América Latina vai continuar a importar pouco aos EUA, ganhe quem ganhe a eleição, diz analista

Analista avalia a importância da América Latina para EUA caso Donald Trump seja reeleito ou seu adversário, Joe Biden, ganhe as eleições presidenciais.
Sputnik

Pedro Díaz Polanco, especialista e diretor da Escola de Administração Pública da Universidade Austral do Chile, afirmou em entrevista à Sputnik Mundo: "A América Latina não é um tema importante para ambos candidatos. Nem mesmo a América Latina esteve presente nos discursos de Trump e Biden durante o debate presidencial."

A região também não participou da agenda eleitoral, já que as menções dos candidatos foram escassas.

América Latina vai continuar a importar pouco aos EUA, ganhe quem ganhe a eleição, diz analista

Um exemplo da falta de interesse da administração Trump na América Latina se evidencia por só a ter visitado em 2018, quando esteve em Buenos Aires para a cúpula do G20. Em contraste, Barack Obama (2009-2017) fez 15 viagens a diferentes países latino-americanos e George W. Bush (2001-2009) visitou a região 18 vezes.

Díaz Polanco, doutor em Direito, Governo e Políticas Públicas com diploma de estudos avançados em Relações Internacionais, analisou que desde o governo Trump as relações com a América Latina se definiram por relações bilaterais com cada país, deixando de lado um enfoque multilateral.

"Com Biden o que poderia mudar é o tom. Seu objetivo é recuperar o posicionamento dos EUA na região ante o poderio da China. O que Biden vai buscar é se posicionar na dinâmica de poder brando, ou seja influenciar na política latino-americana. Apesar disto, a dinâmica dos EUA e América Latina, independentemente de quem chegue à Casa Branca, vai ser a mesma", refletiu.

Venezuela, Cuba e sanções

Para o especialista, o tema das sanções à Venezuela é "complexo", porque é uma dinâmica de Estado, mais que de um governo em particular.

"Tanto democratas como republicanos entendem que o que ocorre na Venezuela é uma crise democrática e, portanto, corrigir este fator é um elemento transversal aos dois partidos. É de se esperar que ambas administrações tenham um comportamento semelhante", explicou o acadêmico.

Nos últimos seis anos foram aplicadas mais 160 sanções contra funcionários e empresas venezuelanas, a maioria durante a estadia do Partido Republicano na Casa Branca.

Contudo, Biden advertiu que ao chegar na presidência vai tomar ações imediatas para retirar do governo o mandatário Nicolás Maduro.

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No caso de Cuba, a mudança na política de Washington em relação à ilha poderia variar significativamente, dependendo de quem assuma o cargo no próximo 20 de janeiro.

"É necessário lembrar que Trump acabou com as medidas de Obama, que buscavam estabelecer uma nova relação com Cuba. O potencial triunfo de Biden promoveria a dinâmica de aproximação que se iniciou com Obama. Assim, se poderia evidenciar uma importante mudança", disse Díaz Polanco.

Em 22 de outubro, o chanceler cubano Rodríguez Parrilla denunciou que, entre abril de 2019 e março de 2020, o bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba gerou perdas na ordem de US$ 5,57 bilhões (R$ 32 bilhões).

Imigração

Outro tema importante para a América Latina é a política migratória que os EUA podem passar a ter. Para Díaz Polanco este assunto também mostra que não há grandes diferenças entre republicanos e democratas, porque ambos o concebem como um tema de ordenamento interno.

"Porém, as formas poderiam ser diferentes. A administração democrata estaria focada em respeitar as normas de caráter de direito obrigatório, contra o que faz o governo Trump, que não as aceita e busca fazer o que convém aos EUA", explicou.

O analista recordou que enquanto Trump abordou o fechamento absoluto das fronteiras, representado pela construção de um muro e na negação de refúgio a milhares de pessoas da América Central, Biden falou sobre a necessidade de abrir as fronteiras com cautela, tendo em mente exceções associadas a temas humanitários.

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"Ainda assim, não se deve esquecer que Biden, como vice-presidente de Obama, validou as deportações que a administração democrata levou a cabo nos anos anteriores", expressou.

Trump ou Biden?

Por outro lado, Díaz Polanco afirmou que para a América Latina seria preferível uma vitória de Biden, já que, apesar de que não teria uma alta consideração pela região, apresentaria diferenças em relação a Trump.

Enquanto Trump o faz do poder e desprezo ao escasso posicionamento que tem América Latina, se presume que Biden se relacionaria com a região em uma lógica instrumental. Entende que uma boa relação permite não somente liderar uma oposição à Venezuela, mas também no que se refere a traçar o empoderamento da China", explicou.

Nesta linha, o analista considerou que uma potencial administração democrata implicaria uma "aproximação à América Latina".

As eleições nos EUA vão ser celebradas em 3 de novembro e o presidente eleito vai assumir o cargo em 20 de janeiro de 2021.

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