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'Confronto da oposição a Bolsonaro em 2022 dependerá do cacife político do presidente', diz analista

Movimentos de oposição fazem atos contra o presidente Jair Bolsonaro por todo o país, como panelaços e eventos virtuais, mostrando uma queda de popularidade de seu governo no ano anterior às eleições de 2022.
Sputnik

Na noite de terça-feira (23), diversas cidades registraram panelaços contra o presidente, no momento em que ele fazia pronunciamento em rede nacional, defendendo as ações do governo para a aquisição de vacinas, e no qual garantiu 500 milhões de doses até o fim deste ano.

Já nesta quarta-feira (24), dirigentes de partidos, centrais sindicais e movimentos populares, agendaram a campanha "Fora Bolsonaro", uma mobilização nacional contra o presidente da República que aconteceu de forma virtual e com eventos restritos em algumas capitais.

​​A iniciativa de escolha da data foi feita pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e seguida por outros movimentos que compõem a campanha, como CUT, MST, MTST, e partidos de esquerda como PT, PCdoB, PSOL, PDT e PSB.

Diante desses movimentos de repúdio a Bolsonaro e com a possibilidade de Luís Inácio Lula da Silva se tornar elegível, a oposição ao governo pode ganhar fôlego para as eleições de 2022? Para discutir o tema a Sputnik Brasil conversou com Antonio Marcelo Jackson Ferreira da Silva, Cientista Político e Professor do Departamento de Educação e Tecnologias da Universidade Federal de Ouro Preto, em Minas Gerais.

O especialista começou falando que a capacidade da oposição em confrontar Bolsonaro vai depender do "cacife político" do presidente. "Até prova contrária, Bolsonaro possui um núcleo duro, algo em torno de 20% a 30% da população que continua sendo fiel a ele. Isso significa que ele sozinho não tem condições de vencer uma eleição, a não ser que os seus adversários ou seu adversário não consiga cooptar uma quantidade superior a esse percentual que ele já tem".

"A grande questão é se Bolsonaro se consolida só com esses 20%-30%. Se a resposta for sim, então significa dizer que qualquer outro candidato que vá enfrentá-lo na eleição de 2022 basta ter 31%. Aí a grande questão é que o Partido dos Trabalhadores também tem um núcleo duro de cerca de 30% dos eleitores; isso já vem se consolidando há muitas eleições. Então. enquanto Bolsonaro vem diminuindo sua capacidade de convencer outros que não seja esse núcleo duro, o PT, por sua vez, já possui esses 30% e basta conquistar mais algum outro percentual", avaliou Silva.

Segundo ele, os 40% que sobram, tirando 20% que normalmente não comparecem para votar ou que anulam ou votam em branco, sobram 20% de eleitores que o PT precisa. Bolsonaro realmente deve ficar parado nos 30%, restando saber se os outros partidos, notadamente o PT, vão ter condições de convencer algo além dos 30% que também já possuem.

Quem pode ser o melhor candidato da oposição para enfrentar Bolsonaro nas urnas?

Para Silva, as condições para que surja um candidato que reúna a oposição, notadamente a esquerda, que possa ser apoiado não apenas pela esquerda, mas por componentes mais tradicionais — o chamado centrão — dizem respeito a experiências anteriores de carisma do candidato, à capacidade que ele tem de unificar uma parte das forças políticas, econômicas e sociais.

'Confronto da oposição a Bolsonaro em 2022 dependerá do cacife político do presidente', diz analista
"Nesse caso, eu acho que a resposta dada por todos os meios de comunicação e que parece se consolidar cada vez mais após a decisão do Supremo Tribunal Federal é a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva. Lula parece que conseguiu, de fato, reunir isso durante esses últimos anos", declarou Silva.

O cientista político disse que as coisas que vão acontecendo ao longo do tempo parecem que consolidam a candidatura de Lula, pois a chamada centro-direita tradicional não apresentou nenhum candidato com carisma, não tem nenhum candidato que tenha uma ou um conjunto de ações que sejam significativas, e que esse candidato possa estender sua capacidade de influência para todo território nacional.

"Você tem um candidato — que é de extrema-direita e que acabou se desfiliando do partido que o elegeu, que é o Jair Messias Bolsonaro — de um lado, e o candidato de centro-esquerda do outro. O próprio centrão já começa a dar sinais de abandonar o barco de Bolsonaro e se aliar a Lula", avaliou Silva.

Chances de reeleição de Bolsonaro

Para o cientista político, para disputar a eleição de 2022, em primeiro lugar Bolsonaro deveria se filiar a um partido político, pois ele já está há muito tempo governando sem vínculo partidário algum e apenas em troca de favores no Congresso Nacional.

"Bolsonaro deixa claro que não tem dinheiro para comprar vacinas, para investir em educação e ciência, mas tem dinheiro sim para liberar para os seus apoiadores dentro da Câmara dos Deputados, do Senado Federal. Pois bem, nesse caso o quadro dele está restrito a esse pessoal, a essa capacidade de negociar num balcão de negócios — não é uma negociação política, é uma negociação de outra ordem — em um meio social que vai acompanhando sua trajetória de maneira quase cega, como se fossem fanáticos", disse Silva.

As chances eleitorais do presidente nesse quadro são de dificilmente ser eleito, salvo se não houver nenhum candidato forte do outro lado, finalizou o cientista político.

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