Especialista explica como empresas petrolíferas poderiam regressar à Venezuela

Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, expressou disponibilidade para permitir investimentos do setor petrolífero privado no país, em meio à queda da produção nacional.
Sputnik

As empresas petrolíferas estão considerando voltar à Venezuela, depois que Nicolás Maduro, presidente do país, sinalizou que estava pronto para acabar com o monopólio da empresa estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA, na sigla em espanhol) e abrir a indústria para investimento estrangeiro no início deste ano, escreveu na sexta-feira (19) a agência Bloomberg.

Empresas pequenas poderão entrar no mercado antes de grandes produtoras como a Chevron dos EUA, Rosneft da Rússia, Total SE da França, Eni SpA da Itália, Shell dos Países Baixos, bem como outras dos EUA e China, que aguardam o cancelamento de sanções ao setor petrolífero venezuelano imposto por Joe Biden, presidente dos EUA, segundo a mídia.

Caracas diz que as sanções dos EUA apenas proíbem conduzir negócio com a PDVSA, o governo Maduro e os que estiverem ligados a ele. As empresas investidoras também precisarão de confiança regulatória em projetos a longo prazo, "pois é preciso ter confiança de que as autoridades não mudarão as regras do jogo a cada seis meses", afirmou Mamdouh G. Salameh, economista internacional de petróleo e professor de Economia de Energia na ESCP Business School de Londres, Reino Unido.

Ele sublinhou à Sputnik que a Venezuela "será sempre um ponto focal para investimentos petrolíferos globais, com grandes empresas petrolíferas esperando obter uma fatia de sua espetacular riqueza petrolífera", e reservas mundiais comprovadas de petróleo bruto de 303,8 bilhões de barris, estimadas em US$ 19,75 trilhões (R$ 109,21 trilhões).

"Somente a Venezuela representa 92% das reservas petrolíferas comprovadas da América Latina", comenta.

Condições para mudança

No entanto, devido à degradação de capital e tecnologia nos últimos 15 ou 20 anos, o setor petrolífero do país sul-americano não poderá contar só com empresas pequenas, e para isso será vital suspender as sanções norte-americanas, referiu Francis Perrin, membro sênior do Centro de Políticas para o Novo Sul em Rabat, Marrocos, e do Instituto Francês para Assuntos Internacionais e Estratégicos, em Paris, França, à Sputnik.

Uma possível entrada de empresas norte-americanas "poderia aumentar o comércio de petróleo entre os Estados Unidos e a Venezuela, particularmente [dado] que a Venezuela possui algumas refinarias no Texas [nos EUA] especialmente equipadas para refinar o petróleo bruto extrapesado venezuelano", antevê Salameh.

"Também ajudará a resolver questões legais sobre a refinaria de propriedade venezuelana Citgo e outros ativos nos Estados Unidos." A Chevron e a Rosneft também seriam preferidas na exploração do hidrocarboneto no país latino-americano devido à grande experiência que têm no país, de acordo com Mamdouh G. Salameh.

Ainda não se sabe se Biden mostrará "um rosto mais humanitário" para "aliviar a miséria e o sofrimento do povo venezuelano e preparar o caminho para um acordo político", avisa o especialista, mas essa probabilidade é reduzida devido à administração Biden ter deixado claro em 12 de março que não negociaria em breve com Maduro, e continuaria apoiando Juan Guaidó, ex-presidente da Assembleia Nacional da Venezuela e autodeclarado presidente interino do país.

Petróleo na Venezuela

A intenção de Maduro de reformar a lei petrolífera foi largamente definida pela profunda crise econômica que o país tem atravessado nos últimos anos, com o setor de energia atingido pelas sanções de Washington. Em 2020, a produção petrolífera média por dia foi de 557.000 barris, comparada com 1,013 bilhão em 2019.

Sob a lei venezuelana atual, a PDVSA tem obrigatoriamente de possuir participação majoritária em joint ventures com empresas energéticas estrangeiras e privadas.

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