Crânio de cerca de 4 milhões de anos revela novos detalhes de antepassado do ser humano (FOTOS)

Cientistas da África do Sul anunciaram uma descoberta impressionante sobre os Australopithecus, hominídeos que viveram há cerca de quatro milhões de anos.
Sputnik

O estudo foi publicado em 16 de março na revista Nature e diz respeito aos Australopithecus, um gênero de hominídeos extinto e provável ancestral dos modernos humanos, acrescentando novos dados quer para a árvore genealógica humana, quer para uma melhor compreensão de como as espécies emergem, evoluem e se extinguem.

Primeiro ancestral

O antepassado mais direto do homem continua por determinar, mas o candidato mais provável é o Australopithecus, que viveu em África entre quatro e dois milhões de anos atrás.

O seu estudo tem sido sempre dificultado pela raridade e fragmentação de seus fósseis.

Contudo, em 1994 foi descoberto na África do Sul o mais completo fóssil de um Australopithecus. Vinte anos de escavações permitiram obter 90% do seu esqueleto, tendo a idade sido estimada em 3,67 milhões de anos.

Catalogado oficialmente como Stw 573, foi rapidamente apelidado de Little Foot (Pequeno Pé) e é sobre ele que cientistas de todo o mundo têm vindo a se debruçar ao longo destes anos.

Esqueleto controverso pode ser de uma nova espécie dos antigos humanos

O estudo agora publicado na Nature, da autoria de 13 cientistas sul-africanos, analisou o crânio deste fóssil, lançando luz sobre uma parte importante da anatomia dos Australopithecus.

Os cientistas apuraram que este hominídeo podia subir e mover-se nas árvores, embora provavelmente também fosse capaz de caminhar no chão.

O estudo "nos aproxima mais de nossas origens e contribui para um retrato completo dos principais personagens da história evolutiva humana", diz Amélie Beaudet, autora principal da pesquisa, que relembra que, segundo o famoso biólogo evolucionista Stephen Jay Gould, a nossa evolução é como um "arbusto abundantemente ramificado".

Vértebra cervical do Little Foot

Os cientistas sul-africanos reproduziram virtualmente a superfície interna do crânio do hominídeo para obter informações sobre o tamanho, a forma e a organização de seu cérebro, bem como a do ouvido interno, que é parte fundamental do sistema de equilíbrio.

Little Foot chegou. A tão esperada descrição de um crânio de 3,6 milhões de anos de um hominídeo da África do Sul (e uma fascinante reaparição do Australopithecus prometheus)

Estando o crânio cheio de sedimentos, estes foram retirados fisicamente, tendo posteriormente o crânio sido digitalizado usando uma técnica chamada microtomografia.

Esta técnica forneceu imagens de alta resolução da primeira vértebra cervical do Australopithecus.

A primeira vértebra cervical do Little Foot está quase intacta e representa uma componente chave da sua biologia porque liga o crânio ao resto do esqueleto, desempenhando também um papel fundamental na forma como o sangue era fornecido ao cérebro através das artérias.

Foi assim possível saber mais como o hominídeo se movia, especificamente sua cabeça e pescoço, e o fluxo de sangue que irrigava seu cérebro.

Descobertas importantes

As principais descobertas incidiram sobre a locomoção do Little Foot, quer da forma como se movia, quer como foi evoluindo ao longo do tempo, bem como sobre seu metabolismo cerebral, indica o estudo.

Primeiro, que podia subir e mover-se nas árvores, não excluindo a possibilidade de poder ter caminhado no chão, confirmando anterior estudo sobre o seu ouvido interno, da autoria dos mesmos pesquisadores.

Em segundo lugar, comparando a anatomia da sua vértebra com a de dois outros exemplares de Australopithecus encontrados na Etiópia, os cientistas apuraram que o Little Foot está mais próximo do homem que os exemplares etíopes, que passariam a maior parte do tempo nas árvores.

Finalmente, os cientistas estabeleceram que o fluxo sanguíneo e, portanto, a utilização de glicose pelo cérebro, era menor no Little Foot que nos atuais seres humanos, podendo ser devido a um cérebro menor e a uma dieta com menos carne, ou porque outros órgãos necessitavam de mais energia.

O estudo confirma o surgimento tardio de um metabolismo cerebral semelhante ao humano, que anteriores pesquisas já tinham aventado.

Os pesquisadores terminam adiantando estarem previstos estudos suplementares sobre o esqueleto, com recurso sobretudo à paleoantropologia virtual, de maneira a obter um desenho mais preciso da árvore genealógica dos seres humanos.

Comentar