É preciso 'preencher vácuo de poder' criando governo provisório, diz alto político afegão à Sputnik

O líder do Partido Islâmico do Afeganistão contou se o processo de paz no país foi suspenso com a chegada do Talibã, se os islamistas mudaram, se é possível negociar com eles, o que querem as forças de resistência na província de Panjsher e como será o novo governo.
Sputnik

Em entrevista à Sputnik Afeganistão, Gulbuddin Hekmatyar, o líder do Partido Islâmico do Afeganistão e membro do conselho de coordenação para supervisionar a transição pacífica de poder no Afeganistão, criado após a fuga de Ashraf Ghani, disse que não há mais obstáculos para as negociações de paz. O povo avançará em seus esforços para a paz e estabilidade.

"Será criado um governo central forte de um Afeganistão livre e independente sem presença estrangeira", disse.

Hekmatyar informou que os líderes de Panjsher chegaram a Cabul para fazer negociações e querem paz, estabilidade e um acordo interafegão, no entanto, ainda não anunciaram suas exigências.

"Ainda não disseram nada específico. Querem paz, não querem guerra. Querem conduzir negociações com os talibãs. De momento, é tudo", segundo o alto funcionário afegão.

O Talibã (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países) já lutou muito durante 40 anos, primeiro com os militares da União Soviética, depois com as forças da OTAN.

Hekmatyar aconselhou que eles escolhessem o caminho da paz e do diálogo para a paz, adicionando que eles têm o direito de falar da formação de um governo pan-afegão, da Constituição e de propor suas condições.

"Os talibãs dizem que estão prontos para negociações sobre o futuro do país, a composição do governo, estão realizando negociações com políticos e discutindo a criação de um governo afegão. Reuni com os talibãs e vejo mudanças em seu tom, eles aprenderam muito, ganharam experiência e há mudanças em sua visão. Em sua visão se observam alterações positivas", conforme o político.

Ações do Talibã

Quanto às notícias de violência do Talibã contra os jornalistas, funcionários e militares, o líder do Partido Islâmico do Afeganistão chamou tudo isso de "propaganda". A situação no aeroporto de Cabul, onde milhares de afegãos esperam deixar o país, foi planejada com antecedência.

"Eles [inimigos do Afeganistão] queriam que após a fuga de Ghani no país crescesse a tensão, começassem as pilhagens e roubos. Queriam apresentar tudo de maneira como se os afegãos receassem os talibãs e fugissem deles. Por que em nenhuma outra província ocorreu o mesmo? Por que o povo não fugiu?", disse Hekmatyar.

Durante os últimos dias, após a chegada do Talibã à capital afegã, ninguém foi perseguido, morto ou detido, destacou Hekmatyar. Além disso, não há notícias sobre continuação da guerra, apenas há informação sobre combates no distrito de Andarab, na província de Baghlan.

"Mas ali estão envolvidos serviços secretos estrangeiros, que queriam provocar estes acontecimentos. Mas eu acredito que [tais ações] enfrentem a resistência do povo e não durem muito", afirmou o político afegão.

Governo inclusivo

Hekmatyar se reuniu com representantes do movimento Talibã e eles discutiram a criação de um novo governo, por exemplo, estabelecendo uma administração temporária, garantindo ao povo que pretendem criar um governo inclusivo, que seria formado em resultado de um acordo entre os líderes políticos.

"O Partido Islâmico do Afeganistão defende a estabilidade, um Afeganistão em que não haja guerra, que tenha um governo apoiado pelo povo, defende a criação de um governo inclusivo, sem interferência estrangeira", declarou.

O alto funcionário afegão apelou aos líderes de minorias étnicas que estão no exterior, como Atta Muhammad Nur e Abdul Rashid Dostum, para participarem das negociações. O Talibã negocia com políticos diferentes e todos estão contentes com o diálogo, notando mudanças positivas na posição do movimento.

"[Os islamistas] estão prontos para formar um governo inclusivo em resultado de um acordo a atingir nas negociações interafegãs", afirmou o político afegão.

"Atualmente é preciso de preencher o vácuo de poder. Não há gabinete de ministros, não há ministros. No momento é necessário criar um governo provisório, uma administração temporária para preencher o vácuo de poder", disse Hekmatyar.

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