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'Faltar oxigênio é a morte, não tem jeito', afirma ex-presidente do CREMERJ

Em entrevista à Sputnik Brasil, ex-presidente do CREMERJ avalia que a situação envolvendo insumos e medicamentos para o tratamento da COVID-19 no Brasil ainda é administrável, mas alerta que teme pelo pior, caso não haja uma redução do contágio.
Sputnik

Nesta quinta-feira (18), a Frente Nacional de Prefeitos (FNP), que reúne as 412 cidades com mais de 80 mil habitantes no Brasil, enviou ao presidente Jair Bolsonaro e ao Ministério da Saúde, segundo o G1, um ofício solicitando a adoção de "providências imediatas" para suprir a escassez de oxigênio e de medicamentos para a sedação de pacientes de COVID-19 que está sendo registrada em municípios de todo o país.  

Segundo informações do conselho das secretarias municipais de Saúde, os níveis dos estoques públicos do chamado "kit intubação", que é composto por remédios para anestesia, sedação e relaxamento muscular, entre outros itens, estão críticos em vários estados e podem acabar nos próximos 20 dias.

De acordo com a FNP, prefeitos e prefeitas solicitam que o governo atue imediatamente para evitar que "as cenas trágicas e cruéis recentemente presenciadas em Manaus [AM] não se repitam em outras cidades brasileiras".

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), por sua vez, informou nesta sexta-feira (19) que publicará medidas regulatórias emergenciais para "enfrentar a escassez de medicamentos para intubação e suporte ventilatório de pacientes graves".

Segundo a agência reguladora, diante da ameaça sanitária enfrentada pelo Brasil, essas medidas vão desde "a flexibilização de critérios" até a "possibilidade de importação direta" por parte de "hospitais e redes hospitalares privadas, passando pela máxima agilização dos processos".

De acordo com o médico Sylvio Provenzano, chefe do Setor de Clínica Médica do Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, e ex-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (CREMERJ), a possibilidade de faltarem esses medicamentos em cidades como o Rio de Janeiro é pequena. No entanto, o especialista ressalta que, segundo informações que recebeu de colegas, há falta desses insumos em alguns lugares.

Em entrevista à Sputnik Brasil, Provenzano explica que esses medicamentos são necessários para os pacientes que estão intubados, "para que eles fiquem relaxados, de modo a conseguirem suportar a permanência por um tempo, que, normalmente, no caso da COVID-19, não é pequeno", acoplados ao respirador. 

Segundo o especialista, é crucial que as autoridades de Saúde consigam repor os estoques do chamado "kit intubação", e também do oxigênio hospitalar, pois, sem esses insumos, é impossível oferecer uma assistência mínima aos pacientes de COVID-19, o que, evidentemente, acarretará em um aumento no número de óbitos.

"Faltar oxigênio é a morte, não tem jeito", frisa o ex-presidente do CREMERJ.

Para Provenzano, a produção nacional de oxigênio é considerada adequada para suprir os hospitais do país. No entanto, ele ressalta que é preciso que a população coopere para reduzir a disseminação do vírus e o consequente aumento da demanda por esse insumo, e também da pressão sobre o sistema de saúde em geral.

"É óbvio que a gente deve, em primeiro lugar, pedir às pessoas para se cuidarem, seguirem as regras de ouro, procurarem evitar aglomerações, usar a máscara, lavar as mãos, porque, havendo um aumento da demanda, por mais que hoje a situação ainda esteja relativamente administrável, [...] havendo um aumento crescente da demanda, eu temo pelo pior", afirma o especialista.

Nesse sentido, o chefe do Setor de Clínica Médica do Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro assinala que "o risco de colapso total existe, na medida em que o número crescente [de casos] não for interrompido", e reforça que, apesar de as autoridades serem responsáveis por fornecer insumos e fiscalizar a situação nos hospitais, é necessário que a população se conscientize para evitar o aumento de casos, e "não haja esse tão temido colapso", sentencia. 

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