar atividades de investigação, tais como a coleta de informações para rastrear os líderes de grupos criminosos transnacionais e do crime organizado.
Membros do Exército do México patrulhando periferia do estado mexicano de Zacatecas, uma área estratégica para os cartéis de droga
Por sua vez, o presidente mexicano prioriza a implementação de programas sociais para dissuadir as pessoas de se envolverem em atividades ilegais, o que explica a resistência de seu governo em autorizar mais vistos para os agentes norte-americanos mencionados.
As relações entre o México e os EUA se intensificaram como resultado das atividades realizadas por essa agência durante a administração do ex-presidente republicano Donald Trump.

Nova reforma - vai funcionar?

Em dezembro de 2020, o Congresso do México aprovou uma reforma para reforçar a regulamentação do funcionamento e da presença de agentes estrangeiros em território nacional. Evidentemente, essa reforma foi dedicada especialmente a elementos de agências norte-americanas.
A reforma da Lei de Segurança Nacional põe, desse jeito, fim à imunidade dos agentes estrangeiros e exige que eles reportem suas ações e os resultados de suas investigações.
Vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, e o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, chegando para uma reunião bilateral ao Palácio Nacional na cidade do México, 8 de junho de 2021
Contudo, é importante sublinhar que apesar de o governo mexicano ter recusado conceder mais vistos a agentes estrangeiros, isso não significa que não existam agentes da DEA atualmente destacados no país. 
As informações sobre o número de agentes da DEA que operam no México são classificadas, sendo que divulgar informações sobre esses agentes prejudicaria ainda mais as relações com os EUA.
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