Turquia será capaz de desenvolver armas nucleares?

O presidente turco disse que seu país talvez queira obter suas próprias armas nucleares. A sociedade turca demanda por um aumento da presença internacional do país. Tornar-se uma potência nuclear seria uma forma efetiva de se aproximar dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.
Sputnik

Segundo o Ministério da Energia da Turquia, o país tem reservas provadas de urânio de, ao menos, 9 mil toneladas. Isso é suficiente para 30-50 anos de autossuficiência em energia elétrica. Além do mais, a Turquia possui mais de 380 mil toneladas de tório, salienta o especialista em assuntos da Turquia Kiril Zharov em seu artigo para o Centro Carnegie de Moscou.

Até 2018, o direito praticamente exclusivo de desenvolver os depósitos de urânio turcos pertencia à empresa norte-americana Westwater Resources e suas empresas afiliadas. Neste ano, as autoridades turcas revogaram repentinamente a licença da empresa, recuperando o controle total sobre as reservas.

No campo da tecnologia, a situação também não é ruim. Em 1958, foi inaugurado o Centro de Capacitação e Investigação Cekmece em Istambul, onde foi lançado o primeiro reator nuclear turco de 1MW. O centro se dedicava à análise de radioisótopos, assim como à produção de isótopos para a medicina e o desenvolvimento de tecnologias atômicas.

Em 2005, foi a vez de ser inaugurado em Ancara, capital do país, o centro de capacitação e investigação Saraykey, com aceleradores de elétrons e prótons. O centro também tem como objetivo a produção de isótopos para a medicina, física do plasma, fusão nuclear e a decomposição nuclear.

Turquia será capaz de desenvolver armas nucleares?

Além do mais, em 2010, o centro de investigação Nuclear ANAEM abriu as portas também em Ancara. A Universidade Técnica de Istambul tem um reator de pesquisa e desenvolvimento TRIGA. Vários aceleradores compactos foram para empresas privadas na indústria médica.

"Uma base de pesquisa tão desenvolvida converte a Turquia em um país líder em tecnologia nuclear no Oriente Médio", opina Zharov.

Do reator à bomba

Porém, tudo isso não significa que a Turquia possa converter facilmente estes avanços em poder bélico nuclear, argumenta o especialista. Segundo o seu ponto de vista, as palavras de Erdogan sobre armas nucleares se assemelham mais a um movimento retórico, parte do seu tema favorito de luta contra a injustiça mundial.

O principal obstáculo é o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), assim como outros acordos firmados pela Turquia. O país não poderá obter um átomo militar sem revisar o tratado. Uma revisão ou retirada do acordo significaria enormes obstáculos para a Turquia, explica o analista russo.

Caso decida abandonar o TNP, Ancara inevitavelmente enfrentará uma poderosa onda de sanções, pressão externa massiva e até mesmo o isolamento, não somente por parte dos Estados Unidos, mas também da Europa e de seus aliados atuais, como a Rússia.

"Nenhum dos membros do clube nuclear necessita de novos jogadores em campo", observa Zharov.

Ao mesmo tempo, a Turquia, ao contrário do Irã, não poderá suportar essa pressão durante muito tempo. O país está completamente integrado ao sistema político, econômico e logístico internacional.

Apesar de alguns duros comentários de Erdogan, a posição oficial de Ancara permanece a mesma: a Turquia é contra armas nucleares na região e não planeja criar suas próprias. Finalmente, para além de obstáculos na política interna e externa, a Turquia também está distante das armas nucleares por dificuldades técnicas. Terá que construir centrifugadores para enriquecimento de urânio, desenvolver uma base de pesquisa, capacitar especialistas e aumentar a equipe acadêmica. Há duas opções para realizar essa tarefa: de forma oculta ou sob a supervisão da OIEA.

"Desta forma, de um ponto de vista técnico e econômico, o programa nuclear requer que a Turquia faça enormes investimentos e obtenha conhecimento, porque é pouco provável que as potências nucleares queiram compartilhá-lo", conclui Zharov.

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