Ex-espião do Mossad 'aplaude' França por despertar do 'vírus do politicamente correto'

Na França, outro ataque violento fez três vítimas mortais na Basílica de Notre-Dame de Nice, na quinta-feira (29), após um terrorista com faca ter entrado de surpresa na igreja.
Sputnik

O prefeito da cidade, Christian Estrosi, já classificou o ataque como "ato de terror", e o país já elevou seu sistema de alerta de segurança nacional ao mais alto nível.

Segundo um ex-agente do Mossad – Agência Nacional de Inteligência de Israel, é quase impossível erradicar os ataques terroristas de "lobos solitários" que ocorrem na França, pois é extremamente difícil penetrar nas mentes de milhares de radicais em todo o país e rastreá-los.

Quando se sabe a história, nada surpreende

O ataque não foi uma surpresa para Gad Shimron, um comentarista de segurança e ex-agente do Mossad. Sendo alguém que lida com ameaças à segurança há anos, Shimron diz que a França tem uma longa história de ataques contra alvos civis e, às vezes, militares.

A história de violência terrorista na França remonta ao final do século XIX, quando anarquistas cometeram bombardeios na capital, chegando até mesmo a assassinar o presidente da Terceira República Francesa, Sadi Carnot, em 1894.

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Porém, agora o terror adquiriu outra forma: o radicalismo islâmico. As raízes do movimento têm origem no final da década de 1960, quando a França se abriu para a imigração das ex-colônias do Norte da África.

Naquela época, milhares de pessoas se mudaram para a França em busca de empregos e melhores oportunidades. Muitos conseguiram se integrar à sociedade francesa, porém, a maioria sofreu com a desigualdade e discriminação, levando as gerações mais jovens ao extremismo. Isto sem falar nas questões de crise de identidade bastante proeminentes nas massas jovens descendentes das ex-colônias ou de outros grupos étnicos.

Como combater e parar o terrorismo?

Às vezes, o extremismo surge do desejo de imitar outros radicais, ou do desejo de chamar a atenção. No entanto, independentemente do motivo, Shimron diz que é virtualmente impossível conter o fenômeno.

"O que estamos vendo atualmente é uma onda de 'ataques de lobos solitários'. É extremamente difícil combatê-los, porque mesmo as melhores agências de segurança do mundo não conseguem penetrar na mente de todos os extremistas muçulmanos na França. E esse é também o motivo de vermos mais deles acontecendo."

Levando em consideração que 10% da população francesa correspondem a muçulmanos, onde ideais radicais costumam estar dispersas em mesquitas, esportes e centros culturais por todo o país, tamanha previsão é alarmante.

Em uma tentativa de impedir a propagação do fenômeno, as autoridades francesas já começaram a reprimir mesquitas radicais e outras instituições muçulmanas que acreditam ser o centro do extremismo em questão. Contudo, Shimron duvida que essas ou outras medidas levem à vitória sobre terror.

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"As autoridades francesas não podem reagir de forma muito radical à situação e decidir fechar todas as mesquitas do país", diz ele, referindo-se ao potencial poder dos eleitores muçulmanos. "Por isso, as autoridades francesas precisam [...] investir muito na inteligência humana e eletrônica para evitar que tais atos aconteçam."

Porém, França já deu passos necessários nessa direção.

A Direção-Geral da Segurança Externa da França, cujo trabalho envolve monitorar grupos islâmicos, tem um orçamento anual de mais de US$ 830 milhões (aproximadamente R$ 4,7 bilhões), e após uma série de ataques mortais à França, em 2015, o país aumentou seu compartilhamento de inteligência com vários países europeus, bem como com Israel, em uma tentativa de detectar aqueles que ousam desafiar a segurança da nação, de acordo com a publicação do Wall Street Journal na época.

Contudo, Gan Shimron acredita que a França não pode, realmente, aprender com a experiência de Israel, que tem sido relativamente bem-sucedido em lidar com suas próprias ameaças à segurança, devido à "natureza muito diferente das circunstâncias dos dois Estados".

Em vez disso, o ex-agente do Mossad sugere que a França invista mais no rastreamento e mapeamento daqueles que podem representar um perigo potencial, olhando nos olhos do extremismo sem "enfiar a cabeça na areia".

"A França e o mundo inteiro estão acordando. Em 2015 [durante a onda de ataques terroristas], Paris foi cautelosa ao não ter classificado esses ataques como terror islâmico. Agora está mudando. O vírus do politicamente correto se foi e as pessoas não estão mais tímidas em chamar a ameaça pelo seu nome."
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