Diálogo político entre Maduro e Guaidó é dificultado por alto nível de exigências, diz analista

O diálogo político na Venezuela, proposto pela oposição de Juan Guaidó e aceito pelo presidente Nicolás Maduro, deu a ilusão de uma trégua nos intensos conflitos no país, mas parece que tudo é mais complicado.
Sputnik

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, colocou três requisitos para se sentar e dialogar com a oposição: a suspensão imediata de todas as sanções e medidas coercivas unilaterais impostas pelos EUA e pela União Europeia contra seu governo (e endossadas pela oposição), o pleno reconhecimento internacional da Assembleia Nacional (parlamento unicameral, com maioria oficial) e a devolução do património e das contas bancárias congeladas às instituições do Estado.

Entre esses ativos, o presidente pediu a devolução das empresas Citgo, subsidiária da estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA), que agora está sob o controle de Washington, e da petroquímica Monómeros, da Colômbia, administradas por Conselhos de gerência ad hoc indicados pelo ex-deputado.

Por sua vez, Guaidó exigiu a convocação de eleições presidenciais, embora, segundo as leis do país, neste ano só devam decorrer eleições regionais e municipais. Além disso, ele pediu a entrada em massa de ajuda humanitária e de vacinas contra COVID-19, bem como a libertação de todos os "prisioneiros políticos".

Apesar das altas demandas, Maduro reiterou seu apoio à ideia de uma grande mesa de diálogo nacional, e o ex-deputado pediu para deixar de lado os interesses pessoais e realizar o que chama de "plano de salvação nacional".

O apoio a Guaidó diminuiu

Em 2019, quando Guaidó se autoproclamou presidente interino da Venezuela, recebeu o apoio de mais de 50 países. No entanto, o deputado e membro da Comissão Especial de Diálogo, Reconciliação e Paz da Assembleia Nacional, Javier Bertucci, disse que, nos últimos dois anos, o cenário mudou e que o apoio a Guaidó diminuiu.

Diálogo político entre Maduro e Guaidó é dificultado por alto nível de exigências, diz analista

"Só os Estados Unidos é que têm a capacidade de devolver esses bens à Venezuela como país, Guaidó não tem possibilidade de oferecer a devolução da Citgo ou um desbloqueio do ouro da Alemanha ou qualquer outro ativo que os EUA tenham sob sanção", disse o parlamentar à Sputnik Mundo.

Para Bertucci, presidente do partido de oposição El Cambio e pastor evangélico, a mesa de diálogo entre Guaidó e Maduro não vai acontecer, dadas as altas demandas que ambos levantaram.

"A mesa que Guaidó pede não será montada enquanto houver esses pedidos prévios de Maduro, onde ele exige o levantamento das sanções, a devolução de todos os bens do país, já se sabe que não haverá diálogo nem eleições presidenciais nessas condições", comentou.

Já o deputado Julio Chávez, do Partido Socialista Unido (governista), concordou que Guaidó não tem o poder de devolver os bens que foram roubados à nação sul-americana.

"Guaidó é um fantoche […] Ele não tem poder de decisão, tem sido usado. Este triste personagem da política venezuelana está mais perto do caixote do lixo da história do que de se sentar à mesa de diálogo com o presidente da República", criticou.

Perdas para a Venezuela

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Após a autoproclamação de Guaidó em 2019, Washington impôs sanções à PDVSA, que incluíram o bloqueio de fundos da Citgo. O governo venezuelano acusou o ex-deputado de ser o responsável pelas perdas milionárias, que ultrapassam US$ 300 milhões (mais de R$ 1,5 bilhão).

Entretanto, resta saber se a grande mesa de diálogo nacional se materializará e se Maduro e Guaidó cederão às exigências feitas para alcançar uma negociação, para a qual abriram as portas à UE e à Noruega na qualidade de mediadores.

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