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Campanha de abstinência sexual: o que dizem os defensores e críticos do projeto?

O governo federal iniciou nesta semana uma controversa campanha de mídia para promover a abstinência sexual como meio de evitar gravidez na adolescência.
Sputnik

A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, em entrevista coletiva para anunciar a campanha, se defendeu das críticas que vem recebendo e afirmou que o assunto vinha sendo debatido há um ano e "não nasceu de um insight, de uma loucura de uma ministra fundamentalista".

A pedagoga e mestre em Educação Sexual, Caroline Arcari, em entrevista à Sputnik Brasil, afirmou que a campanha promovida pela ministra Damares está alinhada com a agenda conservadora do governo e manifestou preocupação com a influência religiosa do projeto.

"Entendendo que está proposta está mergulhada nessa ideia do governo que é mais conservadora, a gente tem muitos problemas em propostas que não são laicas, ou seja, misturam bastante religião, tenho bastante preocupação em relação a esse programa. Um deles é a falta de base científica [...] Então quando a gente constrói um programa que pretende atender um país tão grande quanto o Brasil, ele precisa contemplar as diversidades e precisa estar fundamentado", argumentou.

De acordo com a pedagoga, o problema do programa do governo não é a promoção da abstinência, mas o fato de que a campanha "não está pautada na realidade e não tem fundamentação científica".

​Intitulada como "Tudo Tem seu Tempo", a campanha prega a abstinência sexual na adolescência como forma de prevenir doenças e gravidez precoce, focado em duas faixas etárias: de 15 a 19 anos e abaixo de 15 anos.

O teólogo evangélico e fundador do movimento religioso "Eu Escolhi Esperar", Nelson Junior, contou à Sputnik Brasil que a campanha promovida pela ministra Damares não tem uma perspectiva de "convencimento", mas de trazer informação e abrir diálogo com uma parcela de jovens que optam pela abstinência sexual.

"O que nós percebemos é que o adolescente, ou até mesmo o jovem, que se guarda por alguma razão, seja motivação religiosa, valor pessoal, ou uma imposição da família, seja qual for a motivação por trás, a gente percebeu que esse público se sente constrangido com a decisão de se guardar", afirmou Nelson Junior.

"A gente criou o movimento para levar informação a esse público. Então a gente não tem o movimento de convencimento, mas de fortalecimento desse público. Trazer orientação, mostrar para o jovem que a abstinência é saudável, seguro, que não vai trazer nenhum transtorno psicológico, não vai trazer nenhum dano biológico", acrescentou.

A pedagoga Caroline Arcari, por sua vez, observou que as pesquisas mais recentes demonstram que a abstinência não gera o resultado esperado em termos de prevenção de gravidez indesejada.

​"As pesquisas têm mostrado que pessoas que passam por programas de educação sexual, acabam iniciando a vida sexual até três anos mais tarde do que aqueles que não tiveram", completou.

A especialista defendeu uma educação sexual que tenha "uma variedade de conteúdos e que respeite a vontade do adolescente, entenda que o exercício da sexualidade é um direito, e além da abstinência, reforce também métodos contraceptivos, prevenção de doença". "Então é um conjunto de ferramentas que o governo não está propondo e que são necessários", completou.

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