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Banco do BRICS procura expansão regional com adesão dos 3 novos sócios, avalia especialista

A Sputnik Brasil conversou com Karin Costa Vazquez, professora da Escola de Assuntos Internacionais da Universidade O.P. Jindal, na Índia, sobre a expansão do banco do BRICS e os planos do NDB para os próximos anos.
Sputnik
Uruguai, Emirados Árabes Unidos (EAU) e Bangladesh passaram a fazer parte do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês). O anúncio foi feito pelo presidente do NDB, Marcos Prado Troyjo.
​"Os novos membros terão no NDB uma plataforma para fomentar sua cooperação em infraestrutura e desenvolvimento sustentável [...]. Continuaremos a expandir o número de membros do Banco de maneira gradual e equilibrada", afirmou Troyjo em comunicado divulgado em 2 de setembro.
De acordo com o presidente do NDB, a expansão do quadro de associados está em linha com a estratégia do banco de se posicionar como a principal instituição de desenvolvimento para economias emergentes.
A Sputnik Brasil conversou com Karin Costa Vazquez, professora da Escola de Assuntos Internacionais da Universidade O.P. Jindal, na Índia, sobre a expansão do banco e os planos do NDB para os próximos cinco anos.

Banco do BRICS

O NDB foi criado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS, na sigla em inglês) em 2015. O banco do BRICS, como é mais conhecido, investe principalmente em economias em desenvolvimento em áreas como transporte, água e saneamento, energia limpa, infraestrutura digital, infraestrutura social e desenvolvimento urbano.
Presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, conhecido como Banco do BRICS, Marcos Troyjo, discursa durante encontro promovido pela presidência da Rússia do bloco, 16 de novembro de 2020
Nesses seis anos de operações, o NDB já aprovou cerca de 80 projetos, em um valor total de aproximadamente US$ 30 bilhões (cerca de R$ 155 bilhões).
Karin Costa Vazquez explica que o processo de expansão do NDB estava na agenda há muito tempo, praticamente desde a idealização do banco e que sempre foi uma etapa muito aguardada.
"É um passo importante para o NDB realizar a sua vocação de ser um banco de desenvolvimento global [...]. De forma prática, isso significa que a expansão da membresia também possibilita o banco a aumenta o capital subscrito, além de mobilizar capital adicional junto ao setor privado para o financiamento de infraestrutura e desenvolvimento sustentável. Da mesma maneira, além da mobilização de recursos adicionais, a expansão também possibilita que o NDB passe a investir em novos mercados e ajude esses novos países a resolver gargalos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável domésticos."
Segundo o jornal Estadão, um quarto sócio, provavelmente da África, deve ser anunciado até o fim do ano. A partir de então é esperado que o banco aceite de três a quatro novos membros por ano, podendo alcançar um total de 20 membros nos próximos anos.
De acordo com os regulamentos internos do NDB, Uruguai, Bangladesh e EAU serão efetivados quando os países completarem seus processos internos e depositarem o instrumento de adesão.
Presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, conversam com auxílio de intérpretes durante encontro dos líderes do BRICS no Itamaraty, em Brasília, 14 de novembro de 2019 (foto de arquivo)

