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Infectologista alerta sobre riscos do Carnaval e indica como se proteger da COVID-19

O infectologista Márcio Neves Bóia teme o aumento do número de casos de COVID-19 no país após o período do feriado de Carnaval, mesmo sem eventos oficiais. Festas clandestinas e relaxamento com início da vacinação podem impactar o sistema de Saúde em março.
Sputnik

Se em 2020 os primeiros casos de COVID-19 foram registrados logo após o fim do Carnaval, neste ano o Brasil tem uma média de 45 mil novos infectados diagnosticados por dia às vésperas do feriado. Mesmo com o cancelamento da festa, de desfiles e blocos, as autoridades temem haver aglomerações e eventos clandestinos. Em entrevista à Sputnik Brasil, o médico infectologista Márcio Neves Bóia alerta sobre os riscos de novos colapsos no sistema de Saúde, como o que ocorreu em Manaus em janeiro.

"A situação é de risco, de fato. Qualquer situação que leve a aglomerações traz um risco muito grande. Pouco antes do Natal, o governo e a prefeitura (do Amazonas e de Manaus) tinham tomado medidas de controle, e houve manifestações de rua contra a proibição de atividades, de aglomeração. Isso foi um ou dois dias antes do Natal, e deu no que deu. É imprevisível. Se não houver realmente um controle, distanciamento social, evitar aglomerações, o risco é grande", afirma Bóia, que é professor de Doenças Infecciosas da Faculdade de Medicina da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e diretor do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro.

O infectologista ressalta a possibilidade de novas cepas do coronavírus atingirem outras cidades se houver a circulação de pessoas no período, que não deixou de ser feriado em muitos locais. O médico pede que as autoridades do país ajam para impedir uma nova disparada do número de casos em algumas semanas.

"No Carnaval, há pessoas que vêm de outras localidades. Poderá haver o vírus já circulante e também os que podem vir de outra região. Então, essa possibilidade de outras cepas e variantes, nesse momento, é um risco muito grande, uma temeridade, se não se houver um controle efetivo disso", afirmou.
Infectologista alerta sobre riscos do Carnaval e indica como se proteger da COVID-19

Bóia frisa ainda que não adianta apenas não ir a festas. Pequenas aglomerações, com familiares e amigos, e ida a praias também contribuem para disseminar a doença. O aumento do número de casos no país em janeiro após as festas de fim ano comprovam isso, segundo o infectologista.

Os riscos para os hospitais

Outra preocupação que não pode ser menosprezada, segundo Bóia, é com os hospitais. Ele lembra que muitas cidades já diminuíram a quantidade de leitos e desmontaram os hospitais de campanha. Se não houver um controle eficaz durante o Carnaval, com a continuidade de medidas de distanciamento social e uso adequado de máscaras, há sérios riscos de uma explosão do número de infectados impactar o sistema de Saúde em março.

"A questão dos hospitais estarem mais preparados é dúbia. Ao mesmo tempo em que durante a pandemia a estruturação permitiu um acúmulo de experiência muito grande dos profissionais de saúde, de médicos e enfermeiros, de manutenção, dos laboratórios, para diminuir a mortalidade da doença, também houve uma desmobilização de outra parte com a diminuição do número de internações. Uma série de instituições diminuíram o número de leitos, de CTI e de enfermaria. Os hospitais de campanha foram desmobilizados", afirma o médico.
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De acordo com o infectologista, se há um aumento súbito do número de casos graves, apesar de os profissionais estarem mais preparados, pode levar tempo até remontar essa infraestrutura. "Pode ser danoso para o atendimento, então o risco é grande se realmente ocorrer um aumento", disse.

Novo fator de risco

Para Bóia, o que ocorreu em Manaus é "um aviso, um alerta". O especialista lembra que, ao fim do ano passado, antes do colapso, muitos acreditaram que a doença estava controlada e relaxaram nas medidas de proteção. Um novo fator de risco neste momento, segundo ele, é o início do processo de vacinação causar a impressão de haver menor risco de contágio.

"A única certeza que temos é: para tentar impedir isso, é preciso fazer o distanciamento social, o controle cada vez mais rígido, com o uso de máscara. As pessoas não podem achar que esse início da vacinação vai ter qualquer impacto no controle da disseminação do vírus. Isso só vai acontecer quando houver grande parte da população imunizada. Então, é preciso enfatizar a cautela, o combate diário a essa ideia de que não precisa fazer o distanciamento social, de que não se deve usar máscara. Isso é fundamental para tentar impedir esse novo aumento de casos da doença", afirmou.
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