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A Black Friday pode servir de escudo para o Brasil fugir da crise em 2020?

A Sputnik Brasil conversou com o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio para saber quais os efeitos positivos que a Black Friday pode proporcionar ao varejo em 2020, um ano difícil para o setor devido à pandemia de COVID-19.
Sputnik

A Black Friday é uma data comemorativa do comércio que foi importada dos Estados Unidos e acontece sempre na quarta sexta-feira do mês de novembro, um dia depois do feriado norte-americano de Ação de Graças.

Ela começou no Brasil em 2010 como um fenômeno exclusivamente on-line, de segmentos específicos do varejo: eletroeletrônicos, eletrodomésticos, móveis, etc. Aos poucos, a data ganhou peso no setor e, atualmente, já figura entre as cinco mais importantes do comércio no país.

O ano de 2020, no entanto, tem sido muito difícil para o varejo devido às medidas de restrição impostas pela pandemia do novo coronavírus, que obrigaram muitas lojas a ficarem fechadas por um longo período. Para Fábio Bentes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), a Black Friday de 2020 tem um significado especial para o setor, já que a expectativa é que "ela gere a maior movimentação financeira" desde o início da data comemorativa no Brasil há dez anos.

Além disso, Bentes ressalta que "a Black Friday de 2020 será a principal data comemorativa do varejo a registrar crescimento este ano. Todas as demais registraram perdas". 

Termômetro para o Natal

O economista-chefe da CNC destaca que a Black Friday cresceu muito nos últimos anos porque vem sendo utilizada, há algum tempo, como uma espécie de prévia do Natal. Inclusive, ela fez a data natalina perder um pouco da relevância que tinha há alguns anos para o comércio, dada a proximidade entre ambas. 

"A Black Friday é uma boa oportunidade tanto para os lojistas, que a utilizam como um termômetro de como serão as vendas no fim do ano, quanto para o consumidor, que aproveita os descontos para adquirir produtos natalinos de forma antecipada", assinala.

Disparidade entre o varejo físico e o virtual

A Sputnik Brasil circulou pelo centro do Rio de Janeiro na véspera (26) da Black Friday e conversou com alguns lojistas. A maior parte dos vendedores, em especial os que dependem mais das vendas físicas, constatou que o movimento este ano foi muito afetado pela pandemia. Alguns deles, inclusive, disseram que este foi o pior ano em mais de duas décadas de trabalho no comércio do centro da cidade.

Fábio Bentes atesta que, de fato, "quando você faz uma pesquisa pelo varejo físico, no centro de grandes cidades acometidas pela pandemia, como é o caso do Rio de Janeiro, o sentimento dos lojistas não é de otimismo, não por conta da Black Friday, mas por conta do que vem acontecendo na economia, no país, em termos de impacto da pandemia".

No entanto, ele afirma que a Black Friday vai crescer porque, apesar de o varejo físico estar sofrendo muito com a pandemia, "o varejo eletrônico foi uma alternativa que o próprio setor encontrou para, em um primeiro momento, tentar diminuir as perdas do início da pandemia, e depois se recuperar".

Segundo Bentes, as vendas no varejo este ano cresceram 45% em termos de volume e registram um aumento de 110% no número de pedidos. Além disso, ainda de acordo com o economista-chefe da CNC, o aumento esperado na Black Friday é da ordem de 61% no comércio eletrônico e de apenas 1,1% no varejo físico, o que indica que "são dois universos completamente diferentes dentro de um mesmo setor".

Semana do Brasil

Em 2019, empresários do setor do comércio ligados ao governo de Jair Bolsonaro coordenaram a iniciativa da Semana do Brasil, um período de descontos durante a semana do Dia da Independência, emulando a Black Friday, para tentar atrair mais consumidores em um mês que registra desempenho fraco historicamente. Para Bentes, contudo, não existe comparação entre a Semana do Brasil e a Black Friday.

"A Black Friday é uma data que já está amadurecida no calendário do varejo, enquanto a Semana do Brasil é um movimento muito novo ainda. [...] O que diferencia as duas, basicamente, é o fato de que a Black Friday foi um movimento não coordenado por várias empresas do varejo, enquanto a Semana do Brasil foi um movimento coordenado por empresários ligados ao governo, em uma tentativa de fomentar as vendas, mas estamos falando de patamares bem diferentes de vendas. A Semana do Brasil ainda é muito recente", avalia o especialista.

Segunda onda de COVID-19

Durante as conversas com os comerciantes no centro do Rio, a Sputnik Brasil percebeu que havia um certo temor entre os lojistas com a chegada de uma segunda onda da pandemia no país. Para os comerciantes, se houver uma nova onda de fechamentos, muitos estabelecimentos não conseguirão sobreviver, pois a maioria sequer se recuperou da primeira.

Fábio, por sua vez, aponta que uma possível segunda onda "afetaria o varejo de uma forma muito parecida com a primeira", mas que tudo vai depender da força de um eventual novo surto.

"A situação preocupa, mas o setor não vai começar do zero. O varejo já desenvolveu estratégias bem-sucedidas e o governo adotou medidas muito assertivas no sentido de diminuir o impacto da pandemia [...] Passada a fase mais aguda da pandemia, é possível ver que já temos quatro meses com geração de postos formais de empregos, o que reflete que a economia está se recuperando da COVID-19", comenta.

Para o economista-chefe da CNC, essa recuperação vai depender muito da força da eventual segunda onda, e o pior que pode acontecer são novas medidas de restrição e fechamentos. 

"O lockdown, do ponto de vista do caixa das empresas, causa um estrago, pois as vendas físicas ainda cumprem um papel relevante frente ao consumo como um todo. Olhando apenas do ponto de vista do caixa das empresas, o aumento das restrições, caso seja implementado, vai fazer o comércio sentir assim como aconteceu no início da pandemia", conclui Fábio Bentes.
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