Descobertas possíveis pegadas dos primeiros humanos na América (FOTOS)

Crianças deixaram rastros no atual estado norte-americano do Novo México há cerca de 22.500 anos – milhares de anos antes do que a maioria dos cientistas pensava sobre o estabelecimento de humanos na América do Norte.
Sputnik
O Parque Nacional White Sands, no sul do Novo México, é conhecido por suas dunas coloridas com gesso que se estendem por centenas de quilômetros quadrados. Porém, no auge da última Era do Gelo, a região era mais úmida e vegetada. Mamutes, preguiças gigantes e outros animais caminhavam pelas margens lamacentas de lagos rasos que cresciam e encolhiam com as estações do ano e, pelo que parece, teriam companhia humana também.
Em um estudo publicado na revista Science, vários pesquisadores sugerem que as pegadas humanas de uma antiga margem do lago no parque datam de entre 21 mil e 23 mil anos de idade. Se a datação for precisa – o que os especialistas dizem ser provável – as pegadas poderiam representar as primeiras provas inequívocas de ocupação humana em qualquer lugar do continente americano.
"A evidência é muito convincente e extremamente entusiasmante", conta Tom Higham, cientista arqueológico e especialista em datação por radiocarbono da Universidade de Viena, citado na revista Nature.

Evidência nas rochas

Durante décadas, arqueólogos associaram os primeiros humanos americanos com a existência de pontas de lanças de pedra de 11 mil a 13 mil anos, bem como outros vestígios da cultura Clovis – nomeada por outro local no Novo México, mas que foi encontrado em toda a América do Norte. Estas datas coincidem com a recessão de uma geleira de tamanho continental, que criou um corredor através do Canadá central.
A descoberta de numerosos sítios arqueológicos pré-Clovis, do Alasca até a ponta da América do Sul, datados de 16 mil anos, fez surgir dúvidas sobre a hipótese "Clovis-primeiro", surgindo a teoria de uma rota de migração costeira a partir da Sibéria.
Sedimentos rochosos podem conter pegadas humanas de 21 mil a 23 mil anos
Várias dessas dúvidas surgiram de inúmeros equívocos nas evidências: rochas potencialmente confundidas com ferramentas, marcas em ossos de animais que poderiam ter sido feitas por processos naturais em vez de atividades de desmancha ou de caça.
White Sands, contudo, está cheio de pegadas fósseis de humanos e animais. Porém, essas pegadas são notoriamente difíceis de datar, de acordo com Matthew Bennett, coautor do estudo e geocientista da Universidade de Bournemouth em Poole, no Reino Unido, especializado no estudo de pegadas fósseis, referido pela mídia.

Confiando em sementes milenares

Em 2019, o coautor do estudo David Bustos, arqueólogo e gerente de recursos de White Sands, identificou um local na praia ancestral que continha rastos levando diretamente a camadas de sedimentos duros como rocha. A rocha continha sementes de capim espiral (Ruppia cirrhosa), uma planta aquática que poderia ser datada por carbono para determinar a idade desses rastos.
Desse jeito, os cientistas tentaram abordar fatores que poderiam distorcer a idade das sementes. O mais provável foi a ocorrência de um fenômeno pelo qual os organismos incorporam carbono que se infiltrou na água das rochas próximas, como o carbonato de cálcio no calcário. Tais fontes de carbono tendem a ser muito mais antigas que o carbono na atmosfera da Terra.
Pegadas encontradas no atual estado norte-americano do Novo México poderiam ter pertencido a crianças ou adolescentes
Os pesquisadores dataram centenas de sementes em diferentes camadas sedimentares e suas idades caíram em linha com sementes mais velhas, na parte inferior, e as mais jovens, na parte superior.
"Eu realmente penso que essas idades são boas", diz Thomas Stafford, geocronólogo experimental dos Laboratórios de Pesquisa Stafford em Lafayette, no estado norte-americano do Colorado. Segundo ele, mesmo um erro de mil anos não descreditaria a importância das pegadas, disse citado pela Nature.

Pegadas de adolescentes?

A equipe determinou que as várias dezenas de pegadas provavelmente pertenciam a inúmeros indivíduos, a maioria crianças e adolescentes.
Karen Moreno, uma paleontologista da Universidade Austral do Chile em Valdivia, não tem dúvidas de que as trilhas são humanas, mas ainda não está convencida de que elas pertenciam a crianças, pois tais estimativas se baseiam na estatura das pessoas modernas.
Contudo, Moreno acredita que as trilhas poderiam iluminar nosso conhecimento sobre os primeiros seres humanos na América.
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