Pesquisador: não há método universal para tratamento de autismo

Especialistas observam que hoje há muitos métodos de correção de transtornos do espectro do autismo de péssima qualidade, que não foram comprovados.
Sputnik

O uso destes métodos pode não só afetar os familiares da pessoa com autismo, senão também deixar ela própria sem a verdadeira ajuda necessária. O docente sênior do Centro Federal de Recursos para Organização do Acompanhamento de Crianças com Autismo da Universidade Estatal de Psicologia e Pedagogia de Moscou (UEPPM) Aleksandr Sorokin explica à Sputnik os fundamentos científicos usados pelos pesquisadores.

— Professor, o que significa autismo como diagnóstico?

Os transtornos do espectro do autismo constituem um amplo grupo de transtornos do desenvolvimento. A maioria das crianças e adultos com estes transtornos manifesta alterações em duas áreas "nucleares": transtorno de interação social e comportamentos estereotipados, repetidos.

O autismo pode ser manifestado de maneiras muito diferentes. Há entre pessoas com autismo crianças e adultos tanto com alto nível de intelecto, quanto com transtornos intelectuais, tanto aqueles que usam ativamente comunicação verbal, quanto aqueles que não falam mesmo.

O grande problema é que as causas e os mecanismos do autismo continuam pouco estudados. Entretanto a cada ano há cada vez mais casos confirmados.

—Como a comunidade profissional está lidando com este problema?

Nas condições atuais, é importante não só continuar a pesquisar o aspecto biológico destes transtornos, senão também elaborar os critérios de ajuda psicológica e pedagógica às pessoas com autismo e suas famílias. Do ponto de vista científico, o essencial é implementar o princípio de comprovação.

É difícil avaliar o resultado real de um método que já tenha sido proposto. O efeito pode ser temporário, e pode acontecer não poder se reproduzir em condições diferentes.

—O que é essencial para que uma intervenção seja correta?

O autismo tem manifestações muito diversas, também há uma enorme quantidade de métodos que pretendem ser eficientes. A primeira coisa a ser rigorosamente determinada na criação e na escolha do método é o grupo alvo.

As pessoas com autismo podem ter características de desenvolvimento muito distintas, por isso, a estratégia de acompanhamento deve ter em conta parâmetros como o nível do intelecto e da comunicação verbal, as capacidades de adaptação, a idade, o gênero, a língua nativa e uma série de outros.

Todos estes fatores são críticos para se ter um resultado positivo, porque cada um deles afeta o quadro geral de manifestações do transtorno.

—Que resultados podem visar as intervenções?

Os resultados podem ser diferentes, eles dependem do estado concreto da pessoa e das exigências do seu entorno. Podem ser métodos que visam eliminar as manifestações "nucleares" (transtorno da interação social e comunicação, comportamento estereotipado) ou intervenções que compensem uma manifestação não específica do autismo.

Por exemplo, existe demanda por métodos que reduzam a importância do tutor na atividade escolar ou que reduzam o nível de agressão infantil, quando a criança com autismo tem irmãos.

—O que é essencial para controlar a qualidade dos métodos?

Hoje em dia não existe um manual único de criação de tais métodos, como não existe um meio universal de controle da sua eficiência. Muitas organizações profissionais e sociais na área da saúde, psicologia e apoio social têm seus próprios regulamentos a este respeito, que infelizmente só tratam do espectro do autismo parcialmente.

As recomendações para descrição de intervenções e de estudo da sua eficiência, elaboradas na nossa Universidade, podem permitir que os especialistas que trabalham nesta área registrem e apresentem suas ideias em um formato que possa facilitar tanto a discussão científica como sua aplicação prática.

Acreditamos que um manual de uso de uma intervenção deva incluir não somente o protocolo detalhado das medidas, a descrição do grupo alvo e o resultado a obter, mas também dados que comprovem a eficiência do método e a justificação de seu uso com base nas pesquisas já realizadas. Como as causas do autismo não são suficientemente conhecidas, é desejável que seja indicada a posição teórica em que o autor se baseia.

Os parâmetros chave da intervenção descritos no manual devem incluir os papéis de todos os participantes, o período e a intensidade das medidas e a qualificação dos especialistas envolvidos. Seria ótimo se os objetivos e as tarefas fossem mensuráveis.

As recomendações para descrição de intervenções que elaboramos visam ajudar a coordenar os esforços da comunidade psicológica e pedagógica que está se desenvolvendo na Rússia de maneira ativa. Outro passo não menos importante é a criação de critérios para a comprovação da eficiência e justificação dos métodos novos e já usados. Este é o próximo objetivo da nossa equipe científica.

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