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Caso de Flávio Bolsonaro prejudica aspirações do Brasil na OCDE?

Depois de novas revelações sobre o suposto envolvimento da Abin na orientação da defesa de Flávio Bolsonaro no caso das "rachadinhas", a OCDE teria manifestado preocupação com o compromisso do governo brasileiro no combate à corrupção.
Sputnik

Em reportagem publicada pela revista Época no último sábado (11), a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) teria orientado a defesa do senador Flávio Bolsonaro (PSC-RJ) para conseguir a anulação do caso Queiroz.

A revelação teria chamado a atenção de diplomatas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), conforme escreveu o UOL, sobre o compromisso do Brasil em relação ao combate à corrupção, que é um dos principais requisitos para ingressar no órgão internacional.

O professor de Relações Internacionais da UFRJ, Fernando Brancoli, em entrevista à Sputnik Brasil, lembrou que a entrada na OCDE esteve em pauta desde o início do governo Bolsonaro a fim de adequar as estruturas burocráticas brasileiras para ser um país mais aberto e mais liberal, modernizando o Brasil dentro de uma estrutura internacional.

Caso de Flávio Bolsonaro prejudica aspirações do Brasil na OCDE?

"A OCDE entrou muito cedo na agenda do Bolsonaro, principalmente por causa do [ministro da Economia] Paulo Guedes. A ideia é que seria um mecanismo internacional que obrigaria o Brasil a adotar certas premissas liberais, principalmente na economia, algumas mudanças estruturais no governo, que facilitariam a implementação dessa agenda", afirmou.

De acordo com ele, a notícia sobre o suposto envolvimento da Abin com a investigação de Flávio Bolsonaro no caso das chamadas "rachadinhas" pode sugerir que o Brasil não estaria se adequando às rígidas estruturas burocráticas da OCDE.

"Há uma ligação com o caso do Flávio Bolsonaro, porque a OCDE tem uma série de estruturas burocráticas e normativas sobre como os Estados devem se comportar no que diz respeito à transparência do governo e a maneira com a qual ele constrói estruturas de informação. Então pensando que a OCDE seria esse 'clube dos países ricos e democráticos', de alguma forma o Brasil estaria passando por cima desse tipo de prerrogativa e de dimensão", argumentou.

O especialista observou que a OCDE entrou na agenda do governo porque o ingresso na organização serviria como uma espécie de "chancela ou a materialização" da nova relação do Brasil com os EUA.

"Vale lembrar também que a OCDE entrou nessa agenda porque seria uma maneira do Brasil explicitar o apoio do governo norte-americano ao Bolsonaro, lembrando que Trump supostamente teria apoiado a entrada do Brasil, o que depois ficou um pouco esquisito, porque o Trump acaba preferindo a Argentina no primeiro momento", acrescentou.

Já o cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, disse à Sputnik Brasil que há também uma preocupação da OCDE em relação à questão do desenvolvimento sustentável, que significa um desenvolvimento econômico sem deixar de lado as questões sociais e, principalmente, as ambientais.

De acordo com ele, o país tem uma imagem no exterior muito comprometida em relação às questões ambientais e de desenvolvimento humano, tendo em vista a enorme repercussão das "ações ou as omissões do governo na área ambiental, especialmente na Amazônia e no Pantanal".

Caso de Flávio Bolsonaro prejudica aspirações do Brasil na OCDE?

Para o cientista político, o caso que relaciona a Abin com a investigação das "rachadinhas" de Flávio Bolsonaro reforça a imagem negativa do Brasil no exterior, prejudicando as perspectivas do Brasil de entrar na OCDE.

"O caso revelado, a respeito de dois relatórios da Abin, produzidos no bojo de órgãos oficiais do governo para a defesa do filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro, no caso das rachadinhas, gera uma dúvida entre a separação da esfera pública e os interesses privados, dentro do governo ou mesmo nas instituições da democracia brasileira", disse.

Rodrigo Prando declarou que "tudo isso, de certa maneira, acaba impactando a imagem do Brasil, então as perspectivas para o Brasil acessar a OCDE não são boas nesse momento".

"Sem dúvida é mais um elemento somado à questão ambiental ou do desenvolvimento humano. Muitas vezes são as declarações do presidente, que foram contrárias à democracia e ao Congresso Nacional, tudo isso que foi noticiado impacta. E este caso da Abin é mais um que pode colocar obstáculos que podem se tornar intransponíveis do desejo do Brasil de acessar a OCDE", completou o cientista político.

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