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Apenas Brasil e minoria de países são contra quebra de patentes de vacinas, diz especialista

Apenas uma minoria de países, entre eles o Brasil, são contra medida apresentada à OMC que facilitaria acesso de medicamentos e vacinas aos mais pobres, disse especialista à Sputnik Brasil.
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A Índia e a África do Sul são autores de ação na Organização Mundial do Comércio que pede a suspensão de patentes de vacinas até o final da pandemia. O objetivo é democratizar a produção e o acesso aos imunizantes. 

O Brasil é contrário à proposta. Carta elaborada pelo Grupo de Trabalho sobre Propriedade Intelectual (GPTI), formado por 19 entidades da sociedade civil, que atuam na defesa ao direito à saúde pública, pede uma mudança na postura da diplomacia brasileira

Segundo o coordenador do GPTI, Felipe Carvalho, apenas uma "minoria" de países, entre eles os Estados Unidos, nações da Europa e o Brasil, são contra a quebra de patentes. 

"É uma minoria de países que é contra essa ideia. Já tem mais de 100 países que apoiam, é uma queda de braço, e a gente precisa dar voz à população para vencer essa queda de braço, e que a gente tenha a aprovação dessa ideia na OMC. Para que a resposta [à pandemia] seja realmente baseada no acesso para todos, e não na exclusão, na ideia de que vacina e medicamentos são um luxo para poucos", disse o jornalista. 

'Estamos pressionando o governo'

Segundo Carvalho, é "inaceitável" que produtos médicos sejam monopolizados por algumas poucas empresas. 

"Nós estamos pressionando o governo pela quebra das patentes de vacinas, medicamentos, diagnósticos e qualquer tecnologia que seja útil no combate à pandemia da COVID-19. Estamos convencidos de que, sem isso, vamos ficar de novo em um quadro de iniquidade, de exclusão, onde milhões de pessoas não vão ter acesso a essas tecnologias e vão sofrer as consequências", refletiu o coordenador do GPTI. 

Na esfera nacional, Carvalho diz que o grupo está lutando pela aprovação do Projeto de Lei 1462, de 2020, que institui o "licenciamento compulsório, que é a quebra de patentes, para qualquer tecnologia de COVID-19, considerando que é uma emergência de saúde". 

"Monopólios vão atrapalhar a resposta, impedir que mais produtores possam atuar, que mais pesquisas sejam feitas", acrescentou. 

Protestos

Em âmbito internacional, Carvalho afirma que articulação de grupos favoráveis à proposta vem realizando protestos em frente às embaixadas de países que são contra a medida. Cartas chegaram a ser entregues à embaixada do Brasil na Índia e na África do Sul. 

O especialista ressalta que a luta do GPTI é antiga e não se restringe ao combate ao coronavírus. Carvalho cita doenças como AIDS, câncer, hepatite C e tuberculose, argumentando que "sempre há uma exclusão brutal de pessoas que não conseguem pagar" ou de "governos que não conseguem arcar" com medicamentos. 

De acordo com o jornalista, 33% das pessoas com HIV e que precisam de tratamento não têm acesso a remédios, percentual que sobe para 90% no caso da hepatite C. 

'Reescrever a história'

Para Carvalho, no atual estágio da pandemia da COVID-19, o mesmo quadro está se desenhando, mas ainda há tempo é o "de reescrever a história e impedir que isso aconteça de novo".

"O que acontece é que empresas definem os preços, a quantidade, os prazos, e os governos não estão dando uma resposta à altura, estão se submetendo às imposições dessas empresas. A gente acredita que isso pode ser revertido, caso se passe a usar mais esse tipo de instrumento de suspensão de patentes ou licenciamento", afirmou Felipe Carvalho.
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