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Analista: Portugal pode melhorar clima político em torno do acordo UE-Mercosul

Ao assumir presidência rotativa do bloco europeu, Portugal poderá contribuir para reduzir obstáculos políticos que dificultam implementação do acordo entre Mercosul e União Europeia, avalia professor de relações internacionais ouvido pela Sputnik.
Sputnik

Na última segunda-feira (12), durante participação em um seminário em Lisboa, a ministra da Agricultura do Brasil, Tereza Cristina, voltou a defender o acordo firmado entre o Mercosul e a União Europeia, afirmando que o mesmo não representa riscos à preservação ambiental na América do Sul.

Tereza Cristina viajou para Portugal com o objetivo de pedir ajuda para tentar resgatar o interesse dos europeus pelo histórico acordo, colocado em suspeita por autoridades do velho continente por conta da polêmica gestão do meio ambiente no governo do presidente Jair Bolsonaro.

A visita se justifica porque Portugal assume, no próximo semestre, a presidência rotativa da União Europeia. Oficialmente, o país também é favorável à implementação do tratado. No entanto, com poderes limitados, o máximo que o governo português poderá fazer, a princípio, será pressionar os demais membros do bloco para agilizar a tramitação do acordo. 

​"O peso de Portugal em termos econômicos e financeiros dentro da União Europeia é muito reduzido. Mas a sua capacidade de negociação com Brasil e África é considerável e é levada em consideração em Bruxelas", avalia o professor de relações internacionais Jonuel Gonçalves, da Universidade Federal Fluminense e do Instituto Universitário de Lisboa. 

Em entrevista à Sputnik Brasil, o especialista destaca que Portugal ganhou certo prestígio, recentemente, com a gestão da crise desencadeada pela pandemia da COVID-19. Fora isso, é natural, segundo ele, que o país ganhe mais peso, mais poder de influência, ao assumir a presidência do bloco europeu. Entretanto, quando são assuntos considerados vitais para a Europa, a tendência é a de que a presidência da UE faça mais concessões, a fim de evitar críticas e contestações por parte de outros membros. 

"O fato é que Portugal está interessado em demonstrar que tem uma capacidade de funcionar como ponte entre a Europa, África e América do Sul — no caso, América do Sul é, sobretudo, Brasil. Mas Portugal conta com um apoio importante para a América de língua espanhola, porque a Espanha também está interessada nesse acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Quem não está interessada é a França." 

​Para Gonçalves, é muito pouco provável que Lisboa queira se indispor com parceiros de maior peso dentro da UE, como é o caso de Paris. 

"O que Portugal vai tentar fazer é melhorar o clima, para que, provavelmente, na presidência seguinte, as coisas possam avançar. Isso vai com pequenos passos, na forma como a coisa está", afirma o especialista, opinando que, para ele, os obstáculos atuais são muito mais políticos do que motivados por protecionismo comercial.

O professor se diz pouco otimista quanto à possibilidade de uma ratificação mais imediata do acordo. De momento, ele argumenta que já seria um ganho significativo se as disputas políticas que envolvem as negociações fossem superadas. 

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