As curvas de infectados pelo novo coronavírus em muitos países estão se achatando, pelo menos por enquanto. Contudo, a taxa global de mortalidade dos casos vem aumentando significativamente desde março, passando de 3,4% para 5,8% nesta semana, segundo relatos da Organização Mundial da Saúde (OMS), chegando mesmo a estar em torno de 7% em meados de abril a maio.
A tendência é contrária às expectativas anteriores de muitos especialistas de que um aumento massivo dos testes permitiria despistar a infecção em seu estado inicial, evitando a COVID-19 e dessa forma reduzindo a mortalidade, informa o site Business Insider.
Mas, aparentemente, os testes não foram aumentados ao ponto de resultar em uma trajetória significativa de queda.
Taxa de mortalidade é fenômeno mais complexo do que parece
Enquanto governos se preparam para novas ondas de infecção e estão tomando medidas graduais de desconfinamento, a questão posta de momento é: quão mortal é a COVID-19?
A resposta mais direta poderia ser obtida pela taxa de mortalidade, computando o número de óbitos confirmados por COVID-19.
Mas como os casos de coronavírus progridem semanalmente, e como os números estão em constante mudança, a taxa de mortalidade está sempre flutuando.
Alguns epidemiologistas defendem que, sendo as taxas de mortalidade tão fortemente influenciadas pelos testes e atrasos nos casos e mortes relatados, não poderão ser uma medida confiável do número de mortes pelo vírus ao longo do tempo.
Muitos países não estão testando o suficiente
Quando questionado pelo Business Insider sobre o aumento da taxa de mortalidade global, Ben Cowling, chefe do Departamento de Epidemiologia e Bioestatística da Escola de Saúde Pública da Universidade de Hong Kong, teve uma resposta simples: "Não se testa suficientemente os casos leves."
Em geral, quanto mais casos forem incluídos nos dados – incluindo pessoas com sintomas leves ou assintomáticas – menor será a taxa de mortalidade, refere o Business Insider.
Nesse sentido, as taxas de mortalidade representam a "medida de quanto se testa e quantos casos são detectados", afirmou ao Business Insider John Edmunds, professor de doenças infecciosas da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.
"Olhe para Singapura e Coreia do Sul para comparação, onde se testa muito mais", observou Cowling.
A Coreia do Sul, que já testou mais de um milhão de pessoas, ultrapassou de longe outros países na detecção precoce de casos e no rastreamento de contatos.
Enquanto os laboratórios dos EUA esperaram semanas por instruções sobre como corrigir kits de teste defeituosos em fevereiro, a Coreia do Sul já andava testando dezenas de milhares de pessoas.
A taxa de mortalidade do país atingiu nesta semana 2,3% a partir de quarta-feira (10). Singapura, que também foi elogiada por seus testes de grande alcance, teve uma taxa de mortalidade de apenas 0,1%, recorda o Business Insider.
Testes limitados em outros países, como a Suécia e os EUA, fazem com que seus casos apresentem resultados imprecisos e forçosamente baixos.
Especialistas estimam que nos EUA seja preciso multiplicar por dez a contagem oficial de casos confirmados para se obter uma estimativa precisa das reais infecções em todo o país, assinala o Business Insider.
"Não há como registrar todos os casos, embora provavelmente computemos a maioria das mortes", afirmou Edmunds.
Quando os países testam pouco, "perdem-se" muitos casos leves, levando a um aumento artificial da taxa de mortalidade. Países como os EUA e a Suécia, portanto, que têm taxas de mortalidade de 5,7% e 10,3%, respectivamente, poderiam estar inflando a taxa global de mortalidade.
Taxas de mortalidade podem parecer mais altas após pico epidêmico
As mortes relatadas são geralmente de pessoas que adoeceram há três ou quatro semanas, durante o pico epidêmico. Por isso, quando a contagem diária de casos cai, as mortes podem continuar subindo, em uma somente aparente contradição.
"A razão é que se trata de mortes resultantes de quando a epidemia estava se expandindo, ou pelo menos mais intensa do que agora", afirmou William Hanage, epidemiologista da Universidade de Harvard, em declarações ao Business Insider.
Esta disparidade entre o número de mortes e a contagem de casos pode criar taxas de mortalidade aparentemente muito altas. É o que parece ter acontecido em abril e maio.
Para se ter uma ideia mais precisa de como o vírus é mortal, Edmunds assegura que o necessário "é levar em conta os atrasos de forma adequada, dividindo as mortes de hoje pelos casos que ocorreram três a quatro semanas atrás".
Essa aritmética aponta para que o vírus tenha matado cerca de 1% das pessoas que deram positivo há quatro semanas. Mas novamente, como isso não inclui muitas pessoas que apresentam sintomas leves ou assintomáticas, a verdadeira proporção de pessoas infectadas que morrem é provavelmente muito menor, escreve o Business Insider.
Especialistas como Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos EUA, estimaram igualmente que a taxa real de mortalidade esteja mais próxima de 1%.
Um estudo de maio da Universidade de Washington sugeriu que se todas as infecções fossem conhecidas e tomadas em conta, a verdadeira taxa de mortalidade nos EUA seria de cerca de 1,3%, recorda o Business Insider.
Isso seria muito inferior ao que os índices de mortalidade atualmente apontam, mas seria ainda assim 13 vezes superior à taxa de mortalidade da gripe sazonal, conclui o artigo.