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Analista: Brasil e Israel têm 'aproximação constante' desde Lula, o que não deve mudar com Bennett

Em 13 de junho, Naftali Bennett foi nomeado novo premiê de Israel. Em entrevista à Sputnik Brasil, especialista descreve o perfil do novo governo israelense e comenta as perspectivas das relações entre os governos Bennett e Bolsonaro.
Sputnik

Após aprovação, em 13 de junho, no Parlamento israelense do governo de coalizão liderado pelo novo premiê, o presidente Jair Bolsonaro parabenizou Naftali Bennett e o ministro das Relações Exteriores, Yair Lapid, na sua conta oficial do Twitter.

A Sputnik Brasil conversou com Bruno Huberman, pesquisador do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais e professor de Relações Internacionais da PUC-SP, que expressou sua opinião sobre possíveis mudanças na política israelense, perspectivas do ex-primeiro-ministro Netanyahu, bem como sobre o destino das relações Brasil-Israel.

Quem é Naftali Bennett?

Bruno Huberman esclarece que novo premiê de Israel tem se posicionado à direita de Benjamin Netanyahu. Do ponto de vista do professor, ele é "uma figura mais religiosa do que Netanyahu" e ainda "uma das facetas mais radicais do fundamentalismo judaico".

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O político, bem como seu partido Yamina, reivindica abertamente a colonização israelense da Cisjordânia. Huberman relembra que o novo premiê de Israel surgiu como líder do movimento de colonos nesta região, embora viva em Tel Aviv, a cidade mais secular e modernizada do país.

"Então, a cabeça deste novo governo é mais da direita do que era Netanyahu", aponta o especialista, caracterizando Bennett como "ultrarreligioso e ultranacionalista".

Quanto ao perfil mais detalhado do novo governo, este justifica seu nome de "governo de coalizão", já que representa uma aliança entre todas as forças da oposição ao antigo premiê, com exceção do Partido Comunista.

O especialista aponta que a coalizão inclui partidos da extrema-direita sionista e da esquerda sionista, bem como partidos do centro e também alguns árabes-palestinos muçulmanos.

Conforme o acordo entre os partidos na coalizão, Bennett permanecerá líder do governo nos primeiros anos, enquanto Yair Lapid, também da direita sionista, mas sendo representante de classe média secular de Tel Aviv, será chanceler.

Huberman está de acordo com a opinião de Evan Gottesman, do Israel Policy Forum, em entrevista à AFP, que Bennett é uma imagem feita sob medida para um público que busca desesperadamente um substituto legítimo para Netanyahu.  

Netanyahu voltará? 

O especialista considera que a figura de Bennett representa uma alternativa a Netanyahu, a qual, ao mesmo tempo, reflete os interesses mais conservadores da sociedade israelense.  

"A figura de Netanyahu já estava muito desgastada, são 12 anos de governo, escândalos de corrupção, embora ele permaneça na liderança do seu partido e vá liderar a oposição", afirma ele, mas acredita que o ex-primeiro-ministro ainda tem boas perspectivas políticas. 

Primeiramente porque ele, mesmo estando agora em uma posição mais frágil, governou o país por 12 anos e continua na liderança do partido Likud. Ele permanece sendo a figura forte da direita sionista e ainda mantém a influência, semelhante, de acordo com palavras do professor, "à que Berlusconi tinha na Itália". 

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Mais do que isso, sua aliança com os liberais e esquerda sionista "vai ajudando a torná-lo um pouco mais palatável para essa camada que fez campanha de oposição a Netanyahu e desejava desesperadamente sua substituição", aponta. 

"Independendo de como vier a ser esse governo Bennett com o apoio de Lapid e da esquerda sionista, eu não duvido que Netanyahu volte ao poder no futuro próximo", resumiu. 

Política externa e perspectivas das relações Brasil-Israel 

Obviamente, a política externa sob o novo governo em Israel mudará em certo grau, mas um ponto que ficará inalterável, acredita o especialista, é a questão palestina.

"Bennett tende a manter toda a política de colonização de apartheid dos palestinos nos territórios ocupados. Em relação ao estado de paz, não há nenhuma perspectiva de mudança", disse, duvidando que o novo premiê esteja disposto a se sentar à mesa de negociações com os palestinos para assinar um acordo justo com a Autoridade Palestina. 

Mas fora disso, Bennett já declarou sua prontidão de normalizar os laços com outros países árabes, sublinha Huberman, porque isso "é do interesse dos EUA, isso é do interesse das elites árabes, isso é do interesse das elites israelenses, para além do governo. São políticas voltadas para os interesses econômicos do imperialismo e das elites árabes". 

No que diz respeito ao futuro da aliança entre o Brasil e Israel, o especialista é bastante otimista, apesar de preferir aguardar pelo posicionamento oficial. 

"Então, para o seu eleitorado evangélico, seja para o eleitorado evangélico americano, seja para o eleitorado evangélico brasileiro, Bennett é uma figura muito próxima do que era Netanyahu e tem de manter essa identificação que a direita brasileira e os grupos evangélicos de direita têm e tinham com Israel". 

Segundo a opinião do especialista, a profunda aproximação entre os dois países aconteceu durante o governo Lula, graças aos acordos de livre comércio e abertura no mercado brasileiro para armas e tecnologias militares, entre outros.  

"Eu acho que Lula foi um parceiro mais importante de Israel do que Bolsonaro se revelou até agora. Houve uma aproximação construída em cima daquilo que o Lula construiu originalmente, que Dilma manteve, que Temer manteve e Bolsonaro buscou aprofundar". 

O professor acredita que o presidente Bolsonaro vai manter sua aliança com Israel, enquanto o próprio Estado israelense também tem interesse em manutenção de seus laços, principalmente porque o Brasil é um importante mercado consumidor de produtos israelenses, como tecnologia militar e agrícola. 

"O Brasil e Israel vêm numa aproximação constante desde o governo Lula e essa aproximação aumentou durante o governo Netanyahu e Bolsonaro, e não vejo por que haver uma reversão", concluiu.

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