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Bioeconomia é a melhor aposta para modelo de desenvolvimento da Amazônia, segundo think tank

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, defendeu esta semana um novo modelo de desenvolvimento para a Amazônia, ao participar de reunião do Observatório do Meio Ambiente do Poder Judiciário.
Sputnik

O encontro foi promovido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Em pauta estava o combate ao desmatamento e o investimento em ciência e tecnologia para desenvolver a região.

Na condição de presidente do Conselho da Amazônia, órgão criado para unificar ações do governo na região, Mourão disse que, além do combate ao desmatamento, é necessário investimento em ciência e tecnologia para desenvolver a região. Segundo o vice-presidente, embora a região seja rica em diversidade natural, não existe nenhuma indústria de biofármacos na Amazônia, conforme publicou a Agência Brasil.

Bioeconomia é a melhor aposta para modelo de desenvolvimento da Amazônia, segundo think tank

A Sputnik Brasil conversou com Sergio Leitão, diretor executivo do Instituto Escolhas, associação civil sem fins econômicos, que tem o objetivo de qualificar o debate sobre sustentabilidade por meio da tradução numérica dos impactos econômicos, sociais e ambientais das decisões públicas e privadas.

Perguntado sobre o risco de se iniciar um processo de degradação ambiental por causa do aumento de indústrias na Amazônia, Sergio declarou que esse risco decorre da falta de proteção que o governo federal permitiu que aconteсesse.

"O governo reduziu o orçamento do Ministério do Meio Ambiente, o menor em duas décadas, fazendo com que os recursos para fiscalização, na prática, não chegassem até os fiscais. Só para se ter uma ideia, houve o corte de recursos brutal para se criar de conservação no ano passado, o total de multas aplicadas pelo Ibama em 2020 foi o menor em duas décadas, houve queda de 20% em relação ao ano de 2019 e houve uma queda ainda em relação ao ano de 2018", avaliou Sergio. 

O analista disse que a grande questão da Amazônia hoje não é uma suposta declaração de apoiar atividades industriais, que segundo ele até seriam bem-vindas, exatamente para utilizar recursos da fauna e da flora existente na região, fazer aquilo que se chama bioeconomia, que são soluções baseadas em recursos naturais de forma sustentável, que mantenham a floresta em pé.

"Mas o governo nem faz essa bioeconomia acontecer e nem protege a floresta, uma situação de extrema desproteção, de muita vulnerabilidade, muita ameaça, até porque durante a fase da pandemia no ano passado as atividades de depredação da região não pararam de acontecer", completou o diretor do Instituto Escolhas.

Dados sobre desmatamento da região

Mourão afirmou que de junho do ano passado até o dia 31 de dezembro, em sete meses, foi possível reduzir o desmatamento da região em 17%, quando comparado como o mesmo período de 2019. Mas segundo Sergio, os dados do governo não condizem com a realidade.

Bioeconomia é a melhor aposta para modelo de desenvolvimento da Amazônia, segundo think tank
"A gente gostaria de comemorar esses dados, se eles fossem corretamente apresentados. No ano de 2020 houve um aumento do desmatamento de 9,5% e ele já tinha subido em 2019 34%, portanto não tem essa queda, ao contrário, em 2020 subiu e em 2019 subiu muito", rebateu o analista.

De acordo com o analista, continua-se tendo muito desmatamento e com um agravante no ano de 2020: "O aumento de praticamente 10% se deu em uma situação de redução da atividade econômica do país como um todo. Ou seja, enquanto todas as outras atividades tiveram queda, na Amazônia o desmatamento cresceu".

Qual o melhor modelo de desenvolvimento para a região amazônica?

Para Sergio, o melhor modelo de desenvolvimento para a Amazônia é o da bioeconomia, que significa uma "economia da floresta em pé", a partir da utilização de recursos naturais ali existentes, desde que explorado de maneira absolutamente sustentável e respeitada a legislação brasileira, significando um investimento em atividade que traga renda para as populações amazônicas, para os povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos.

"Aliado a isso, seria preciso uma intensa pesquisa em inovação que gera produtos absolutamente inovadores, que são aqueles que hoje o mundo inteiro busca, exatamente por juntar alta capacitação tecnológica com o respeito ao meio ambiente, é isso que até agora a gente não tem visto o governo Bolsonaro fazer acontecer", continuou o especialista.

Sergio diz ainda que, ao contrário, o presidente Jair Bolsonaro aposta em "coisas do passado", como por exemplo dizer que a mineração em terra indígena vai trazer progresso para a região: "O instituto Escolhas acabou de lançar um estudo mostrando que a mineração é incapaz de gerar desenvolvimento, gerar bem-estar, não trazendo nenhum benefício duradouro para a região em termos de economia. O que ela deixa de duradouro são seus efeitos perversos, negativos, que é muita destruição, muita área contaminada por mercúrio".

"Portanto o estudo mostra que o desenvolvimento da região precisa passar por situações absolutamente diferentes daquelas que estão ligadas ao desmatamento, ao sofrimento de povos indígenas, à poluição da natureza", finalizou.
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