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'Concordar sobre todos os assuntos é impossível': presidência russa do BRICS apresenta resultados

O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, debateu os resultados da presidência russa do BRICS e garantiu que o grupo "vem com bagagem sólida para a Cúpula de Chefes de Estado" da semana que vem.
Sputnik

Nesta quarta-feira (11), o Clube Valdai de Discussões recebeu o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, para conversar sobre o trabalho do grupo do BRICS em 2020.

Sob presidência da Rússia, grande parte das atividades do grupo, que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, foi transferida para o formato on-line, em função da pandemia de COVID-19.

"Já foram realizados mais de cem encontros, dentre eles dezenas a nível ministerial", disse Ryabkov. "A nossa parceria já conseguiu consolidar certa imunidade a crises internacionais."

Posso garantir que todas as principais áreas de cooperação – política, de segurança, econômica, financeira, cultural e social – foram capazes de manter o ritmo de cooperação.

No entanto, o ministro admite que "as cúpulas on-line não substituem o contato pessoal [...] por isso nós esperamos ansiosamente o momento no qual as restrições impostas pela pandemia serão retiradas e o trabalho voltará ao formato off-line".

'Concordar sobre todos os assuntos é impossível': presidência russa do BRICS apresenta resultados

Para ele, as questões do combate a doenças e recuperação econômica no período pós-pandemia ganharam destaque nos debates deste ano, apesar de que esses assuntos "já estavam na agenda do BRICS há muito tempo".

"O Banco de Desenvolvimento do BRICS estabeleceu um mecanismo para financiamento de medidas para o combate à COVID-19 e recuperação econômica", relatou Ryabkov.

Segundo ele, "os países-membros do banco poderão receber créditos que totalizam US$ 10 bilhões, para ações de combate ao vírus, para o pagamento de agentes de saúde, compra de equipamentos médicos, desenvolvimento de vacinas e para medidas governamentais de recuperação econômica".

De acordo com Philani Mtbemmbu, diretor-executivo do Instituto para Diálogo Global da África do Sul, seu país "já recebeu a sua cota de financiamento, o que demonstra que o banco pode atuar materialmente pelo fortalecimento institucional do BRICS".

'Concordar sobre todos os assuntos é impossível': presidência russa do BRICS apresenta resultados

Para Ryabkov, ações como essa corroboram que o BRICS pode propor "um sistema internacional multipolar, mais democrático, que respeite a soberania dos Estados e o direto de trilhar seu próprio caminho rumo ao desenvolvimento".

Desentendimentos

Além da pandemia, o ano de 2020 foi repleto de crises internacionais e desentendimentos entre os próprios países do BRICS.

As potências nucleares Índia e China se engajaram em combates militares em região fronteiriça contestada no Himalaia, deixando o mundo à beira de um enfrentamento entre as duas maiores populações do planeta.

'Concordar sobre todos os assuntos é impossível': presidência russa do BRICS apresenta resultados

"No BRICS, por mais que nem sempre falemos em coro, é mantida a posição de respeito mútuo e não violação das linhas vermelhas de cada membro do grupo", disse a gerente do comitê russo da plataforma BRICS de pesquisa acadêmica, Viktoria Panova.

Segundo ela, "o problema que surgiu entre duas grandes potências do grupo não influenciou negativamente o trabalho do BRICS".

Pelo contrário, "o grupo foi uma plataforma na qual especialistas dos dois países puderam debater alguns pontos preocupantes de sua agenda política".

"Concordar sobre todos os assuntos é impossível, afinal é do contencioso que surge a verdade. Então a própria existência de diferenças faz o BRICS avançar", concluiu Panova.

O que não deu certo?

A presidência pró-tempore da Rússia do grupo BRICS só termina em 31 de dezembro deste ano, mas a Sputnik Brasil quis saber quais os objetivos que Moscou não conseguiu atingir como líder do grupo nesse ano.

"Com certeza, as ambições iniciais estão sempre um pouco acima dos resultados", concedeu Ryabkov, dizendo que é "impossível negar que a pandemia trouxe obstáculos à nossa presidência em 2020".

"Nós havíamos traçado a meta de finalizar até a Cúpula de Chefes de Estado deste ano o acordo para a criação da Constelação de Satélites de Sensoriamento Remoto", disse o vice-ministro, em resposta à pergunta da Sputnik Brasil.

"Mas como esse tema é muito técnico e específico [...] vimos que, nesse período, não foi possível", disse Ryabkov. "Mas não desistimos e vamos continuar trabalhando nesse tema."

'Concordar sobre todos os assuntos é impossível': presidência russa do BRICS apresenta resultados

A Constelação de Satélites de Sensoriamento Remoto utilizaria satélites já em órbita de países do grupo para o compartilhamento de informações.

Os satélites participantes seriam o brasileiro CBERS 04, o russo Kanopus V1, o indiano Resourcesat-2 e os chineses Gaofen-1 e Ziyuan-3. A África do Sul ficaria à cargo do centro terrestre de agregação de dados.

As imagens e informações coletadas pelos satélites do BRICS poderiam não só aumentar a eficiência das observações terrestres dos cinco países, mas também servir como base de dados para o Banco de Desenvolvimento do grupo.

Mesmo que a constelação ainda tenha que esperar, o vice-ministro russo está otimista.

"Tenho o prazer de declarar que o grupo vem com bagagem sólida para a Cúpula de Chefes de Estado, que ocorrerá na próxima semana em formato on-line", concluiu Ryabkov.

Após presidência do Brasil em 2019, a Rússia está a cargo das atividades do BRICS em 2020. A Cúpula de Chefes de Estado, ponto alto da agenda anual do grupo, ocorrerá em 17 de novembro, em formato on-line, e contará com a presença dos presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, da Rússia, Vladimir Putin, da China, Xi Jinping, e da África do Sul, Cyril Ramaphosa e do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.

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