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'15 semanas para mudar o Brasil': plano de Guedes é 'consistente', afirma analista

O plano do ministro da Economia, Paulo Guedes, para fazer avançar uma ampla agenda de reformas no campo econômico em 15 semanas é "consistente", ainda que apresente desafios, de acordo com um analista ouvido pela Sputnik Brasil.
Sputnik

Na terça-feira, Guedes fez um apelo junto a movimentos da sociedade civil, como o Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem Pra Rua, para que um total de 12 propostas apresentadas ao Congresso Nacional sejam apoiadas por tais organizações.

"Temos só 15 semanas para mudar o Brasil", declarou Guedes, citado pelo jornal O Estado de S. Paulo, durante um almoço na casa do secretário especial de Desestatização do Ministério da Economia, Salim Mattar, em Brasília. No topo das prioridades estão duas reformas: a Administrativa e a Tributária.

Em entrevista à Sputnik Brasil, o professor de Relações Internacionais e pesquisador do Instituto Atlântico, Augusto Cattoni, avaliou que "objetivamente falando" a proposta do governo do presidente Jair Bolsonaro é possível, porém com ares de um grande desafio.

"Toda a vez que o Paulo Guedes fala eu me acho em acordo com o que ele diz, e evidentemente o Brasil precisa de investimentos. O que o Paulo Guedes está tentando fazer, ao meu ver, é destravar um pouco [a economia] para que investimentos sejam feitos lá onde são necessários. Quando isso acontecer eu acho que o Brasil pode deslanchar", avaliou.

O prazo estabelecido por Guedes coincide com o fim dos trabalhos legislativos do Congresso no primeiro semestre, e a perspectiva é que a política brasileira foque os seus olhares nas eleições municipais, o que inviabiliza em teoria a aprovação de matérias complexas.

Cattoni lembrou, contudo, que não é só o calendário que joga contra os planos de Guedes.

"São projetos complicados, muito complicados cada um deles em si, mas temos que manter em mente que a Reforma da Previdência passou e isso era bastante improvável que passasse no Brasil. Todos os problemas que existiam [naquela época] permanecem hoje. Ou seja, o governo não possui uma base sólida no Congresso, o presidente nem pertence a um partido político, isto é inédito e complica mais, dificulta mais a interlocução do governo com o Congresso. Mas se há um consenso de que todas essas reformas são importantes e há vontade de fazê-las, por que não?", afirmou o pesquisador.

Caminho difícil para as reformas

Declarando-se favorável à ideia de Guedes e sua equipe, o analista ouvido pela Sputnik Brasil ainda concluiu que a Reforma Tributária, que promete simplificar os tributos e enxugar a carga tributária no Brasil, tem chances maiores de ser de fato analisada e votada pelos parlamentares.

'15 semanas para mudar o Brasil': plano de Guedes é 'consistente', afirma analista

"Eu acho que a [Reforma] Tributária é muito importante. Há um consenso no Brasil de que algo deve ser feito para transformar e reformar os tributos no Brasil [...] Então esta é uma reforma que nos é muito cara e, basicamente, o que se fala agora é de querer simplificar os tributos no Brasil. Isso é muito bom e realmente a essência da nossa proposta é de se fazer uma simplificação profunda na forma de se pagar impostos no Brasil", pontuou.

Entretanto, a mais aguardada – e polêmica – é a Reforma Administrativa, que já divide opiniões, mobiliza categorias do serviço público e que gerou tensões até dentro do governo, diante da demora de Bolsonaro em assinar a proposta e permitir que ela fosse enviada ao Legislativo federal.

Cattoni disse não ter dúvidas de que essa reforma no funcionalismo público brasileiro é relevante para acabar com discrepâncias sobre salários, previdência e aposentadorias de servidores no país. Ele ainda criticou a presença de sindicatos, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), nas discussões.

"[A Reforma Administrativa] é mais complicada porque há menos consenso na sociedade que algo deva ser feito [...] Em teoria, é algo que deve ser feito e deve ser aceito, mas o funcionalismo é representado pela CUT e ela vai espernear muito quando esse tema foi debatido no Congresso. Então não vai ser fácil, mas eu acho que junto à sociedade civil há muito apoio para isso", sentenciou o pesquisador.

"E aí vem o tema do início da conversa sobre o porquê você deve conversar com os movimentos sociais, como o Vem Pra Rua e esses outros. Porque aí está deixando de lado os sindicatos, os interesses do funcionalismo e falando para a sociedade, de todo mundo que tem algo a ver com isso e que na maioria do tempo são vítimas do funcionalismo público, que é ineficiente no Brasil e muito caro", acrescentou.

O especialista ouvido pela Sputnik Brasil ainda complementou dizendo que, mesmo sem possuir um partido grande em sua base de apoio, o governo Bolsonaro pode conseguir avançar com os projetos defendidos por Guedes, desde que a ideia dos apoios e pressões de movimentos da sociedade civil funcione.

"Quando isso acontecer eu acho que o Brasil pode deslanchar, mas sempre há muita oposição a tudo aqui no Brasil, há muita picuinha, o pessoal perde muito tempo falando e não diz nada no final das contas, se perde muito tempo e as coisas não são organizadas. Acho que com a Reforma da Previdência, que foi feita no ano passado, muita coisa foi feita e me serve de exemplo para me provar errado, de que as coisas podem sim acontecer. Acho melhor a gente manter um certo otimismo do que manter uma atitude cínica de que não pode acontecer. Acho que pode acontecer sim", finalizou.
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