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Além de fã de Trump, não se sabe o que Bolsonaro pensa de política externa, diz especialista

Comportamento do Brasil em relação aos EUA é incógnita, mas pressão de Joe Biden pode fazer governo Bolsonaro admitir ajustes em sua política ambiental, disse especialista à Sputnik Brasil.
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Segundo Carlos Gustavo Poggio, professor de relações internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo, é fácil prever como o novo presidente dos Estados Unidos vai agir na questão ambiental. 

"A gente conhece o Biden, a gente conhece a equipe do Biden, como eles pensam", disse o especialista. 

Durante a campanha nos EUA, o candidato democrata defendeu a criação de um fundo de US$ 20 bilhões (cerca de R$ 109,2 bilhões) para combater o desmatamento na Amazônia. Além disso, propôs sanções econômicas ao Brasil caso o desflorestamento continuasse. 

De acordo com Poggio, "dezenas" de decretos de Biden em seus primeiros dias na Casa Branca já comprovaram as intenções do novo presidente em "avançar" em relação ao tema. Para o especialista, há grandes chances de o fundo ser criado, embora ele dependa "das condições políticas, da negociação com o Congresso e da negociação com outros atores".  

"Não sei se ele vai manter exatamente essa promessa, exatamente com esse valor, mas o que me parece bastante certo é que Biden e a administração dele estão levando muitíssimo a sério essa questão do meio ambiente", opinou o professor. 

Plano de Proteção da Amazônia

Para colocar ainda mais pressão sobre a agenda ambiental, na última sexta-feira (29), coalizão bipartidária de sete ex-secretários de governos anteriores e autoridades da área climática defendeu, em carta enviada a Biden e à vice-presidente Kamala Harris, que as medidas prometidas durante a campanha sejam levadas adiante. 

O documento propõe a criação do Plano de Proteção da Amazônia, com foco em acordos comerciais, regulações financeiras e compromissos de empresas em relação à origem legal da carne e outros produtos.

"É possível que Biden promova alguns encontros nesse sentido, para colocar em pé uma espécie de organização com países que, eventualmente, queiram contribuir para o fundo, talvez contando com a estrutura da ONU, a estrutura de outros organismos multilaterais, provavelmente um dinheiro que deve vir de países desenvolvidos, da Europa, Estados Unidos e, eventualmente, Japão", afirmou o especialista. 

Possibilidade de 'ajustes'

Por outro lado, Poggio ressalta que "a grande incógnita é como o Brasil vai reagir". O professor diz que, por sua origem militar, o tema da Amazônia é "bastante sensível" ao presidente Jair Bolsonaro. 

"É uma questão que ele enxerga como um tema importante de soberania nacional, e, portanto, claramente é difícil haver algum tipo de mudança de postura nesse sentido", disse o professor. 

No entanto, Poggio afirma que, "talvez visando uma boa relação com os Estados Unidos, pode ser possível que haja alguns ajustes". Ao mesmo tempo, ele considera difícil apontar "qual o limite desses ajustes, até onde o governo vai estar disposto a ceder".

'Estamos prestes a descobrir'

O especialista conclui que o Brasil pode caminhar para dois cenários. O primeiro, "bastante negativo", seria de isolamento no sistema internacional, com o país "querendo agir sozinho e sem preocupação com os parceiros".

O segundo, "um pouco mais positivo", seria a "administração Bolsonaro demonstrar alguma abertura" para discutir o tema ambiental. Para Poggio, esse caminho é "possível, mas menos provável". 

"A gente não sabe muito sobre o que pensa Bolsonaro em termos de política externa para além do fato de que ele é um grande fã do Donald Trump. Então, estamos prestes a descobrir", disse Gustavo Poggio.
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