Novos membros

O Uruguai é o primeiro país da América Latina a ingressar no NDB como novo membro. Azucena Arbeleche, ministra da Economia e Finanças do Uruguai, afirmou que o país vê no NDB "uma grande oportunidade de aproveitar a cooperação com seus países-membros, com o objetivo de alcançar uma integração internacional mais forte no comércio e nos fluxos de investimento transfronteiriços".
Presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, fala ao lado de sua ministra da Economia, Azucena Arbeleche, durante entrevista coletiva em Montevidéu, Uruguai. Foto de arquivo
Mustafa Kamal, ministro das Finanças de Bangladesh, garante que a adesão ao NDB "abriu caminho para uma nova parceria em um momento importante de 50 anos de nossa independência". Troyjo, por sua vez, destacou o fato de Bangladesh ser uma das econômicas de crescimento mais rápido do mundo.
Karin Vazquez considera a adesão desses dois países "muito interessante" porque abre para o banco do BRICS a possibilidade de atuar em escala regional na América Latina e no sul da Ásia.
"Sendo Uruguai vizinho do Brasil e Bangladesh vizinho da Índia, isso dá a possibilidade de o banco financiar projetos binacionais em um primeiro momento e, em uma eventual entrada de outros membros nas regiões, projetos regionais de integração econômica, que inclusive é uma das áreas de prioridades na atual estratégia de cinco do NDB [...]. A entrada desses países abre caminho para essa nova atuação do banco em escala binacional em um primeiro momento e regional em um possível segundo momento", comenta a especialista.
Quanto aos EAU, ministro de Estado para Assuntos Financeiros, Obaid Humaid Al Tayer, considerou que o ingresso ao NDB "representa um novo passo para melhorar o papel da economia dos EAU no cenário global, especialmente à luz das grandes capacidades e conhecimentos que o país possui no apoio a projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável".
A professora da Universidade O.P. Jindal afirma que EAU são um polo financeiro global, que pode expandir os projetos do NDB com o setor privado, além de que o país tem investido em projetos em linha com a agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), um plano com objetivos de desenvolvimento sustentável para garantir um planeta saudável e uma vida digna para as gerações futuras.
Sede da ONU em Nova York com bandeiras dos Estados-membros
"[EAU] é um país que tem buscado de forma bastante ativa diversificar a sua economia. Fundamentalmente produtor e exportador petróleo, há alguns anos o país tem promovido o setor de serviços, inclusive muito em linha com a agenda 2030 da ONU [...]. [Há ainda] a capacidade de mobilizar recursos nas praças financeiras globais e uma visão orientada para o desenvolvimento sustentável e infraestrutura que vai muito em linha com a visão e o mandato do NDB", avalia.
No geral, Karin Vazquez julga que, estrategicamente, a escolha dos três primeiros sócios não fundadores do banco do BRICS indica uma lógica de expansão regional, com foco na conexão dos países-membros com o sistema financeiro internacional e um reforço na "lógica de integração inter-regional entre os países em desenvolvimento e a partir de países hubs, polos ou centros nodais que seriam os países originais, os países fundadores do banco".

Importância do BRICS

A professora da Universidade O.P. Jindal recorda que mesmo antes da pandemia do novo coronavírus era estimado que as economias emergentes em todo mundo precisavam de cerca de US$ 2 trilhões (R$ 10,3 trilhões) em investimentos em infraestrutura por ano pelos próximos 20 anos para manter as taxas de crescimento da época.
Presidente Jair Bolsonaro antes da Cúpula do BRICS em Brasília, 13 de novembro de 2019
Todavia, os bancos multilaterais, desde os anos 1990, e os bancos comerciais, principalmente depois da crise de 2008, diminuíram muito os investimentos em infraestrutura. O NDB preenche parte dessa carência, comenta Vazquez.
"Hoje o NDB vem suprir essa lacuna. Ele tem US$ 50 bilhões [R$ 258 bilhões] em capital subscrito e cerca de US$ 30 bilhões [R$ 155 bilhões] em empréstimos. Mas, claro, esses valores estão muito longe dos investimentos que são demandados pelas economias emergentes [...]. Mas tão ou mais importante do que a capacidade do NDB em emprestar diretamente para os países, é o potencial que o banco tem em atuar como catalisador de financiamento. Por exemplo, ao mobilizar capital privado para projetos de infraestrutura e de desenvolvimento sustentável."
Karin Vazquez frisa também que o banco do BRICS empresta em moeda local, e isso é muito importante porque ajuda a reduzir a exposição dos países-membros a volatilidade cambial e crises sistêmicas.
A especialista sublinha ainda que o intercâmbio de experiências dos países-membros para construir novos modelos de financiamento para o desenvolvimento.
"A própria ênfase do banco em investimentos de infraestrutura está bastante ligada com as experiências de desenvolvimento de países asiáticos, e da própria China, que priorizou ao longo de sua história investimentos em infraestrutura como parte de uma estratégia mais ampla para integrar a [sua] economia na cadeia global de valor e aumentar a competitividade e promover o crescimento econômico."
A professora da Universidade O.P. Jindal conclui destacando que NDB vai focar nos próximos anos na própria reconstrução dos países-membros no pós-pandemia, agregando a isso as mudanças que o mundo vem sofrendo nos últimos anos.
"Vejo que o lançamento da nova estratégia do banco, de cinco anos a partir do ano que vem, a reconstrução dos países no pós-pandemia, mais as transformações que o mundo tem passado, como a transição para a economia digital, transição para economia de baixo carbono, com cada vez mais países, inclusive os cinco países-membros, comprometendo-se a descarbonizar suas economias até 2050, 2060. Todos esses elementos dão ao NDB, no meu ponto de vista, uma oportunidade única para projetar uma nova visão para o financiamento, para o desenvolvimento", finaliza.
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