Vaticano diz que declarações do Papa sobre união civil de homossexuais foram tiradas de contexto

Documentário sobre Francisco emendou falas de antiga entrevista, diz Secretaria de Estado, mas nota confirma que casais gays têm direito à proteção legal.
Sputnik

Em informação divulgada nesta segunda-feira (2) sobre nota oficial enviada semana passada para seus embaixadores, o Vaticano disse que os comentários do Papa Francisco sobre as uniões civis gays foram tirados do contexto em um documentário que emendou partes de uma entrevista antiga, informou a agência Reuters. Ainda assim, a Secretaria de Estado confirmou a crença de Francisco de que os casais gays devem gozar de proteções legais.

A Santa Sé emitiu orientações aos seus representantes diplomáticos para explicar o tumulto que os comentários de Francisco criaram após a estreia do filme "Francesco", em 21 de outubro, no Festival de Cinema de Roma. O núncio do Vaticano no México, Arcebispo Franco Coppola, publicou a orientação não assinada em sua página do Facebook no domingo (1º).

Nela, o Vaticano confirmou que Francisco, argentino de nascimento, estava se referindo à sua posição em 2010 quando foi arcebispo de Buenos Aires e se opôs fortemente às medidas para permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Em vez disso, ele preferiu estender as proteções legais aos casais gays sob o que é entendido na Argentina como uma lei de união civil.

Liberais x conservadores

Os comentários do papa, tal como exibidos no filme, suscitaram elogios por parte dos liberais, mas teriam criado a necessidade de esclarecimentos urgentes por parte dos conservadores. A nota foi relatada pela primeira vez pelo biógrafo papal Austen Ivereigh. Uma fonte do Vaticano a confirmou na segunda-feira (2) e o embaixador da Santa Sé no México a publicou em sua página do Facebook. Ela diz que duas citações separadas em resposta a perguntas separadas foram emendadas para aparecerem como uma só, eliminando o contexto e as perguntas intermediárias.

O diretor do documentário, o norte-americano de origem russa Evgeny Afineevsky, disse aos repórteres que entrevistou o papa, mas os jornalistas mais tarde encontraram a filmagem em uma entrevista de 2019 com a rede Televisa do México. Algumas não foram transmitidas anteriormente. Após a estreia do documentário, o diretor recusou-se a discutir o processo de edição. 

A nota do Vaticano enviada aos embaixadores dizia que na primeira citação o papa estava se referindo ao direito dos homossexuais de serem aceitos por suas próprias famílias como filhos e irmãos. Alguns viam os comentários como homossexuais tendo o direito de formar famílias. A nota dizia que o documentário cortou comentários onde o papa expressou oposição ao casamento gay e deixou claro que ele se referia às leis de união civil, que alguns países promulgaram para regular benefícios como o cuidado com a saúde.

Uma frase onde Francisco disse "é uma incongruência falar de casamento homossexual" foi cortada.

"É claro que o Papa Francisco estava se referindo a certas disposições estatais e certamente não à doutrina da Igreja, que ele tem reafirmado inúmeras vezes ao longo dos anos", disse a nota.

A Igreja ensina que as tendências homossexuais não são pecaminosas, mas os atos homossexuais são e que os homossexuais devem ser tratados com respeito.

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