Crise do coronavírus mostra 'desidratação' de Bolsonaro, diz cientista político

A crise criada pela chegada da COVID-19 no Brasil tem afetado de maneira negativa o presidente Jair Bolsonaro, afirma o cientista político da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) Antônio Marcelo Jackson.
Sputnik

Em entrevista à Sputnik Brasil, o especialista relembra a avaliação de Ian Bremmer, presidente da importante consultaria de risco Eurasia Group, que classificou o mandatário brasileiro como o líder mundial "mais ineficaz" no combate ao coronavírus. 

"Ele está efetivamente perdendo capital político", afirma o professor da UFOP. "Isso fica evidente na medida em que todas as noites temos os chamados panelaços nas cidades brasileiras, nas capitais principalmente. Vamos também lembrar de um detalhe, esses panelaços acontecem em bairros de classe média e classe média alta, ou seja, exatamente aqueles grupos que apoiaram maciçamente Bolsonaro na eleição de 2018."

Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha, 35% da população avalia a atuação do presidente em relação ao surto do coronavírus como ótimo ou bom. Os que avaliam como ruim ou péssimo somam 33%, enquanto 26% dizem que a atuação é regular e outros 5% afirmaram não saber. 

Já a decisão de Bolsonaro de apertar a mão de participantes de ato contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) em Brasília no dia 15 de março é avaliada como negativa pela população. 68% dos entrevistados acreditam que o presidente agiu mal, enquanto 27% crê que ele agiu bem e 4% afirma não saber.

Além disso, 15% dos eleitores de Bolsonaro afirmaram terem se arrependido do voto no ex-capitão do Exercíto e a população avalia de maneira mais positiva a atuação do Ministério da Saúde do que a performance presidencial durante a pandemia. 

O levantamento entrevistou 1.558 pessoas por telefone celular entre o dia 18 e 20 de março.

O Ministério da Saúde informou nesta terça-feira (24) que o Brasil tem 2.201 casos confirmados de COVID-19 e a enfermidade já causou 46 mortes.

Antônio Marcelo Jackson afirma que Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, buscam atender "exclusivamente" o empresariado nacional durante a atual crise. Para ele, a Medida Provisória editada na segunda-feira (23), e que previa a suspensão do pagamento de salários para trabalhadores por até quatro meses, deixa patente o foco do Palácio do Planalto. 

Diante da pressão, Bolsonaro desistiu da MP 927.

"Se o capital político dele desidrata a olhos vistos, quando passar a crise, sinceramente, eu acho que ele não se elege para síndico de prédio", diz o professor da UFOP. 
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