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Pessimismo com Brasil e Argentina tem razões políticas e econômicas, diz especialista

Piora de indicador de clima econômico do Brasil e Argentina, na direção oposta do restante da América Latina, deve-se à pandemia e razões estruturais e políticas, disse especialista à Sputnik Brasil.
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Medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Indicador de Clima Econômico (ICE) da América Latina, apesar de ainda estar em nível desfavorável, apresentou ligeira melhora, anunciou a instituição nesta terça-feira (24). 

O índice saiu de 43,2 pontos negativos para 39,3 pontos negativos entre o terceiro e quarto trimestre de 2020, evolução de 3,9 pontos. O ICE é uma média geométrica entre o Indicador da Situação Atual (ISA) e o indicador de Expectativas (IE). Ou seja, a percepção atual da economia e de qual será sua situação nos próximos seis meses. 

O ISA da região passou de 98 pontos negativos para 93,6 pontos negativos, uma melhora de 4,4. Já o IE passou de 41,1 pontos positivos para 42,8 pontos positivos, uma alta de 1,7 ponto.

Argentina tem 'problemas profundos'

A ligeira recuperação se deve à percepção de que a pior fase da pandemia do coronavírus já passou, e daqui para frente a América Latina se recuperaria. No entanto, dois países destoaram dessa percepção, Brasil e Argentina. 

Para a economista Lia Valls, pesquisadora associada à Fundação Getúlio Vargas e ao Instituto Brasileiro de Economia (FGV/IBRE), o desempenho de nações do tamanho do Brasil influenciam o restante da região. Segundo a especialista, "no caso da Argentina a situação já não estava boa mesmo antes da pandemia". Além disso, o país tem "problemas econômicos profundos". 

A Argentina estava com problema de não conseguir controlar bem a sua inflação, um problema que já tem tempo. Também tem um problema de renegociação da dívida externa, além de uma série de problemas internos, uma grande perda na área fiscal, um aumento enorme do desemprego. A pandemia veio agravar a situação na Argentina", avaliou Valls. 

Na Argentina, o ICE recuou 13,5 pontos, para 41 pontos negativos no quarto trimestre. No Brasil, a piora foi menor: o indicador passou de 32 pontos negativos para 32,8 pontos negativos entre o terceiro e o quarto trimestre. O país com o melhor ICE é o Paraguai (14,8 pontos negativos), seguido do Uruguai (21,4 pontos negativos) e da Colômbia (28,5 pontos negativos).

Lockdown foi 'acertado'

A economista diz ainda que a decisão do governo argentino de fazer um rigoroso lockdown foi "acertada", com um "resultado extremamente positivo" para conter a disseminação da COVID-19 no início da pandemia. No entanto, "quando começou a relaxar, houve uma piora muito grande no quadro", ponderou a especialista. 

"Isso deu uma sensação de piora grande pois afetou novamente a questão da expectativa de poder retomar a economia", afirmou Valls. 

Brasil: mais reformas

No Brasil, ela diz que, se voltarmos a janeiro de 2020, até havia uma "expectativa favorável ao crescimento econômico do país". Parte da reversão das previsões, segundo ela, deve-se ao "choque da pandemia", pois "todos os países passaram a ter uma recessão e o Brasil não fugiu à regra". 

Mas, além disso, Valls aponta a instabilidade política e a indecisão do governo como outros fatores que levam os especialistas a não verem as nuvens carregadas se dispersando do céu brasileiro. Para ela, o país conseguiu realizar apenas a reforma da Previdência e "certa reforma na área do trabalho", mas deixou de lado outras "consideradas fundamentais". 

Volta da inflação

"O Brasil tinha uma série de reformas que estava na agenda do governo e, naturalmente, com a questão da pandemia, e por problemas internos, o governo não conseguiu levar adiante. Começou a haver um crescimento maior do pessimismo em relação à capacidade do atual governo de promover a reforma fiscal, que garante um melhor equilíbrio das contas públicas brasileiras”, opinou Lia Valls. 

Como agravante da situação no Brasil, a economista cita ainda dúvidas quanto a uma possível segunda onda do coronavírus, a "volta da questão inflacionária", influenciada pela "alta dos preços das commodities", e também uma "incerteza muito grande em relação ao que o governo deseja", particularmente sobre o auxílio emergencial, que "pode impactar a renda e portanto o PIB" brasileiro.
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