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Programa social robusto? Para especialista, Bolsonaro faz promessas de olho em 2022

O desgaste de Jair Bolsonaro à frente da presidência da República é notável, como atestam pesquisas de popularidade nos últimos meses. Em entrevista à Sputnik Brasil, cientista político avaliou que a ideia do governo federal de criar um "programa social robusto", neste momento, é prática eleitoreira.
Sputnik

Com sua imagem desgastada pelo desempenho do Brasil ante a pandemia e pelo início dos trabalhos da CPI da Covid, o presidente Jair Bolsonaro busca meios para melhorar sua imagem.

Ele deve apostar em medidas de proteção social e na recuperação da economia, sendo que um "programa social muito robusto", previsto para o mês de julho, também está nos planos. Quem garante é o líder do governo Senado, Fernando Bezerra (MDB). O parlamentar disse ainda que o programa será uma nova versão do Bolsa Família, só que mais inclusivo, e com um novo valor para o benefício.

A proposta está sendo elaborada pelo ministro da Cidadania, João Roma, e vai contar com recursos na ordem de R$ 35 bilhões. Para compreender este projeto, a Sputnik Brasil falou com o cientista político Antonio Marcelo Jackson, da Universidade Federal de Ouro Preto.

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Um novo Bolsa Família?

Segundo ele, "em primeiro lugar, até agora faltam informações específicas para poder avaliar o programa de Jair Bolsonaro". Afinal, como a maioria das propostas apresentadas pelo presidente, esta também precisará passar pelo crivo de Paulo Guedes, avesso aos gastos do Estado.

Neste sentido, Antonio Jackson fez um alerta: "Lembramos que Jair Bolsonaro sempre foi contra qualquer proposta de ajuda às famílias carentes do Brasil, e mesmo o auxílio emergencial só atingiu aquele valor de R$ 600 pela atuação de deputados da oposição".

O cientista político, por outro lado, não descarta que as intenções do presidente possam ser aprovadas por Guedes em função da proximidade das eleições no Brasil.

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"Portanto, podemos imaginar alguma forma eleitoreira por parte do governo, percebendo que somente ultrapassa dos já famosos 30% de aprovação quando o dinheiro chega ao povo. No entanto, chega a ser curioso como um governo que sempre foi contra auxiliar a população vai agir em prol dela", afirmou.

O país da COVID-19

O presidente do Brasil, apesar de negar que seu governo tenha agido de forma insuficiente durante a pandemia, atribuindo essa crítica à imprensa "esquerdista", tem consciência de que a chegada do ex-presidente Lula ao páreo presidencial pode lhe custar a reeleição.

Por esta razão, o auxílio chega em um momento fundamental tendo em vista o cenário político no Brasil. O senador Fernando Bezerra, inclusive, afirmou que "é natural que neste momento o presidente sofra um pouco de desgaste, mas mesmo assim ele mantém um apoio importante junto à população".

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O senado avalia que, "depois desse início da CPI, o presidente vai se recuperar. Ele vai lançar um programa social robusto em julho, e a economia vai melhorar no segundo semestre, puxada pelo aumento das nossas exportações".

A crença de melhora na avaliação presidencial não é partilhada pelo cientista político Antonio Marcelo. Questionado se o auxílio pode mitigar a desaprovação do presidente, o professor respondeu: "Eu acho que não, porque este desgaste aconteceu nas classes médias, e em parte das elites. Ou seja, em setores que não são atendidos pelo auxílio emergencial".

Bolsonaro 2022?

Questionado sobre as falas de Fernando Bezerra, que crê em uma retomada do apoio popular na direção de Jair Bolsonaro, o professor entende que as pretensões do senador beiram uma notícia falsa. "Considerando o histórico do governo de Bolsonaro, a fala de Bezerra é uma fake news. Todos os índices apontam para a vitória de Lula", afirmou.

Apesar disso, Antonio Marcelo não acredita que a reeleição seja um sonho distante: "Pode-se dizer que, como um fiel representante de um segmento da população que é racista, misógina e homofóbica, e contrário a qualquer distribuição de renda, Bolsonaro terá sempre 25% das intenções de voto, o que o qualifica como um candidato em potencial", sustenta o professor.

O professor, contudo, enfatiza que Bolsonaro perdeu contato com segmentos importantes que lhe conferiram a vitória em 2018, como parte da direita elitizada no país, e sobretudo o voto antipetista. 

"Bolsonaro pode até ter deixado o baixo clero, mas o baixo clero jamais o abandonou", concluiu, ressaltando que o presidente poderia ter feito um governo mais amplo, envolvendo outros atores políticos, mas concentrou-se no chamado voto ideológico, e fazendo as vontades de seu eleitorado, deixou passar a oportunidade de angariar mais votos na classe média brasileira.
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