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COVID-19: suspensão de voos entre Portugal e Brasil já causa transtornos; veja histórias

A suspensão de voos entre Portugal e Brasil, que entrou em vigor nesta sexta-feira (29), já causa transtornos àqueles que precisam se deslocar entre os dois países. Sputnik Brasil entrevistou brasileiros com voos cancelados, atrasando a volta ao trabalho, às aulas e encontros familiares.
Sputnik

A decisão foi tomada pelo governo português nesta quarta-feira (27), em decorrência do aumento do número de mortes e de casos de COVID-19, que tem superado recordes sucessivamente em Portugal, mas também em função da nova variante brasileira do SARS-CoV-2, apesar de o Itamaraty negar. Por conta dessa estirpe, o Reino Unido já havia suspendido voos oriundos do Brasil e de Portugal, alegando os fortes laços entre os dois países.  

Enquanto concedia entrevista à Sputnik Brasil, Klebson Silva, em seus últimos dias de férias com a família em São Paulo, já comemorava o fato de seu voo de volta a Portugal ter sido mantido para esta sexta, até enviar o print da passagem para este correspondente em Lisboa. No itinerário Campinas-Lisboa constava, contudo, não mais a data de 29 de janeiro, mas 3 de fevereiro, dia em que ele retorna ao trabalho. 

Ao ser alertado pelo jornalista, Silva entrou em contato com a companhia aérea e conseguiu antecipar o voo para o meio-dia, mas saindo do Aeroporto de Congonhas, com conexões em Salvador e Madri. No total, quase 24 horas de saga, quando o voo direto duraria menos da metade do tempo. Ainda assim, ele agradece por conseguir voltar a Portugal, mas critica a suspensão dos voos em decorrência da pandemia de COVID-19. 

"Foi o voo mais rápido que consegui. Para pessoas como eu, essa suspensão acaba por prejudicar o trabalho. Se eu não tivesse esse voo, minha empresa compreenderia o meu lado, não ia ser desligado, mas teria os dias de trabalho descontados. Não são todos que têm a mesma sorte, com uma empresa que consegue dar esse 'benefício'. Acaba prejudicando muitas pessoas, até gerando mais desemprego", avalia Klebson Silva.

A carioca Helena Maria da Costa Silva está com a vida em compasso de espera. Ela cursa um mestrado em Ciências da Educação no Porto e tinha uma passagem marcada para lá no dia 9 de fevereiro, mês em que começam as aulas do segundo semestre. Até que veio a notícia sobre a proibição dos voos do Brasil para Portugal. Agora, aguarda para ver se a medida vai vigorar apenas até o dia 14 do próximo mês, como foi anunciado inicialmente, ou se será prorrogada, assim como o lockdown o foi em terras lusitanas.

"É muito chato, né. Mas compreensível. Vou ligar para a TAP para remarcar a passagem assim que abrir. Não tem muito o que fazer", diz Helena à Sputnik Brasil.
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Ela conta que alugou um quarto no apartamento de estudantes brasileiras no Porto, pelo qual paga € 260 (R$ 1.713) mensais. Dinheiro que vai continuar a desembolsar mesmo se não conseguir embarcar até o fim de fevereiro, pois tem que ajudar com as despesas para garantir a hospedagem. 

"Eu me comprometi com elas a ir pagando o meu quarto, porque elas não têm como arcar com o aluguel sozinhas. Senão, vão precisar encontrar outra pessoa para ocupar o quarto. Fiz duas unidades curriculares à distância nesse semestre que passou e, agora, vou para o Porto fazer os outros semestres. No próximo, estou inscrita em quatro", explica.

Com voo cancelado, procurador de Niterói vai perder compromissos de trabalho

Quem mora em Portugal e tenta fazer o caminho inverso também vai passar a encontrar mais dificuldades pela frente. Nesta quinta-feira (28), o Conselho de Ministros aprovou decreto que prorroga o estado de emergência até o dia 14 de fevereiro e impõe a limitação às deslocações para fora do território continental, por parte de cidadãos portugueses, efetuadas por qualquer via, seja rodoviária, ferroviária, aérea, fluvial ou marítima. A medida entra em vigor no domingo (31).

