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'O maior desafio desta CPI é provar com resultados que as instituições funcionam', diz analista

Após a confirmação de que a CPI da Covid convocará nove governadores, surgiu a dúvida: a investigação servirá de palanque eleitoral para 2022? Para cientista político ouvido pela Sputnik Brasil, país precisa decidir ainda se suas instituições funcionam.
Sputnik

A base governista celebrou a decisão da CPI da Covid, na última quarta-feira (26), de aprovar a convocação de nove governadores, um ex-governador e uma vice-governadora para prestarem depoimento na comissão.

Antonio Marcelo Jackson, cientista político da Universidade Federal de Ouro Preto ouvido por esta reportagem, avalia que os senadores alinhados ao presidente Jair Bolsonaro têm razões para comemorar: "A convocação dos governadores tirará Bolsonaro do palco central da CPI".

Nas últimas semanas, o governo federal precisou lidar com as duras ilações dos depoentes no Senado que responsabilizam o Ministério da Saúde pelo agravamento da crise pandêmica no país. Porém, aprovada a convocação dos representantes estaduais, o sentimento é de que "jogo pode virar".

'O maior desafio desta CPI é provar com resultados que as instituições funcionam', diz analista

Em evidente campanha política pelo país de olho no pleito de 2022, Jair Bolsonaro promove manifestações e carreatas, e sempre que lhe é conveniente, insiste na retórica de que repassou bilhões de reais aos estados e governadores, os verdadeiros culpados, no seu entender, pelo caos sanitário que o Brasil enfrenta.

Questionado sobre como esses depoimentos podem implicar na política nacional, Antonio Marcelo Jackson fala em impasse político, mas reconhece a pequena vitória do governo.

"Tudo caminha para um impasse risível. Em uma parte, senadores bolsonaristas tentando imputar uma culpa no caos sanitário nos governadores. De outra parte, membros da CPI buscando mais escopo para culpar o governo federal. Da forma como está, a convocação dos governadores tirará Bolsonaro do palco central da CPI", avaliou.

Em seguida, ele explicou que, "originalmente, a ideia da CPI era convocar somente o governador do Amazonas, Wilson Lima, que é bolsonarista, mas teve inúmeros atritos com Ministério da Saúde em virtude da crise no estado. Contudo, para não se gerar a ideia que os membros da CPI eram parciais, resolveu-se convocar os demais governadores. Só que alguns governadores entenderam que poderiam sofrer acusações aleatórias, o que produziu neles uma certa insegurança".

'O maior desafio desta CPI é provar com resultados que as instituições funcionam', diz analista

Palanque eleitoral para 2022?

O cientista político discorda do entendimento de que a CPI da Covid, tendo em vista as determinações aprovadas no último dia 26, está para se transformar em um palanque eleitoral. "Visto que estamos em maio de 2021, e as eleições gerais serão em novembro de 2022, transformar esses depoimentos em palanque seria um tanto estéril pela distância temporal", afirmou.

Ele entende que, por trás da convocação dos governadores, os senadores conseguiram afastar a acusação bolsonarista de que a CPI servia apenas para atacar o governo federal.

Porém, fez uma ressalva: "Tudo dependerá de como os senadores da oposição conseguirão escapar do impasse com relação aos governadores". Este impasse ao qual o cientista político se refere diz respeito ao ordenamento jurídico do Brasil, que em tese proíbe que governadores sejam chamados para depor no Senado.

'O maior desafio desta CPI é provar com resultados que as instituições funcionam', diz analista

"Há uma jurisprudência quanto ao assunto que remonta ao ex-governador do estado de Goiás, Marconi Perillo", que foi convocado para falar na CPI do Cachoeira, em 2012, relembrou Antonio Jackson, enfatizando que o "STF decidiu que uma comissão do congresso não teria competência para chamar o chefe do executivo estadual".

Governadores na CPI

Tendo em vista que as circunstâncias entre a convocação para a CPI que investigou o bicheiro Carlinhos Cachoeira e a atual, onde se investiga as razões pelas quais o Brasil tenha mergulhado em tão profunda crise, a Sputnik Brasil questionou o cientista político sobre as consequências a respeito do depoimento dos governadores.

Em uma primeira resposta, Antonio Jackson citou "que os receios dos chefes estaduais podem ser creditados às acusações dos membros bolsonaristas na CPI", muitas vezes levianas e embasadas em teorias que circulam em redes sociais.

"Esse é um período muito estranho da nossa história, onde afirmações viram verdade antes de qualquer subsídio, e acusações não precisam ser comprovadas. Desde que um certo membro do Ministério Público disse que tinha convicções, mas não possuía provas, esse princípio se generalizou", comentou.

Antonio Jackson avaliou ainda que "se essas acusações chegam às redes sociais, elas provocam uma distorção na opinião pública". Deste modo, a comissão será palco a um embate ideológico, e "haverá um show de horrores".

'O maior desafio desta CPI é provar com resultados que as instituições funcionam', diz analista

"Dentro dos limites do caos brasileiro, há possibilidade de alguns governadores bolsonaristas acusarem o ministro da Saúde e próprio Bolsonaro para se livrar da culpa", enfatizou o cientista político. 

Para ele, "o maior desafio da CPI é provar com resultados que as instituições funcionam, e cumprem a lei. Temos um ex-ministro general da ativa que carrega acusações bastante sérias, chamado de mentiroso pelos senadores. Será que o general será preso? Pois isso é previsto na lei brasileira".

"Essa e outras respostas definirão os rumos da CPI, e do Brasil, que precisa decidir se as instituições ainda funcionam", concluiu.
'O maior desafio desta CPI é provar com resultados que as instituições funcionam', diz analista
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