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Bolsonaro e a incerteza no mercado: 'Condições de risco no Brasil são elevadas', diz economista

Com a interferência do presidente brasileiro Jair Bolsonaro (sem partido) em empresas estatais, cresceu a incerteza de investidores. Sobre a questão, a Sputnik Brasil ouviu a economista Maria Beatriz de Albuquerque David, professora da UERJ, que também comentou o impacto da volta de Lula.
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Desde o anúncio de Bolsonaro indicando troca no comando da Petrobras, crescem especulações em torno das estatais brasileiras. Algo semelhante ocorre no Banco do Brasil, diante do impasse em relação à permanência do atual presidente, André Brandão, que há duas semanas colocou seu cargo à disposição.

Essa situação estimula a percepção de que investidores podem se afastar dessas empresas. É o que aponta a economista Maria Beatriz de Albuquerque David, professora da Faculdade de Economia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), que ressalta, porém, que há um cenário de incerteza no país motivado por diversos fatores.

"As condições de risco no Brasil são elevadas, tem as razões de saúde, que são as mais marcantes hoje, mas tem as razões de incerteza política, incerteza econômica e de falta de uma política de longo prazo do governo e mudanças abruptas em algumas decisões", avalia a economista em entrevista à Sputnik Brasil.

A professora da UERJ salienta que os fatores citados são as principais razões para a incerteza no país. Albuquerque lembra ainda que as interferências em estatais são regulamentadas, mas podem abalar a confiança de investidores.

"Não se comete nenhum crime na interferência nas estatais, porque você tem normas para intervir, e o governo é acionista majoritário, ele só aumenta o risco e o desinteresse, ou a precaução dos investidores. Mas, isso não quer dizer que ninguém vai investir em ações de estatais porque o governo vai intervir", afirma.
Bolsonaro e a incerteza no mercado: 'Condições de risco no Brasil são elevadas', diz economista

Para a economista, apesar de possuir a prerrogativa de interferência nessas empresas, o governo deve evitar essa postura para diminuir as incertezas tanto para os gestores quanto para investidores.

"O governo brasileiro pode fazer o que quer? Não pode e não deve, porque gera instabilidade e perdas nessas empresas. Mesmo que a perda seja no curto prazo e depois se recupere, as empresas não podem viver nessa balança de vai e vem, nessa montanha-russa", aponta Albuquerque, acrescentando que é "muito arriscado fazer uma política sem nenhuma previsibilidade".

Volta de Lula causa medo no mercado?

Desde a última segunda-feira (8), com a anulação das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que desponta como possível candidato à Presidência em 2022, o cenário político foi alterado no Brasil. Em meio às diversas crises concomitantes, o retorno de Lula foi visto como uma reviravolta. Apesar da mudança abrupta, a professora aponta que o mercado não vê Lula com maus olhos.

"O ânimo dos investidores não é muito impactado pela volta do Lula, ao contrário, o Lula tem muito boas relações com o mercado", aponta a economista Maria Beatriz Albuquerque David.
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Albuquerque ressalta que o primeiro impacto no mercado, que registrou perdas após o retorno de Lula, não reflete a situação real e que tais flutuações são passageiras.

"O mercado não tem a temer do Lula, o Lula tem excelentes relações com o mercado e o mercado nunca lucrou tanto como no período dos dois governos do Lula", afirma a professora.

Segundo a economista, a postura errática de Bolsonaro causa mais problemas ao mercado do que a volta de Lula.

"Não há fuga de capital nem ansiedade no mercado com um possível retorno do Lula, muito pelo contrário. Acho que o vai e volta, e as declarações estapafúrdias do Bolsonaro têm muito mais peso no mercado, ainda que ele [o mercado] leve um pouco mais de tempo para reagir", conclui.
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