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COVID-19: fundador da Anvisa rebate críticas à demora da agência em aprovar vacinas

Em meio à piora da situação sanitária na Bahia, o governo estadual voltou a reclamar da falta de vacinas contra a COVID-19. Mas, em entrevista à Sputnik Brasil, o primeiro diretor da Anvisa defendeu o trabalho de análise da agência antes de liberar novos imunizantes.
Sputnik

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), voltou a criticar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pela demora em liberar o uso de mais vacinas contra a COVID-19 no Brasil. Em entrevista à CNN Brasil no último domingo (21), o político, que decidiu ampliar o toque de recolher no estado devido a um aumento da ocupação de leitos de UTIs, questionou até quando o país ficará "refém dessa instituição", que, até o momento, "não autorizou as vacinas da Pfizer, da Moderna, a Sputnik [V] e a indiana [Covaxin]".

Segundo Costa, é inadmissível e incompreensível essa demora da Anvisa quando o Brasil segue com altos índices de mortes provocadas pelo novo coronavírus e com dificuldades para acelerar a vacinação devido à pouca disponibilidade de imunizantes. 

​Hoje, o país conta apenas com vacinas CoronaVac e Oxford/AstraZeneca para a imunização da população, em quantidades ainda pequenas. Embora a Pfizer tenha realizado testes da sua vacina em Salvador, ainda não há previsão de uma possível liberação desse imunizante, desenvolvido em parceria com a Biontech, no Brasil. De outro lado, desde janeiro, o governo baiano vem buscando alternativas judiciais para a compra e aplicação da vacina russa Sputnik V, ainda sem sucesso.

"Nós precisamos ter mais opções, um leque maior de vacinas, mas a Anvisa e o governo federal seguem demonstrando total insensibilidade à vida humana, total insensibilidade com a tragédia que alcança não só a Bahia", disse o governador nesta segunda-feira (22), citado pelo Metro 1. "A catástrofe se alastra pelo Brasil e a Anvisa e o governo federal ficam insensíveis e não tomam providências para que tenhamos lotes maiores de vacinas", acrescentou. 

​Para o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), experiências negativas anteriores com outros produtos no Brasil mostram a necessidade de padrões rigorosos de avaliação por parte de uma agência sanitária, para garantir segurança e eficácia "de tudo que se produz e consome em uma sociedade moderna". 

Em entrevista à Sputnik Brasil, o especialista, fundador e primeiro diretor da Anvisa, descreve como "ignorância" ou "cegueira" as críticas que vêm sendo feitas à agência por desempenhar as funções que lhe são cabíveis. 

"Ninguém pode vender nada se não tiver capacidade de responder juridicamente pelo que está sendo oferecido à sociedade. Então, uma empresa que quer vender vacina no Brasil tem que ter o representante legal no Brasil com um responsável técnico. Então, eu não posso aprovar a vacina da Sputnik [V] se não tiver um representante legal. Eu não posso aprovar a vacina da Pfizer se não tiver um representante legal."

Segundo Vecina, uma coisa é aprovar os estudos clínicos realizados com os imunizantes. Outra é aprovar o uso da vacina, que depende, entre outras coisas, de ter uma "personalidade jurídica que se encarregue de pagar pelos prejuízos que, eventualmente, sejam provocados". 

"O que o governador Rui Costa está querendo é impossível do jeito que ele está propondo", afirma o médico. 

Uma vez que tenha o responsável técnico e o responsável jurídico, "tem que ter os estudos de fase I, II e III". E esse, de acordo com o sanitarista, é o problema específico da vacina russa Sputnik V, que, apesar de "fantástica", ainda não tem o estudo de fase III finalizado.

"Ela apresentou 20 mil casos e tem 40 mil. Então, precisa terminar o estudo de fase III."

No caso da Covaxin, produzida pela farmacêutica indiana Bharat Biotech, há uma preocupação, segundo o fundador da Anvisa, com o fato de a Índia ter "uma vigilância sanitária ruim".

"A vigilância sanitária da Índia deu registro para a vacina da Bharat Biotech, sem fase III, só com fases I e II. Existem várias publicações aí hoje, no mundo, demonstrando isso. Por que o Brasil deve aprovar a vacina? 'Ah, porque nós não temos vacina'. Ah, então nós vamos dar qualquer vacina para a nossa população? E quem vai ser responsável caso ocorram mortes? Ou caso não ocorra nada, nem sequer imunização? É a Anvisa que vai ser responsável? Vejam, menos. Vamos entender o que é a lei que exige segurança e eficácia, como ela está sendo realizada e, aí, vamos fazer as críticas." 

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