Epidemiologista japonês explica baixa taxa de mortalidade por COVID-19 na Ásia

Nos países asiáticos, a taxa de mortalidade do novo coronavírus é menor do que em outros países. Motivos podem ter a ver com características genéticas da população e imunidade adquirida.
Sputnik

A taxa de mortalidade no Japão e em outros países do Sudeste Asiático pela doença COVID-19, provocada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, é inferior do que na grande maioria dos outros países, particularmente nos países europeus.

A afirmação, dada em entrevista ao canal RBC, é do epidemiologista japonês Kentaro Iwata, professor da Universidade de Kobe e ex-assessor científico das autoridades japonesas.

Baixa mortalidade na Ásia

"Um total de cerca de 800 pessoas morreram no Japão infectadas pelo vírus, indicando uma menor taxa de mortalidade em comparação a outros países. Na Bélgica, por exemplo, há mais de 700 mortes por um milhão de habitantes", afirmou Iwata.

Em teor comparativo, a taxa de mortalidade por COVID-19 é de 6,4 no Japão por um milhão de habitantes, cinco na Coreia do Sul e três na China, enquanto na Espanha, Reino Unido e Itália ultrapassa as 500 pessoas, informa o canal em seu site.

Embora o coronavírus no Japão não tenha sido completamente derrotado e seja muito cedo para tirar conclusões definitivas, há várias hipóteses sobre o porquê da mortalidade neste e em outros países asiáticos ser menor do que na Europa, disse Iwata.

Primeiro, na sua opinião, os asiáticos podem ter características genéticas que lhes facilitem superar o coronavírus.

Segundo, os asiáticos poderiam ter adquirido imunidade ao contraírem no passado outros vírus ou de uma vacina contra tuberculose, embora alguns estudos tenham refutado a hipótese da vacina, prosseguiu Iwata.

Epidemiologista japonês explica baixa taxa de mortalidade por COVID-19 na Ásia

Finalmente, é provável que os residentes de países asiáticos sejam menos propensos à obesidade, coágulos ou hipertensão, o que reduz sua vulnerabilidade ao vírus, acrescentou o epidemiologista.

"Até agora, porém, essas são apenas hipóteses que não foram cientificamente comprovadas", alertou Iwata.

Abordagem japonesa

Devido à pandemia do coronavírus em abril, autoridades japonesas impuseram estado de emergência, e as escolas e instituições de ensino superior foram fechadas. Ao mesmo tempo, o Japão continua sendo um dos poucos países, juntamente com a Suécia, a Coreia do Sul e a Bielorrússia, que não adotaram medidas rigorosas de quarentena.

"Não aplicamos penas por desvios das medidas de quarentena, a polícia não patrulha as ruas ou prende ninguém. As autoridades centrais pediram ao país como um todo para reduzir a atividade e minimizar caminhadas, reuniões, eventos públicos e viagens, e as pessoas seguem esses conselhos, sem que ninguém as esteja forçando", explicou Kentaro Iwata.

Em 25 de maio, o premiê japonês Shinzo Abe anunciou o cancelamento do estado de emergência e congratulou Japão por ter mostrado ao mundo ser possível resistir ao vírus sem impor restrições rígidas.

"De uma maneira tipicamente japonesa, conseguimos alcançar o sucesso e realmente controlar a propagação do vírus naquele mês e meio", afirmou Abe, citado pelo RBC.

Iwata explicou a falta de restrições do Japão pela sua cultura política e atitude cautelosa em relação ao Estado.

"Não tínhamos uma base legal para impor punições severas, e em uma parte significativa de nossa história o Japão foi um sistema autoritário onde os militares tinham grande influência", disse Iwata, acrescentado que por esse fato a margem de manobra do governo para controlar a vida das pessoas ter sido sempre muito reduzida.

Epidemiologista japonês explica baixa taxa de mortalidade por COVID-19 na Ásia

Além disso, os japoneses já seguiam por opção própria regras de distanciamento social, pelo que seria descabido a tomada de medidas extremas.

Segundo Kentaro Iwata, o fato de o Japão ter conseguido superar a fase inicial da pandemia sem grandes sacrifícios é "um grande sucesso, cuja explicação exata é impossível de dar ainda".

Vale realçar que, ao contrário de muitos outros países asiáticos, o Japão não tinha experiência no combate à epidemia de SARS em 2002-2003 e de MERS em 2015, pelo que não estava preparado para a COVID-19, referiu o epidemiologista.

Contudo, Iwata destacou a rapidez com que as autoridades japonesas intervieram. Enquanto o "número de pessoas doentes for pequeno, a onda da pandemia pode ser contida, e se o foco crescer, é quase impossível fazer algo", acrescentou o especialista, observando que os europeus reagiram tarde demais à pandemia.

Ação da China e da OMS

Para Iwata, "as autoridades chinesas fizeram um bom trabalho em comparação a suas ações durante a epidemia de SARS em 2002-2003". Já no que diz respeito à OMS, o epidemiologista considera que a organização se dedica à prevenção de doenças crônicas e não está suficientemente preparada para surtos repentinos.

Os EUA culparam a China e a OMS pela lenta resposta à pandemia e por tentarem esconder as circunstâncias em torno do novo coronavírus. Na Rússia, estas alegações dos EUA foram consideradas infundadas, recordou o canal RBC.

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