Governo da Etiópia declara cessar-fogo 'unilateral' em Tigré e rebeldes assumem controle da região

Em novembro de 2020, o primeiro-ministro etíope enviou tropas para derrubar a liderança regional dissidente e prometeu uma vitória rápida, mas os combates intensos persistem em toda a região.
Sputnik

O governo da Etiópia declarou nesta segunda-feira (28) um "cessar-fogo unilateral" na região de Tigré, devastada pela guerra, enquanto rebeldes entraram na capital regional, Mekele, dando início a celebrações nas ruas, informa a agência AFP.

"Um cessar-fogo incondicional e unilateral foi declarado a partir de hoje, 28 de junho", lê-se no comunicado que a mídia teve acesso.

A dramática reversão para as forças do primeiro-ministro Abiy Ahmed Ali sinaliza uma virada no conflito de quase oito meses na região, que a Organização das Nações Unidas (ONU) diz ter levado 350.000 pessoas à beira da fome.

Os rebeldes, que se autodenominam Forças de Defesa de Tigré (TDF, na sigla em inglês), marcharam para Mekele, onde os residentes dançaram enquanto as autoridades locais fugiam da cidade.

"A TDF assumiu o controle da cidade [...]. Eles entraram. A cidade está comemorando. Todo mundo está dançando lá fora", afirmou um funcionário do governo interino para a mídia.

Governo da Etiópia declara cessar-fogo 'unilateral' em Tigré e rebeldes assumem controle da região

Conflito em Tigré

A guerra possui causas que são consequência da estrutura política da Etópia, de acordo com especialistas. De 1991 a 2019, a Etiópia foi governada pela coalizão Frente Democrática Revolucionária dos Povos Etíopes (FDRPE), onde cada partido representava diferentes grupos étnicos. Tradicionalmente, a Frente Popular para a Libertação de Tigré (FPLT) tinha o papel de líder na coalizão.

Com a chegada de Abiy Ahmed ao poder, em 2018, o primeiro-ministro alterou a composição do governo, extinguindo a FDRPE. O FPLT, todavia, não concordou e ocorreu então uma divisão entre Tigré e o restante do governo da Etiópia.

Em novembro de 2020, Abiy Ahmed enviou tropas para derrubar a liderança regional dissidente. O primeiro-ministro prometeu uma vitória rápida e as tropas federais assumiram o controle de Mekele no final de novembro. Mas os combates intensos persistem em toda a região em meio a relatos crescentes de massacres e violência sexual generalizada, reporta a mídia.

Semana passada os rebeldes lançaram uma grande ofensiva, coincidindo com as aguardadas eleições nacionais da Etiópia, em 21 de junho.

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