'Estamos todos revoltados, preocupados e zangados': mistério de abate de cavalos na França continua

O país europeu tem sofrido uma onda de mortes de equídeos, que voltou a se intensificar em fevereiro. Segundo uma das pessoas afetadas, a gendarmaria não tem levado os casos a sério até recentemente.
Sputnik

Desde fevereiro de 2020, têm se intensificado atos de mortes de cavalos na França, uma tendência que começou pelo menos em dezembro de 2018. A Sputnik França entrevistou Pauline Sarrazin, a criadora do grupo Justiça para Nossos Cavalos (Justice pour nos chevaux) no Facebook, que reúne proprietários de equídeos que foram vítimas mortais e aqueles que querem dar sua contribuição.

O objetivo é "avisar os proprietários de cavalos, porque infelizmente isso acontece em qualquer lugar, a qualquer hora, não se trata apenas de grandes infraestruturas equestres, mas também de pessoas, como eu, que têm um cavalo como animal de estimação", diz ela.

"Um sentimento de incompreensão: por que nosso animal? Por que os cavalos em geral? Mas principalmente raiva, porque as pessoas estão atacando um animal indefeso."

Modus operandi igual

Em uma declaração de 30 de junho, referida pelo jornal Le Parisien, o Serviço Central de Inteligência Territorial (SCRT, na sigla em francês) afirma que existe "um desejo real de atentar contra os equídeos em geral, guardando uma orelha como troféu".

O SCRT acrescenta que "surgem questões sobre seus autores e suas reais intenções: superstição, fetichismo, ritual satânico, sectário ou outro". Além disso, aponta, os indivíduos que realizam estes atos sabem como manipular um cavalo.

"Os traços encontrados nas narinas sugerem o uso de um freio de nariz, um acessório que requer conhecimentos e competências no mundo equestre para manuseá-lo eficazmente", observa o SCRT.

Lucile (nome fictício), que entrou no grupo depois que uma amiga perdeu sua égua em Berny-en-Santerre, departamento de Somme, norte da França, relata à Sputnik que os membros do grupo "todos colocam questões".

"Estamos tentando descobrir o que pode acontecer. Pensamos que talvez mobilizando toda a rede equestre conseguiremos encontrar pistas." Segundo diz, "sabemos que existem casos há anos e estes não foram ouvidos pela gendarmaria. Algumas queixas foram de fato recusadas, por isso temos testemunhos de casos antigos", diz Lucile.

"Estamos todos revoltados, preocupados e zangados, porque a justiça não está sendo aplicada no momento, pelo menos em relação aos atos que são cometidos", diz ela.

Sarrazin era dona de uma égua que foi abatida em junho de 2020 perto de Dieppe, norte de França, e expressou sua indignação à Sputnik.

Pauline Sarrazin, deplora a escassa "comunicação por parte da gendarmaria", dizendo ter a "impressão de que tomam isso como uma brincadeira". No entanto, ela acredita que "agora isso é levado a sério".

Protegendo os animais

Lucile observa que alguns membros do grupo no Facebook estão discutindo a realização de patrulhas de vigilância, investimento em sistemas de vigilância por vídeo e queixas aos prefeitos.

Julien Denormandie, ministro da Agricultura e Alimentação, compartilhou no Twitter as recomendações da gendarmaria para combater a onda de violência contra cavalos, condenando os "abusos cruéis" como "intoleráveis".

Várias associações de proteção animal, assim como a Federação Equestre Francesa (FFE), anunciaram que participarão como parte civil ao lado dos que apresentaram demandas.

"Nossa determinação de lutar contra todas as formas de maus-tratos a equídeos é total", disse Serge Lecomte, presidente da organização.

"Desejamos, em linha com a Liga Francesa para a Proteção dos Cavalos, mobilizar o conjunto de atores do setor equestre na França. Apelo à vigilância de todos para pôr fim a essas atrocidades o mais rápido possível."

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