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Pré-sal: especialista comenta o que o Brasil pode ganhar com óleo encontrado no campo de Búzios

A Petrobras celebrou a descoberta de óleo de "ótima qualidade" após a perfuração de um poço localizado no campo de Búzios, na Bacia de Santos. Para compreender a importância da região que a empresa considera uma "galinha dos ovos de ouro", a Sputnik Brasil conversou com Pedro Celestino, presidente do Clube de Engenharia.
Sputnik

Localizado no extremo noroeste do campo de Búzios, na Bacia de Santos, o poço está a 188 km da cidade do Rio de Janeiro e foi perfurado em uma profundidade de 1.850 metros, na camada do pré-sal.

Segundo um comunicado emitido pela Petrobras, testes realizados a partir de 5.540 metros de profundidade confirmaram a presença de reservatórios de petróleo de "ótima qualidade". A descoberta, diz a empresa, "reforça o potencial do pré-sal no campo de Búzios".

O presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino, reconhece a importância do campo de Búzios para produção de petróleo no Brasil. Ele lembra que os poços da região têm uma "taxa de sucesso em perfuração equivalente à da Arábia Saudita".

Segundo ele, "a descoberta confirma o que já existia. O potencial desde campo já é amplamente conhecido. Sabíamos o que poderíamos encontrar nesse campo, e isso apenas confirma que Búzios continuará a ser por muitos anos o maior campo de petróleo do Brasil".

Pré-sal: especialista comenta o que o Brasil pode ganhar com óleo encontrado no campo de Búzios
O engenheiro de petróleo e ex-CEO da Aker Solution, Luis Antônio Araújo, que também foi ouvido pela Sputnik Brasil, concorda com este sentimento. Para ele, "a cada descoberta que é feita no pré-sal brasileiro, confirma-se o entendimento de que o Brasil caminha para ser um dos protagonistas na produção de petróleo.

"Descobertas como essa acabam tornando o Brasil em um destino importante de capital no mercado exterior. As pessoas estão interessadas no volume de petróleo produzido aqui. Isso é muito importante para manter o Brasil um país atrativo para o mercado internacional", afirmou Luis Antônio.

Não é um segredo que a Petrobras entende o campo de Búzios como uma "galinha dos ovos de ouro". Búzios é, afinal, o maior campo de petróleo em águas profundas do mundo, e atualmente o ativo mais valioso da empresa. Segundo a Petrobras, as plataformas instaladas no campo de Búzios, no pré-sal da Bacia de Santos, bateram recentemente novos novos recordes mensais: 615 mil barris de óleo por dia (bpd) e 765 mil barris de óleo equivalente por dia (boed) em julho.

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O reservatório de Búzios está localizado em uma profundidade de sete mil metros, sendo dois mil metros de lâmina d’água. São mais de 40 poços perfurados no campo, além de diversos dados que confirmam um alto volume total de óleo no reservatório.

Ao ser apresentado a esses números, Luis Antônio fez elogios à produção de petróleo no Brasil e disse que descobertas como essa "fazem do Brasil um grande atrativo". Porém, fez apenas uma ressalva. "Isso prova também que o Brasil continuará sendo uma província, justamente no momento em que o mundo olha com atenção para formas renováveis de energia". 

É importante frisar que Búzios está sob o regime de Cessão Onerosa, tendo a Petrobras como operadora a 100%. Em 2019, a Petrobras adquiriu 90% no Contrato de Partilha de Produção para os Volumes Excedentes, em parceria com as companhias chinesas CNOOC Petroleum Brasil Ltda. (CNOOC), com 5%; e a CNODC Brasil Petróleo e Gás Ltda. (CNODC) com o restante.

Em março de 2020, a Petrobras assinou o contrato de partilha de produção, tendo a CNOOC e a CNODC como parceiras, e a Pré-Sal Petróleo S.A (PPSA) como gestora. Conforme já anunciou a estatal, as partes vêm discutindo a estratégia global de desenvolvimento do campo e as demais questões relacionadas ao acordo de coparticipação, cuja vigência está prevista para iniciar em 2021 e que regulará a coexistência dos contratos de cessão onerosa e de partilha de produção.

Ambos entrevistados pela Sputnik Brasil comentaram o regime de Cessão Onerosa. Luis Antônio Araújo explicou que a cessão onerosa "é uma parte do petróleo que a Petrobras exploraria em nome do governo com o objetivo de atrair outros produtores que queiram investir para retirar esse óleo do Brasil".

Com relação a este modelo de partilha, Pedro Celestino possui reticências. Para ele, é lamentável que a Petrobrás "tenha uma visão estritamente financeira".

"Isso a coloca como uma empresa sem compromisso com o desenvolvimento brasileiro. A sua direção atual é predatória, que abre mão daquela que foi a característica principal da Petrobras, que é de ser uma empresa integrada, que vai desde a exploração de petróleo até o fornecimento de petroquímicos", sustenta Pedro Celestino.

Pedro Celestino se refere, também, à venda das refinarias da Petrobras. Em outubro deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a venda de refinarias da empresa, processo que havia sido contestado pelo Congresso. Em 2019, a Corte decidiu que a privatização de estatais precisaria do aval dos parlamentares. No entanto, o mesmo Supremo entendeu depois que a venda de subsidiárias da Petrobras não afronta esse princípio. 

No epicentro desta questão sobre a venda de refinarias está o entendimento sobre o que seria um projeto de desenvolvimento para o Brasil. Pedro Celestino aponta que a Petrobrás já foi a "garantia da nossa independência energética".

​De 2015 para cá, porém, "passamos a uma condição de fornecedores de petróleo bruto para o mundo, e importadores de refinados e petroquímico. Passamos a visão colonizada e dependente das multinacionais. É o que ocorre com a Nigéria e os países do Oriente médio. São os maiores países produtores de petróleo no mundo, e que são mantidos na miséria enquanto as plutocracias enriquecem", disse o presidente do Clube de Engenharia.

Pré-sal: especialista comenta o que o Brasil pode ganhar com óleo encontrado no campo de Búzios
Pedro Celestino lembrou que Petrobras chegou a gerar mais de 800 mil empregos qualificados no Brasil. Era responsável por uma cadeia produtiva que mobilizava mais de 5 mil empresas nacionais e estrangeiras, que contribuíam para sua expansão. "Hoje, a partir essa visão predatória, há uma regressão inconcebível em nosso processo de desenvolvimento. A empresa está sendo destruída como se fosse uma alcachofra, pétala a pétala"

De acordo com ele, trata-se de "uma operação conduzida de fora, pelos EUA, e a pretexto de uma pauta que une nós todos: o combate à corrupção. A Petrobras passou a ser símbolo de corrupção, de ineficiência, de um Estado que não atende aos interesses do povo. E isso contou com a colaboração generosa da Dilma Rousseff, que colocou uma diretoria, em 2015, comprometida com a destruição da Petrobras. Isso começou ali, passou pelo Pedro Parente, e agora mantém-se com o Castelo Branco", concluiu.

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