"Os portugueses estão proibidos de viajar para o estrangeiro", disse a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva.

Na prática, não só os portugueses. Gilson Dias, procurador municipal de Niterói, estava de férias com a esposa no Porto, com passagem de volta para o Rio de Janeiro marcada para este sábado (30), mas seu voo foi cancelado. A companhia aérea remarcou uma nova data para 15 de fevereiro. No entanto, nessas duas semanas, ele e sua mulher perderão compromissos de trabalho. Em uma rede social, ele desabafou: "Estou sitiado em Portugal em razão do fechamento das fronteiras."

"Fui prejudicado com essa mudança repentina. Muito ruim, pois prejudicou os meus compromissos e de minha esposa com o trabalho. Ela é médica, também estava de férias e ficou prejudicada, pois não conseguirá estar nos trabalhos onde ela atua. Agora, teremos que justificar com força maior, que exclui a responsabilidade", conta Gilson Dias à Sputnik Brasil.

A preocupação maior dele, entretanto, é a de que a medida de suspensão de voos seja renovada a partir do dia 14 de fevereiro e que a companhia aérea cancele novamente o voo que foi remarcado para o Brasil no dia 15. Advogado, Dias compreende, contudo, que o governo tinha que tomar medidas mais drásticas para conter a pandemia. 

"Apesar de ter ficado chateado, entendo que a medida era necessária para a defesa do interesse público. Sempre que entra em choque um interesse público com privado, o público deve prevalecer", pondera.

Mineira faria surpresa para família, mas não vai poder comemorar aniversário no Brasil  

A mineira Michelle Pandora estava com viagem marcada para Belo Horizonte. Iria no dia 12 de fevereiro e voltaria no dia 28 para Lisboa, onde mora. A ideia era comemorar o seu aniversário, no dia 27, e fazer uma surpresa para seus familiares brasileiros. No entanto, foi ela que acabou sendo surpreendida com a suspensão dos voos. Apresentadora da TV Caras, ela esteve pela última vez no Brasil em novembro, mas a trabalho.   

"Comprei passagem e, ontem [quarta], chegou a mensagem falando sobre a suspensão. Perdi meu voo. Já entrei em contato com a companhia aérea para eles me deixarem de crédito. Infelizmente, não vou conseguir ir, e tirou a comemoração do meu aniversário. Precisei contar aos meus familiares. Eles ficaram tristes, mas entendem a situação por conta da pandemia", lamenta Michelle. 
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Questionada por Sputnik Brasil se não pensou em remarcar a passagem a partir do dia 14, quando, em tese, acaba a suspensão, a apresentadora foi realista sobre o risco de não conseguir retornar a Portugal. 

"É um pouco arriscado tentar ir novamente e também não conseguir voltar. A gente não sabe como vai estar. Em abril, já tenho viagem marcada para lá novamente. Mas é tudo imprevisível ainda. Não sabemos como as coisas vão estar. Mas tenho fé que vão melhorar", torce.

A gaúcha Giuliana Almada estava com voo marcado para este sábado (30), de Lisboa para Porto Alegre, onde pretendia passar duas semanas, de férias, com a sua família. Ela havia comprado as passagens pelo site da Decolar.com. Agora, não consegue descobrir para quando vai conseguir fazer a remarcação. 

"Por enquanto, a única informação que tenho é de que a passagem está em processo de 'reprogramação de voo', e de que preciso aguardar a companhia aérea (LATAM) passar alternativas disponíveis. Já no site da LATAM não há qualquer informação. Meu voo de ida simplesmente sumiu. Ou seja, estou em um limbo", relata Giuliana.
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Ela trabalha como freelancer e, por isso, tem mais flexibilidade em remanejar seu tempo. No entanto, reconhece que o imprevisto afetou a sua programação e vai tentar adequar sua agenda às circunstâncias.

"Eu tinha adiantado bastante trabalho para ficar um pouco mais livre durante a estadia lá. Então, o que vou fazer é pegar mais trabalho para essas próximas semanas. Quando eu souber a data em que vou [viajar], por fim, terei que reorganizar o planejamento", prevê. 
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