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Fabrício Queiroz reaparece, volta a assombrar o Planalto e isola Bolsonaro

Para cientista político Ricardo Ismael, a prisão de Fabrício Queiroz pode deixar a família Bolsonaro "na berlinda" e provocar afastamento de aliados.
Sputnik

A operação que levou à prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, na casa do advogado da família, trouxe preocupações com as implicações políticas que pode acarretar para o governo e para o presidente.

A prisão, numa operação que investiga a chamada "rachadinha" no gabinete de Flávio, acontece logo após a prisão de apoiadores de Bolsonaro.

Para Ricardo Ismael, cientista político e professor da PUC-Rio, "o caso Fabrício Queiroz, embora o presidente Jair Bolsonaro tenha procurado reagir com serenidade, deve causar muitas preocupações".

O professor, em conversa com Sputnik Brasil, citou dois aspectos que devem gerar tensões no seio da família presidencial.

"Como se trata de um caso anterior ao exercício do mandato do senador Flávio Bolsonaro, ele não tem foro privilegiado", explicou o especialista, acrescentando que o caso, dessa forma, não será investigado no Supremo Tribunal Federal, mas na Justiça do Rio de Janeiro.

"O presidente, é claro, deve ficar preocupado se essas investigações podem atingir o seu filho e ele sempre tem procurado pautar muitas das suas ações na tentativa de blindar os filhos", destacou Ismael.

Fabrício Queiroz reaparece, volta a assombrar o Planalto e isola Bolsonaro

O segundo fator relevante seria o fato de Fabrício Queiroz estar "escondido numa casa em Atibaia que é do advogado Frederico Wassef, advogado do próprio Flávio Bolsonaro, no caso Queiroz, e também advogado do presidente no caso Adélio Bispo".

"Então essa é uma outra questão delicada, porque há de se perguntar se o presidente tinha conhecimento de que o próprio advogado, Frederico Wassef, estava escondendo o Fabrício Queiroz", afirmou o especialista.

Ricardo Ismael alertou que, nos próximos meses, Flávio Bolsonaro enfrentará pressões durante as investigações no estado do Rio de Janeiro, pois o inquérito aponta que Fabrício Queiroz pagava algumas contas do filho do presidente.

"Existia portanto uma relação muito estreita entre os dois. A quebra de sigilo bancário mostra movimentação financeira entre eles. Isso é um aspecto que pode amparar inclusive uma denúncia do Ministério Público estadual na Justiça contra Flávio Bolsonaro e que, como esses aspectos aconteceram antes dele ser eleito senador, ele terá que responder na Justiça do Rio de Janeiro".

Em um efeito cascata, a situação pode se agravar para o filho do chefe de Estado também no Senado, se uma representação contra o senador for aberta na Comissão de Ética da casa, inclusive com possibilidade de cassação do seu mandato por quebra de decoro parlamentar.

"A gente sabe que essa é uma questão de natureza política. Dependendo do que for revelado no curso das investigações, pode ser que haja um movimento no Senado, que já existe mas pode crescer, para cassar o mandato do senador", ponderou o interlocutor da Sputnik Brasil.

O professor ressaltou que Fabrício Queiroz, até o momento, "tem tido uma postura de permanecer em silêncio, sem comprometer o senador Flávio Bolsonaro e tampouco o presidente".

No entanto, o cientista político acredita que, a medida em que as pressões crescem sobre sua esposa e as filhas, que também podem ser indiciadas, o ex-assessor possa mudar de postura e revelar fatos novos.

Fabrício Queiroz reaparece, volta a assombrar o Planalto e isola Bolsonaro

De todo modo, segundo Ismael, a prisão terá fortes repercussões, "porque Fabrício Queiroz, por muitos anos, foi muito ligado à família Bolsonaro". Para ele, também é importante considerar o aspecto político.

Enquanto no Rio de Janeiro, o principal adversário do presidente, o governador Wilson Witzel, enfrenta um pedido de impeachment e não deverá desperdiçar energias para atacar Bolsonaro, o governador de São Paulo, João Dória e demais adversários políticos, certamente "vão procurar se aproveitar do desgaste da repercussão dessa prisão e capitalizar".

No entanto, segundo o cientista político, o principal golpe contra Bolsonaro é o silêncio de seus aliados, que agora tendem a manter uma boa distância do presidente, temendo novas revelações.

"Muita gente está se colocado com cautela, sem querer se pronunciar, porque não sabe exatamente o que vai ser ainda descoberto, o que ainda vai se revelar nestas investigações. Então a tendência é que Bolsonaro seja muito pouco defendido. Até porque os parlamentares aliados no Congresso Nacional ficam receosos de aparecerem fatos novos. Então a tendência é de que a família Bolsonaro fique na berlinda, com poucas pessoas assumindo o papel de defendê-los", destacou o professor.

No momento atual, as principais ameaças a Jair Bolsonaro partem do Poder Judiciário. O STF aprovou nesta semana a continuação do inquérito das Fake News. O Tribunal Superior Eleitoral ainda avalia a questão da cassação da chapa Bolsonaro-Mourão. A isso tudo se soma a investigação que atinge o senador Flávio Bolsonaro.

"Isso muda o foco do governo e do presidente, como também pode fazer com que ele se isole mais", concluiu Ricardo Ismael.
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